'@PostsRascunho|Noticias
|
28 de agosto de 2011
|
11:51

Porto Alegre acordou tarde para a preservação do patrimônio histórico, diz secretário

Por
Sul 21
[email protected]
Sergius Gonzaga: Porto Alegre se dedicou, primeiro, à proteção ambientall Foto: mashpedia.com.br

Nubia Silveira

“Porto Alegre chegou tardiamente, como chegou o Rio Grande do Sul, à questão do Patrimônio Histórico e Cultural”, afirma o secretário municipal da Cultura, Sergius Gonzaga. Ele recorda que, em 1970, havia uma proposta de demolir o Mercado Público e que ninguém levantou a voz contra esta possibilidade. O atraso na preservação dos bens culturais, segundo o secretário, aconteceu por causa da especulação imobiliária e também em função dos arquitetos modernistas, que defendiam a construção de prédios atuais. Nesta linha, afirma, foi construído um prédio moderno, sede do Tribunal de Justiça, em substituição ao que existia ao lado do Theatro São Pedro e que tinha as mesmas linhas arquitetônicas do teatro. A nova construção fugiu totalmente do estilo arquitetônico existente no entorno da Praça da Matriz. Outro caso lembrado por Sergius é o do Colégio Júlio de Castilhos, que também perdeu suas antigas características.

Ivo Gonçalves/Arquivo PMPA
Usina do Gasômetro correu o risco de ser destruída | Foto: Ivo Gonçalves/Arquivo PMPA

“Não havia consciência patrimonial pública”, afirma. “Os arquitetos modernistas sentiam um certo desprezo pelas construções antigas”, diz Sergius ao lembrar de outra discussão havida em Porto Alegre: “muitos queriam derrubar a Usina do Gasômetro”. O secretário, que alerta não estar falando como um técnico da área do patrimônio, acredita que este panorama começou a mudar com a criação, primeiro, do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (Comphac), em 1976, e depois com a da Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural (EPAHC) da cidade, em 1981. Em Porto Alegre, diz, ao contrário do que aconteceu nos outros grandes centros, a consciência ambiental chegou antes da patrimonial, devido à ação do ambientalista José Lutzenberger.

Preservação do Centro Histórico de Porto Alegre é aplaudida pelo secretário l Foto: navegueportoalegre.org

Sergius reconhece que não é possível “engessar tudo”, ou seja tombar todos os prédios. “Tem de ter espaço para a modernidade”. No entanto, afirma, houve um momento em que desejavam tombar todos os prédios mais antigos. Ele defende um equilíbrio. E diz que para tratar do patrimônio convidou Luiz Antônio Custódio, “o mais importante patrimonialista do Estado”, para assumir a Memória Cultural. “Minhas opiniões são de um leigo”, reforça. Aplaude a preservação do Centro Histórico e diz que a Memória Cultural está atualizando o inventário existente sobre algumas ruas da Capital gaúcha, como as dos bairros Petrópolis e Cidade Baixa, para definir as áreas a serem protegidas.

Sustentabilidade

O secretário municipal da Cultura afirma que a preservação de prédios tombados só funciona se eles forem sustentáveis. A Prefeitura não tem interesse em ficar com os prédios tombados. E trocar a área tombada por índices de construção, de acordo com Sergius, é resolver um problema e criar outro, desfigurando algumas áreas da cidade, em que são construídos imensos prédios.

Confeitaria Rocco: município negocia com os herdeiros l Foto: Ramiro Furquim/Sul21

“A ideia é ter sustentabilidade. Sem isso, não funciona”, afirma. Sergius, no entanto, sabe que não é fácil encontrar uma forma de dar sustentabilidade aos prédios tombados. Um caso a ser discutido é o da Confeitaria Rocco, tema da série Patrimônio Histórico da semana passada. Não há recursos públicos para cuidar do prédio, que, segundo o secretário, é um caso especial, por estar envolvido em uma disputa legal, há alguns anos. Ele revela que estão sendo feitas reuniões com os herdeiros para ver se há como adquirir o prédio. “Mas, as propostas que eles fazem são mirabolantes”, declara.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora