“Em algum remoto rincão do universo cintilante que se derrama em um sem-número de sistemas solares, havia uma vez um astro, onde animais inteligentes inventaram o conhecimento. Foi o minuto mais soberbo e mais mentiroso da ‘história universal’: mas também foi somente um minuto. Passados poucos fôlegos da natureza congelou-se o astro, e os animais inteligentes tiveram de morrer.”
Essa poderíssima ironia de Nietzsche, geralmente neutralizada em todo seu potencial pela associação com a humildade epistemológica (leia-se, limitação do poder de conhecer, caráter inventado do conhecimento etc.) na realidade traduz um golpe fulminante na pretensão mais perversa, delirante e característica do Ocidente: o antropocentrismo. A ironia de Nietzsche não deve ser lida como um aviso acerca da falibilidade do conhecimento, mas acerca da total e completa irrelevância da humanidade no universo.