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25 de novembro de 2011
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19:37

Antanas Mockus dá aula de Cultura Cidadã durante debate em Porto Alegre

Por
Sul 21
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André Carvalho

Ex-prefeito de Bogotá, Antanas Mockus, faz palestra-magna na abertura do 10º Congresso Mundial Metropolis, e dá aula de Cultura Cidadã

Apesar dos debates e palestras terem se iniciado desde a quarta-feira (23), foi apenas na quinta que ocorreu a abertura oficial do 10º Congresso Mundial Metropolis – Cidades em Transição. A atividade contou com a presença de autoridades como o presidente da Metropolis, Jean-Paul Uchon, do prefeito de Porto Alegre, José Fortunati e do subsecretário geral da ONU e diretor-executivo da ONU-Habitat, Joan Clos. Entretanto, os participantes aguardavam ansiosos para a palestra-magna de Antanas Mockus.

Matemático, filósofo e ex-prefeito de Bogotá, na Colômbia, por duas gestões (de 1995 a 97 e de 2001 a 2004), Mockus ficou conhecido por suas ações políticas pouco comuns, praticadas na cidade colombiana. Dentre elas, a que ganhou maior destaque foi a que ele chamou de “Doutrina da Cultura Cidadã”. “Se trata de uma tripla relação da pessoa com as normas, onde o individuo sabe que ele esta sujeito a elas; que ele é responsável por sua aplicação perante o outro; e”, – o que Mockus considera a mais importante – “o poder reformador destas normas”. O ex-prefeito de Bogotá acredita que as regras não são estáticas, devem sempre ser atualizadas de acordo com o seu momento, e que é a partir desta tripla relação que se transforma uma sociedade e melhora as relações sociais.

Sob o título “Fontes de Amor a Cidade”, ele palestrou para um público atento, que lotou as dependências do Theatro São Pedro e apresentou ideias diferenciadas para se conduzir uma cidade, dando uma verdadeira aula de gestão aos demais prefeitos e políticos presentes.

“Hoje vivemos um período em que há um divórcio entre as leis do Estado, a moral dos indivíduos e a cultura da sociedade. É preciso encontrar a harmonia entre elas”, destacou Mockus, na abertura de sua apresentação. Segundo ele, a sociedade se move a partir destes três pilares. “A questão é: ela se move por medo ou admiração a lei? Por medo à culpa ou gratificação moral? Por medo ao rechaço ou reconhecimento social? Normalmente, a maioria das pessoas responde pelas negativas, temos que mudar esse pensamento”, completou.

Uma de suas primeiras iniciativas dentro da Política Cidadã foi à troca de guardas de trânsito por mímicos nas ruas. “Tradicionalmente, após cometer uma infração, o sujeito que vê um guarda de trânsito se sente acuado, pois sabe que será penalizado. Mas isso não significa que ele não irá cometer a infração novamente. Por outro lado, quando o motorista vê um mímico ironizando a sua ação diante dos outros, ele se sentirá constrangido e as chances dele não querer passar pela mesma situação novamente são bem grandes”.

Outro ponto importante de sua doutrina apresentado está na recuperação dos espaços públicos por parte da sociedade. Um grande conflito enfrentado nas principais cidades da America Latina, onde os governantes têm “cedido” a sua responsabilidade como gestor público, para empresas privadas administrarem. Para isso, enquanto prefeito, Antanas decretou o fim dos estacionamentos de carros nas principais vias públicas de Bogotá, transformando o espaço em ciclofaixas. “Quando um carro fica parado em uma rua, ele está ocupando um espaço que poderia ser aproveitado de outras maneiras. No momento que foi instalada as ciclofaixas, diminuíram o número de carros circulantes, consequentemente, diminuiu-se o número de roubos a automóveis. Resultado final? A qualidade de vida dos bogotanos se ampliou consideravelmente”.

O ex-prefeito explicou que no momento em que passou a aplicar a política da Cultura Cidadã em Bogotá, às ações demoraram a ser assimiladas. Mas, pouco a pouco, a sociedade passou a compreender a sua proposta. “Vivemos hoje, anos depois de eu ter sido prefeito, um processo de mudanças em Bogotá, onde a sociedade está compreendendo melhor a política da Cultura Cidadã. Se a lei diz, ‘não matarás’, a moral das pessoas compreende que elas não podem matar, e assim, toda uma cultura de violência do povo bogotano se transforma. É claro que a violência não se extinguiu, mas já diminuiu consideravelmente”, complementou Mockus.

Ao final, Antanas questionou como estavam os índices de homicídio em Porto Alegre, que foi prontamente respondido pelo público informando-o que tais dados eram os maiores dos últimos anos. Mockus lamentou, e propôs que fosse feito um minuto de silêncio por isso e explicou que se os índices tivessem diminuído, ele proporia apenas meio minuto de silêncio pelos falecidos. No outro meio minuto, cada participante diria a outro ao lado, “você também ajudou nessa diminuição”.

“Mudar o mundo é bem mais simples do que se pensa. Na verdade, se pensa de mais e se age de menos. A mudança é feita a partir de pequenas ações individuais que acabam atingindo o todo. De tão simples, as pessoas nem acreditam nela”, concluiu.


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