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2 de novembro de 2011
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09:30

Acesso à saúde é meio de segregação social em Porto Alegre

Por
Sul 21
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Porto Alegre é uma cidade "muito segregada do ponto de vista socioeconômico", o que reflete decisivamente na saúde, segundo professora da UFRGS | Foto: Reprodução

Vivian Virissimo

Porto Alegre pode ser apontada como uma cidade que segrega socialmente as pessoas do ponto de vista do acesso à saúde. Nas áreas centrais, há melhor qualidade e mais opções de atendimento, que vão rareando e se tornando mais distantes na medida em que se avança rumo à periferia. A avaliação é da professora de Medicina Social da UFRGS, Maria Inês Azambuja, que pesquisa a relação entre exclusão social e seu impacto na saúde. Ela destaca que uma urbanização sem planejamento agrava, sobretudo, as condições de saúde da população mais empobrecida e propõe a ampliação do próprio conceito de saúde.

“Não é só por causa da má distribuição dos recursos públicos que as pessoas estão mais doentes, mas porque elas não tem moradia adequada, trabalham em condições péssimas, levam mais tempo de deslocamento, comem menos. A má saúde é apenas uma das causas, temos que tratar todos os aspectos”, explica Maria Inês.

A médica defende que Porto Alegre é uma cidade segregada com base em levantamento realizado em quatro bairros portoalegrenses: Moinhos de Vento, Rubem Berta, Partenon e no conjunto de ilhas. “É uma cidade muito segregada do ponto de vista socioeconômico, o que tem implicação em todas as áreas. No centro tudo é bom, enquanto que na periferia temos 700 áreas de moradia irregular e é lá que mora a maioria. As pessoas acabam ficando isoladas, segregadas do convívio urbano e isso gera muitos problemas de saúde”, acrescenta.

A amostragem revelou que os melhores equipamentos de saúde estão concentrados na região central. “Em Porto Alegre existe um enorme concentração de saúde no centro, os hospitais e bons serviços estão todos no centro. Nas periferias o acesso à saúde é cada vez menor e de mais baixa qualidade. E este é apenas um dos indicadores de qualidade de vida que vai piorando em direção à periferia”, enfatiza a pesquisadora.

Conforme Maria Inês, todo esse panorama pode ser explicado com o início da urbanização das cidades brasileiras, um movimento que iniciou nas últimas cinco décadas. “São 50 anos de urbanização desordenada que tem como marca a desigualdade social. Essa ausência de planejamento gera um alto grau de adoecimento das pessoas, sem falar nos impactos na economia”, fala Maria Inês.

Na sua avaliação, as más condições ambientais afetam tanto a saúde quanto aspectos relativos ao estilo de vida das pessoas, como o fumo, a ausência de exercícios físicos ou uma dieta desequilibrada. “Para uma população de classe média até pode fazer sentido uma medicina focada no estilo de vida. Agora, quando se trata de uma população pobre que mora em locais sem saneamento, por exemplo, tudo é muito diferente. Quando a gente trabalha com populações muito desiguais, falar em estilo de vida é muito alienante”.

Professora Maria Inês: "Quando a gente trabalha com populações muito desiguais, falar em estilo de vida é muito alienante" | Foto: Google Images

Segundo Maria Inês, uma prova de que a população brasileira está muito adoecida pode ser percebida quando se analisa os recursos destinados para benefícios por doença no INSS. “Cerca de 50% dos gastos do INSS vão para pessoas em idade economicamente ativa que buscam atestado médico porque realmente estão incapacitadas para o trabalho ou porque não conseguem se inserir em função de sua péssima qualificação profissional”, avalia.

A professora destaca que o poder público não tem feito planejamentos voltados para reverter essa situação de segregação. “Qualquer mudança depende de decisão política e de poder econômico. Enquanto não ampliarmos a democracia e não conseguirmos nos apropriarmos dos destinos da cidade como cidadãos não teremos condição de fazer qualquer coisa”, opinou.


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