Nubia Silveira
“Porto Alegre chegou tardiamente, como chegou o Rio Grande do Sul, à questão do Patrimônio Histórico e Cultural”, afirma o secretário municipal da Cultura, Sergius Gonzaga. Ele recorda que, em 1970, havia uma proposta de demolir o Mercado Público e que ninguém levantou a voz contra esta possibilidade. O atraso na preservação dos bens culturais, segundo o secretário, aconteceu por causa da especulação imobiliária e também em função dos arquitetos modernistas, que defendiam a construção de prédios atuais. Nesta linha, afirma, foi construído um prédio moderno, sede do Tribunal de Justiça, em substituição ao que existia ao lado do Theatro São Pedro e que tinha as mesmas linhas arquitetônicas do teatro. A nova construção fugiu totalmente do estilo arquitetônico existente no entorno da Praça da Matriz. Outro caso lembrado por Sergius é o do Colégio Júlio de Castilhos, que também perdeu suas antigas características.
“Não havia consciência patrimonial pública”, afirma. “Os arquitetos modernistas sentiam um certo desprezo pelas construções antigas”, diz Sergius ao lembrar de outra discussão havida em Porto Alegre: “muitos queriam derrubar a Usina do Gasômetro”. O secretário, que alerta não estar falando como um técnico da área do patrimônio, acredita que este panorama começou a mudar com a criação, primeiro, do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (Comphac), em 1976, e depois com a da Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural (EPAHC) da cidade, em 1981. Em Porto Alegre, diz, ao contrário do que aconteceu nos outros grandes centros, a consciência ambiental chegou antes da patrimonial, devido à ação do ambientalista José Lutzenberger.
Sergius reconhece que não é possível “engessar tudo”, ou seja tombar todos os prédios. “Tem de ter espaço para a modernidade”. No entanto, afirma, houve um momento em que desejavam tombar todos os prédios mais antigos. Ele defende um equilíbrio. E diz que para tratar do patrimônio convidou Luiz Antônio Custódio, “o mais importante patrimonialista do Estado”, para assumir a Memória Cultural. “Minhas opiniões são de um leigo”, reforça. Aplaude a preservação do Centro Histórico e diz que a Memória Cultural está atualizando o inventário existente sobre algumas ruas da Capital gaúcha, como as dos bairros Petrópolis e Cidade Baixa, para definir as áreas a serem protegidas.
Sustentabilidade
O secretário municipal da Cultura afirma que a preservação de prédios tombados só funciona se eles forem sustentáveis. A Prefeitura não tem interesse em ficar com os prédios tombados. E trocar a área tombada por índices de construção, de acordo com Sergius, é resolver um problema e criar outro, desfigurando algumas áreas da cidade, em que são construídos imensos prédios.
“A ideia é ter sustentabilidade. Sem isso, não funciona”, afirma. Sergius, no entanto, sabe que não é fácil encontrar uma forma de dar sustentabilidade aos prédios tombados. Um caso a ser discutido é o da Confeitaria Rocco, tema da série Patrimônio Histórico da semana passada. Não há recursos públicos para cuidar do prédio, que, segundo o secretário, é um caso especial, por estar envolvido em uma disputa legal, há alguns anos. Ele revela que estão sendo feitas reuniões com os herdeiros para ver se há como adquirir o prédio. “Mas, as propostas que eles fazem são mirabolantes”, declara.