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24 de agosto de 2010
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09:00

Candidatos disputam popularidade de Lula

Por
Sul 21
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João Souza*

Em plena campanha para a escolha do sucessor do presidente Lula, os políticos que se reunirem hoje (24) diante dos monumentos da Carta Testamento de Vargas em todo o país, como anualmente fazem lideranças filiadas principalmente ao PTB e ao PDT, certamente serão levados a fazer reflexões sobre a Era Vargas e o momento vivido hoje pelo país, quando está chegando ao fim o período de governo de um presidente que se popularizou conciliando uma política econômica conservadora  e a implementação de medidas de inegável repercussão no campo social. E analisarão, inevitavelmente, um cenário em que os dois principais candidatos – Dilma Rousseff, do PT, e José Serra, do PSDB, –  discutem até na Justiça Eleitoral o direito de usar a imagem de Lula em suas respectivas campanhas eleitorais tal a popularidade do presidente, já próximo do final de seus dois mandatos.

No governo Vargas, após a revolução de 1930, a cronologia dos anos que se seguiram mostra a cara do Brasil que rompeu com a República Velha e que caminha no rumo da Nova República, com muitos avanços no campo econômico-social e recuos no campo político. Até 1930 o Brasil era o país das oligarquias, das fraudes eleitorais, como na vitória de Júlio Prestes nas eleições de março daquele ano, e da repressão aos oposicionistas (civis e militares) dos movimentos revolucionários de 1922, 1923 e 1924, que protagonizaram ações de protesto contra os desmandos da República Velha. Vitoriosa a Revolução de 30, Getúlio assume como chefe de um governo que deveria ser provisório e nessa condição fica até 1934. Nos anos seguintes, Getúlio Vargas, em busca de apoio popular, lança-se à execução de um amplo programa no campo econômico-social, beneficiando sobretudo os trabalhadores. É dessa época a lei de férias de trinta dias, a criação dos Ministérios do Trabalho e Indústria e Comércio e da Educação e Saúde, com programas já elaborados para suas respectivas áreas de atuação, a criação do salário mínimo. Vargas inicia, também, a retomada do processo de industrialização do país simultaneamente com a criação de uma ampla legislação de proteção aos trabalhadores, o que lhe assegurou a popularidade que buscava.

O metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva chega ao poder para um primeiro mandato sob certo ceticismo. Seus adversários, que não lhe reconheciam competência para governar o país, em pouco tempo tiveram que se render a um conjunto de medidas adotadas pelo novo presidente, a começar pela composição de uma equipe de governo que reuniu representantes dos partidos aliados do PT na campanha eleitoral de 2002 e a implementação de um programa de governo que começou com a continuidade da política econômica de combate à inflação com metas de crescimento.

É desse período o início da implementação de medidas que permitiram a melhoria da renda de trabalhadores que dependem do salário mínimo. Ao mesmo tempo foram criados outros programas, como o Bolsa Família, hoje no centro dos programas dos candidatos governistas e de oposição; o Programa de Desenvolvimento da Educação; programas de estímulo ao acesso de estudantes de baixa renda e do ensino público à Universidade, entre outros.

Essas medidas, ao lado de outras no campo econômico, de alcance muito mais amplo (o Brasil saiu da condição de devedor para credor do Fundo Monetário Internacional), certamente, explicam o debate que se estabelece agora sobre que tem direito a usar a popularidade de Lula na campanha. Dilma, indicada ao PT pelo presidente, não precisa dizer que tem seu apoio. José Serra, no fim de semana, depois de aparecer no horário eleitoral do PSDB em imagens com Lula, criticado pelo PT, afirmou: “Não sei por que estão se incomodando. Só dissemos que eu e Lula somos políticos experientes, é uma verdade; que nossos nomes têm história, outra verdade; e, por último, que eu tenho mais vivência do que Dilma, mais uma verdade indiscutível”. Dilma, ao analisar a estratégia de Serra de se comparar com Lula, disse acreditar que os eleitores terão capacidade de identificar os candidatos que fizeram oposição ao governo.

Por enquanto, se depender da última decisão do Tribunal Superior Eleitoral, José Serra poderá continuar usando a popularidade de Lula em sua campanha. O ministro Henrique Neves, ao mandar arquivar representações da coligação que apoia Dilma Rousseff contra o candidato do PSDB, disse que só o presidente Lula tem legitimidade para reclamar do uso indevido do seu nome.  Um nome popular não apenas no seu país. De acordo com a revista norte-americana Newsweek, em final de 2008,  Lula encontrava-se no 18º lugar das pessoas mais poderosas do mundo, ocupando a liderança na América Latina. No ano seguinte, 2009, Lula foi considerado o Homem do Ano pelos jornais Le Monde, da França e pelo espanhol El País. E, de acordo com o jornal britânico Financial Times, Lula foi uma das 50 pessoas que moldaram a década pelo seu “charme e habilidade política” e também por ser “o líder mais popular da história do país”. Neste ano, no Fórum Econômica Mundial, realizado em Davos, Suíça, Lula recebeu a premiação inédita de Estadista Global, “pela sua atuação no meio ambiente, erradicação da pobreza, redistribuição de renda e ações em outros setores com a finalidade de melhorar a condição mundial.”

* João Souza é jornalista da área política, trabalhou nos principais jornais de Porto Alegre e foi presidente do Sindicato de Jornalistas Profissionais do RS


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