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18 de dezembro de 2011
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05:36

Em show roqueiro, Erasmo Carlos mantém a fama de Tremendão

Por
Sul 21
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Foto: André Carvalho / Sul21
Foto: André Carvalho / Sul21

Igor Natusch

Há quem diga, se quisermos começar a resenha com um clichê, que o rock é o elixir da juventude. Claro que, como toda frase de efeito, essa sentença não vale sempre, e memórias mais críticas serão pródigas em recordar exemplos de roqueiros que foram bastante desfavorecidos com o passar das décadas. Não é, porém, o caso de Erasmo Carlos, ao menos a se julgar pelo que foi possível ver no show de sábado (17) no Teatro do Bourbon Country, oferecimento da Opus Promoções. Eis um roqueiro que envelheceu nitidamente, mas sem perder o tesão – algo explícito não apenas no novo disco, batizado com o incisivo e auto-explicativo título “Sexo”, mas também nas quase duas horas de um show bastante animado e divertido.

Após uma introdução declamada, onde Erasmo discorreu sobre a importância do sexo em sua visão de mundo, o show teve início com “Kamasutra”, uma das boas canções do seu interessante último CD. Acompanhado de uma banda muito competente e bastante roqueira em seu espírito (com direito a três guitarras atuando durante praticamente todo o show), Erasmo Carlos conseguiu fazer uma apresentação bastante intensa, até mesmo com relativo peso em momentos como “Quero Que Vá Tudo Pro Inferno”. Não faltou romantismo, mas o rock foi a tônica, em uma típica partida que já começa ganha. Alguém com tanta história será sempre amado por seus fãs, mas é importante frisar: Erasmo Carlos pode não ser mais um garoto, mas ainda sabe – e muito bem – como fazer sua plateia feliz.

Foto: André Carvalho / Sul21
Foto: André Carvalho / Sul21

Muito se fala de como o Tremendão estaria cada vez menos tremendo hoje em dia, digamos assim. Inúmeros são os relatos de desafinação, falta de fôlego, esquecimento de letras e outros problemas do tipo durante shows do cantor. Nesse sentido podemos dizer, sem nenhuma condescendência, que Erasmo Carlos superou positivamente todas as expectativas. Verdade que a voz (que nunca foi de grande rigor técnico, diga-se) fraqueja em alguns momentos, quase some em outros, e que a fidelidade de Erasmo às letras longe está de ser a ideal, repetindo trechos e trocando estrofes com frequência. Mas, aqui entre nós, e que alguns leitores não nos ouçam: ficar procurando defeitos em show de rock é coisa de gente chata. E chatice nunca, jamais combinou com rock.

Erasmo Carlos pode, portanto, estar deixando a dever no quesito técnico, mas ainda sobra em outros fatores tão ou mais importantes do que esse. Visivelmente feliz de estar em cima do palco, Erasmo ensaiou passos de dança, brincou incansavelmente com o público e conseguiu até mesmo ter ótimo desempenho em algumas músicas – como, por exemplo, “Panorama Ecológico” e na nova “Roupa Suja”, que recebeu uma interpretação visceral que surpreendeu muitos presentes. Mesmo o arriscadíssimo momento piano e voz (que costuma ser o beijo da morte para artistas de voz menos brilhante) acabou sendo vencido sem maiores percalços. Tivemos uma que outra falta de fôlego, claro, mas um medley juntando músicas como “Cavalgada”, “Eu te Amo, Eu te Amo, Eu te Amo” e “Como é Grande o Meu Amor Por Você” simplesmente não tem como dar errado.

Foto: André Carvalho / Sul21
Foto: André Carvalho / Sul21

Como era impossível, aliás, dar errado um setlist que elencava clássicos como “É Proibido Fumar”, “Sentado à Beira do Caminho”, “É Preciso Saber Viver” (cantada em uníssono pela plateia), “Mesmo Que Seja Eu” e “Minha Fama de Mau”, só para seguir o critério da memória imediata de quem vos digita. As novas músicas são todas de bom nível e não deixam o show esfriar. Para ter certeza da vitória, Erasmo fez seguidas brincadeiras com o público – uma delas no bis, fingindo que ia embora do palco para desmascarar a própria farsa com a indefectível “Pega na Mentira”. A essa altura, o publico já tinha mandado as cadeiras às favas e todos exercitavam, de pé, a máxima que diz que rock foi feito para dançar.

O show fechou com “Festa de Arromba” e uma homenagem ao amigo de fé Roberto Carlos – um sósia entrou no palco e se pôs a distribuir rosas para o público. Tudo muitíssimo divertido, podem acreditar. Não pode haver dúvida, portanto, que os fãs saíram muito contentes do Bourbon Country – e que o Tremendão segue merecendo o aumentativo, carregando com dignidade o legado de um dos grandes imperadores do rock brasileiro.

Foto: André Carvalho / Sul21
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