Noticias|Últimas Notícias>Política
|
4 de agosto de 2011
|
19:16

Tantas você fez que ela cansou

Por
Sul 21
[email protected]
Série de declarações de Jobim contra o governo teriam, enfim, desagradado a presidenta | Foto: Agência Brasil

Daniel Cassol

Tantas Jobim fez, que Dilma cansou. Ou, subvertendo a canção de Vinícius de Moraes: tanto que Jobim falou. Depois de uma sequência de críticas públicas do ministro da Defesa contra o governo federal e declarações controversas como chamar uma colega de ministério de “fraquinha”, a presidenta Dilma Rousseff sugeriu nesta quinta-feira (4) que Jobim peça demissão do cargo que ocupa desde 2007.

Leia mais:
– Para Nelson Jobim, Ideli é “fraquinha” e Gleisi “não conhece Brasília”

Para o lugar de Jobim, são cotados o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, e mesmo o vice-presidente Michel Temer. Dada como certa, a queda de Jobim ocorre após uma sequência de declarações na imprensa que desagradaram a presidenta, o que abriu margem para interpretações de que ele mesmo forçava sua demissão do governo. Ao Sul21, o líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira, chegou a afirmar que considerava “estranhas” as afirmações do então ministro da Defesa.

Teixeira comentava a entrevista à Folha de São Paulo, na qual Jobim revelou ter votado em seu amigo pessoal José Serra (PSDB) na eleição vencida por Dilma. Antes, no dia 30 de junho, durante uma homenagem pelos 80 anos de Fernando Henrique Cardoso, Jobim agradecera o tucano por estar no ministério do Defesa e lamentou estar cercado por “idiotas”. Chamado às falas por Dilma, Jobim disse que idiotas eram os jornalistas, e não os integrantes do governo federal.

A última de Jobim veio nesta quinta, com a divulgação do teor de uma entrevista concedida à revista Piauí. Na entrevista, Jobim diz que o governo Dilma é “atrapalhado”, que a ministra das Relações Institucionais Ideli Salvatti é “fraquinha” e que a ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann “sequer conhece Brasília”. Dilma teria ficado indignada não somente com as críticas às ministras, mas com o fato de Jobim não ter comentado nada sobre a entrevista durante uma audiência entre ambos nesta quarta.

Após a divulgação do conteúdo da entrevista, Jobim afirmou que as declarações foram tiradas do contexto. “Em momento algum, fiz referência à ela dessa natureza”, declarou, após participar da solenidade de assinatura de um plano de segurança entre Brasil e Colômbia, em Tabatinga (AM), referindo-se a Ideli Salvatti. O ministro da Defesa classificou as informações veiculadas na imprensa como “parte de um jogo de intrigas” e uma tentativa de desestabilizá-lo. “Isso faz parte daquilo que passa pela cabeça de quem não conhece a necessidade de um país”, afirmou.

Porta-voz dos militares da disputa interna do governo em torno da criação da Comissão da Verdade, para apurar as circunstâncias das mortes de mililtantes durante a ditadura, Jobim estaria abrindo fogo contra o próprio governo justamente por saber que sua demissão não seria algo tão simples. Tanto é que Dilma sugeriu o pedido de demissão, antes de tomar a decisão de defenestrar Jobim – o que, ocorrendo, permitiria ao peemedebista se dizer perseguido por um governo “atrapalhado”. Tem sempre o dia em que a casa cai.

Colaboraram Vivian Virissimo e Milton Ribeiro.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora