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8 de outubro de 2012
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00:36

PT fica pela primeira vez fora de um segundo turno em Porto Alegre

Por
Sul 21
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Villaverde não concede coletiva de imprensa e avaliação do PT será feita só no dia 16./Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Rachel Duarte

Aos microfones, o discurso dos dirigentes do PT em Porto Alegre foi de que “o partido fará um balanço do processo eleitoral, com calma, nos próximos dias”. Porém, quando perseguidos por jornalistas, as avaliações acabaram revelando diferenças internas nas explicações para a terceira derrota petista na eleição de Porto Alegre. A influência do projeto político nacional, a dissidência de militantes e simpatizantes e o mérito do adversário com a máquina pública foram as possíveis explicações.

O candidato Adão Villaverde chegou pouco antes das 19 horas no diretório municipal do PT, local escolhido para as primeiras palavras sobre o pleito após a apuração. Acompanhado das principais lideranças da campanha, entre elas as ministras Maria do Rosário (Direitos Humanos) e Tereza Campello (Desenvolvimento Social e Combate à Fome), Villa foi o único a usar o microfone e abreviou sua fala. Em primeiro lugar, ele parabenizou a eleição de José Fortunati (PDT) e a vontade do eleitor de Porto Alegre. “Reconhecemos a vitória desta candidatura, apesar de termos apresentado ideias diferentes. Mas os eleitores entenderam que o projeto dele era o melhor para a cidade. Então, meu reconhecimento ao prefeito Fortunati”, falou.

Os agradecimentos ao seu vice Coronel Arlindo Bonete (PR), às lideranças e apoiadores da campanha, bem como aos partidos aliados (PR-PV-PTC-PPL-PRTB-PTdoB), foram realizados. Villaverde fez questão de frisar que o seu projeto de governo era o reflexo das convicções do Partido dos Trabalhadores e que sua candidatura foi uma escolha de unidade. “A minha candidatura foi uma escolha do PT e dos partidos que quiseram coligar-se conosco. Apresentamos uma campanha com capacidade crítica e projetos que refletiram no percentual que fizemos nesta eleição”, disse.

Villa chegou acompanhado das ministras Maria do Rosário e Tereza Campello./Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Apesar do tom de afirmação de Villaverde sobre a ideologia petista estar preservada nas ideias e propostas apresentadas durante o processo eleitoral, o clima de derrota ficou explícito no diretório ao final da apuração. O movimento de militantes foi menor do que o normal até em dias de semana fora da eleição. Nos corredores, as conversas eram sobre a frustração de não ver mais militantes nas esquinas de Porto Alegre, carregando voluntariamente suas bandeiras, uma tradição da capital gaúcha. “Como querem ganhar eleição sem militância?”, indagou um militante para outro na porta do diretório. Um terceiro relatava que só se via militante de José Fortunati nesta eleição.

Os poucos ocupantes do diretório a partir das 17 horas eram jornalistas designados a acompanhar a avaliação do PT sobre a eleição, o que foi postergado para o dia 16 de outubro, em reunião da executiva do partido. O presidente do PT em Porto Alegre, Adeli Sell, uma das duas cadeiras perdidas pelo PT no legislativo nesta eleição, evitou comentários sobre o resultado da eleição. Por outro lado, a vereadora reeleita Sofia Cavedon falou que “não houve debate ideológico na eleição, o que acabou favorecendo o ex-petista José Fortunati. “A Manuela também representa um campo de esquerda, mas a imagem do Fortunati como ex-petista pegou. Ele tinha uma gestão de apenas dois anos, o que o deixou isento de avaliações sobre a gestão e recebeu o voto de confiança para ter continuidade”, disse.

Chapa majoritária refletiu na redução da bancada do PT 

Segundo ela, a tendência de derrota revelada nas pesquisas eleitorais durante o pleito também refletiu na redução das cadeiras do PT na Câmara de Vereadores de Porto Alegre. “Era esperada esta redução, porque os votos nos vereadores acompanham o voto da majoritária. Por outro lado, a renovação de algumas cadeiras foi boa. O bom seria se tivéssemos agregado mais e não perdido cadeira para colocar outros”, avaliou, confirmando que o momento é de dificuldades para o PT no município.

Maria do Rosário disse que parte da base do PT votou em José Fortunati./Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Adão Villaverde foi orientado a não conceder entrevista coletiva e saiu do diretório ao telefone, dificultando a abordagem da imprensa. “Tira o Villa daqui”, disse Tereza Campelo chamando o assessor de imprensa do candidato. Mas, ao ser abordado por jornalistas já na frente do diretório disse que “a luta continua”. “Eu não vivo de um processo eleitoral específico. Me dediquei a vida inteira por um projeto político e pela luta social. A luta continua para nós”, salientou.

Villaverde recebeu 76.548 votos (9,64%), número abaixo do apontado nas últimas pesquisas eleitorais e quase metade da média histórica de votação do PT em Porto Alegre. Não chegou a ser a menor votação da história petista na capital gaúcha, mas foi a primeira vez que o partido não vai para um segundo turno. Porém, o deputado federal Paulo Ferreira, um dos coordenadores da campanha de Villaverde, a escolha interna do PT que havia apresentado o nome do ex-prefeito Raul Pont não foi o fator que influenciou a eleição. “Este assunto é superado. O PT escolheu seu candidato. O que aconteceu é que, tradicionalmente uma parcela da população que votava no PT não votou nesta eleição. Isso é que vamos analisar para saber o por quê”, disse.

Para deputado Paulo Ferreira eleitor não viu a diferença nas três candidaturas aliada de Dilma./Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Segundo ele, não houve dissidência de votos do próprio PT para os demais candidatos Manuela D`Ávila (PCdoB) e José Fortunati (PDT), que também representam o projeto político nacional. “O PT não votou com Fortunati. Parte do eleitorado que tradicionalmente votava no PT não votou no PT. Isto não significa que em 2014 não votará no PT. Porque em 2010 elegeram Tarso em primeiro turno. Eleições são conjunturais. Desta vez, votaram assim”, disse.

Voto de minerva na eleição interna do PT para escolha de Villaverde como candidato em Porto Alegre, a ministra Maria do Rosário afirmou que “não houve divisão interna no PT, mas que parte da base petista votou no Fortunati”. Segundo ela, isso não foi desmerecer a candidatura do próprio PT, mas mérito da candidatura do ex-petista Fortunati. “Temos que reconhecer o desejo da população. E, do ponto de vista nacional, o prefeito José Fortunati também está na base de apoio da presidenta Dilma. Era uma disputa com três candidaturas de apoio ao projeto nacional e o bom momento do governo federal tende a dar estabilidade política às candidaturas que já estão no poder. Vamos estar ao lado do prefeito no que ele precisar.”, afirmou.

Dilma foi a vitoriosa da eleição de Porto Alegre

Rosário disse que a vitoriosa desta eleição em Porto Alegre foi a presidenta Dilma Rousseff. “Em várias cidades somos vitoriosos ou estamos em segundo turno com partidos da base de apoio de Dilma. Vamos comemorar todos os resultados desta eleição. O resultado de Porto Alegre não será visto como derrota. A presidenta Dilma agiu como estadista aqui diante das três candidaturas da sua base governista”, disse. “O PT é um partido de diálogo em todo Brasil. Esta ideia de que não somos do diálogo é um ataque de alguns setores de Porto Alegre que se constituiu. Tivemos um excelente candidatura, homem de ideias e com conteúdo, mas a decisão é do povo. Respeitamos, porque o PT sabe a luta que tem que fazer para ocupar os espaços de poder”.


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