Noticias|Últimas Notícias>Política
|
15 de outubro de 2010
|
14:00

Mulheres caem de paraquedas nas listas das eleições e somam poucos votos

Por
Sul 21
[email protected]

Felipe Prestes

A lista com os votos que cada candidato obteve nas eleições proporcionais no Rio Grande do Sul mostra que alguns deles tiveram votações quase inexplicáveis: quatro, nove, onze votos. Mas essas votações insignificantes têm, sim, um fator em comum. O Sul21 apurou que dos 50 candidatos menos votados à Assembleia Legislativa, 39 são mulheres. Entre os 50 menos votados à Câmara dos Deputados no estado, 29 são do sexo feminino. Entre os dez últimos colocados, tanto para deputado estadual quanto federal, todos são mulheres. Já entre os eleitos, a relação é inversa. Nos próximos quatro anos, o Rio Grande do Sul terá apenas uma deputada federal, numa bancada de 31 gaúchos, e oito deputadas estaduais, entre as 55 cadeiras da Assembleia.

A explicação está na necessidade de que os partidos tenham 30% de candidatas entre os concorrentes aos cargos proporcionais. Muitas dessas mulheres que ficaram nas últimas colocações aparentemente não têm participação política significativa. Nossa reportagem tentou entrar em contato com as candidatas à Assembleia que não chegaram a somar 20 votos. Algumas não são nem sequer localizadas pelos seus partidos. Por telefone, duas candidatas, que tiveram menos de 15 votos, se negaram a dar entrevista, ressabiadas com a repercussão de sua candidatura. Algumas detentoras de poucos votos são militantes, mas receberam convites de última hora para compor a lista de candidatas.

É o caso de grande parte das candidatas do PDT no estado, segundo o próprio presidente estadual da sigla, Romildo Bolzan. Ele reconhece que seu partido recrutou candidatas às pressas. “À exceção de três ou quatro candidatas, todas as outras foram chamadas de última hora”, disse. Mas garantiu que elas eram militantes do partido. “Recorremos ao seio da militância”. Bolzan afirmou ainda que o PDT apoiou no que pode as candidatas, ou seja, com poucos recursos.

Surpresa

O presidente do PDT afirma ainda que a votação de uma ou outra candidata chegou a surpreender o partido. “Sabíamos que não eram candidaturas viáveis, seriam mais para somar votos para a legenda. Algumas até surpreenderam”. Bolzan lamenta a exposição negativa que estas mulheres podem ter. “Elas mais ajudaram o partido que qualquer outra coisa”.
O presidente estadual do PT, Raul Pont, garante que o partido estimulou candidaturas femininas e ressalta que a sigla elegeu quatro deputadas estaduais, entre as 14 cadeiras conquistadas pelo PT, somando praticamente 30% de mulheres entre os petistas eleitos para a Assembleia. “Gostaríamos de ter tido ainda mais eleitas”, diz.

Pont afirma que o partido tentou viabilizar candidaturas femininas “de construção”, estimulando jovens mulheres que possam construir seu espaço. Ele cita o exemplo de uma jovem petista de Eldorado do Sul que fez cerca de 500 votos. “Ela sabia que teria dificuldades, mas topou o desafio. Vai aos poucos se credenciando para ser vereadora de sua cidade”, explica Pont. Ainda assim, o PT, como a maioria dos partidos, teve candidaturas femininas com votação ínfima, como uma candidata à Assembleia que teve apenas 11 votos. Pont afirma que é difícil ter informações sobre cada caso.

“Nossas candidatas tiveram dificuldades, como aconteceu na maioria dos partidos”, reconhece o presidente estadual do DEM, Onyx Lorenzoni. O deputado federal explica que a lei de reservas para candidatas teve uma alteração que ele considera equivocada. Até 2006, um partido podia preencher no máximo 70% do total possível com candidatos de um dos gêneros. Se o total de candidatos permitido por partido ou coligação fosse de 100, por exemplo, era possível ter 70 candidatos e uma candidata. Agora, é preciso que os dois sexos tenham no mínimo 30% das vagas do partido ou coligação. Se tiver 70 candidatos, precisará ter, necessariamente, 30 candidatas.

Cotas para quê?

“A regra teoricamente ajudava as mulheres, mas acabou trazendo este resultado ruim”, diz, sobre a participação das mulheres nas eleições. Onyx Lorenzoni relata que o DEM precisou buscar candidatas sem inserção eleitoral, despreparadas para concorrer. “Os partidos tiveram que buscar pessoas que se dispuseram a participar sem ter identidade política. Tu não tens número de mulheres com participação política suficiente”, afirma.

A solução, para o presidente estadual do DEM, não passa por cotas reservadas para as candidatas. “Tem cota para mulher na Engenharia? Tem cota para mulher na Medicina? Não. E as mulheres tomaram conta dessas profissões. Essas coisas não se resolvem por lei”.

Para o presidente do PDT, o resultado não significa que as mulheres não estejam ampliando sua participação na política. “Algumas mulheres obtiveram ótima votação, como a Juliana Brizola (PDT) e a Manuela D’Ávila (PC do B)”. Ele elogia a participação feminina. “Quando elas conseguem cargos importantes, geralmente desempenham melhor que os homens”. Para Bolzan, não são mais as mulheres com resultados expressivos porque ainda é baixa a participação das mulheres em relação a dos homens na política. “Entre 70 e 80% dos que procuram a militância política são homens”, calcula.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora