Países ricos são desafio para a política externa de Dilma, diz Patriota

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Ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, em audiência pública na Câmara Federal | Crédito: Itamaraty

Rachel Duarte
Direto de Brasília

O ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, afirmou nesta quarta na Câmara dos Deputados que a presidente Dilma Rousseff tem o desafio de consolidar a relação com os países vizinhos, costurada pelo seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva, e também, manter boa relação com os países desenvolvidos. “Criamos embaixadas no Caribe, África, América Central. Precisamos ter boas relações também com EUA, Europa e Japão”, destacou.

O chanceler brasileiro foi convidado a responder uma série de apontamentos de deputados na sessão extraordinária da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara. Patriota disse que as primeiras viagens da presidente Dilma, à Argentina e ao Uruguai, já refletem “um engajamento regional do Brasil com o Mercosul e também uma sinalização para com países dos novos pólos”.

No novo pólo estão países como Estados Unidos e China, dos quais Dilma também se aproximou, segundo o ministro. “A visita à China teve resultados muito concretos em termos de acordos bilaterais para as áreas de tecnologia, economia e cooperação entre os dois países. Mas uma área que ainda não conseguimos avançar é a participação do Brasil no Conselho de Segurança da ONU. Este é um tema que não sairá da nossa agenda internacional”, afirmou.

O andamento dos acordos celebrados entre o Brasil e os Estados Unidos durante a visita de Obama ao Brasil foi um dos questionamentos feitos pelos deputados na sessão. De acordo com Patriota, há mútua intenção em discutir a dispensa de visto para cidadãos dos dois países, visto o crescimento do turismo de brasileiros nos EUA. “Os brasileiros quando vão para lá gastam muito. É interessante para os dois países. Hoje já passamos de mais de 40% para aproximadamente 5% o percentual de vistos não concedidos a brasileiros que querem viajar aos EUA”, falou. Uma reunião consular para tratar do assunto ocorrerá em 24 de agosto, e, deverá também discutir a liberação das rotas aéreas para vôos EUA-Brasil.

Reciprocidade na relação Brasil-Espanha

O ministro Antonio Patriota foi chamado à Câmara para responder, principalmente, a requisição feita pelo deputado federal Romário (PSB-RJ), sobre a ocorrência de obstáculos postos pelas autoridades espanholas de fronteira ao ingresso de brasileiros regularmente documentados na Espanha.

Deputado federal Romário (PSB-RJ), relator de requerimento na Comissão de Relações Exteriores | Crédito: Beto Oliveira/Ag. Câmara

Romário citou casos de constrangimentos, principalmente de mulheres brasileiras, nos aeroportos espanhóis. Segundo dados apresentados por ele, 1,6 mil brasileiros já foram barrados de acessar a Espanha no último período.

Patriota admitiu que o Brasil está estudando adotar os meses critérios que a Espanha para autorizar a entrada de espanhóis no território nacional. “As mesmas exigências, documentos, como confirmação de hospedagem e demonstração de extrato bancário. Mas, confiamos no diálogo que já estamos estabelecendo com a ministra das Relações Exteriores da Espanha, Trinidad Jiménez, que reconheceu que há excessos por partes das autoridades espanholas”, disse.

Conforme o ministro, o número de brasileiros barrados no país europeu passou de uma média anterior de 250 para os atuais 140 por mês. Segundo dados do Itamaraty, o total de brasileiros impedidos de entrar na Espanha vem diminuindo ano a ano. Apesar de reconhecer esta queda, em razão de providências tomadas pelos dois lados, Antonio Patriota disse que ainda há situações inaceitáveis e, portanto, o princípio da reciprocidade poderá ser aplicado.

Conflitos árabes

Na sessão, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota também defendeu a participação dos Estados Unidos nas operações militares da zona de exclusão aérea na Líbia. O chanceler lembrou que iniciativa conta com o respaldo do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), que aprovou a medida em março.

Para o governo brasileiro, a adoção de uma área de exclusão aérea pode levar ao agravamento da violência na região, tanto que se absteve de votar no Conselho da ONU, porém, a ONU entende que o objetivo da medida é proteger civis nos conflitos entre as forças aliadas do presidente líbio, Muammar Khadafi, e a oposição.

Para o chanceler, é fundamental que as intervenções militares “respeitem a Carta das Nações Unidas”, seguindo as determinações da comunidade internacional, e adotando as posições definidas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Patriota disse que o Brasil dispõe de boa interlocução com os países árabes e que aprova as manifestações dos jovens do Egito e da Tunísia, que foram as ruas clamar por democracia e novos processos políticos. “Lá não foram manifestações violentas, onde se queimaram bandeiras americanas. Eles buscavam progressos econômicos e políticos. A sociedade brasileira deve se identificar com isso plenamente”, ressaltou.

Direitos Humanos

Embaixador Antônio Patriota ( Ministro de Estado de Relações Exteriores) | Crédito: Pedro França/Ag. Câmara

O ministro Antonio Patriota teve que se defender de críticas de deputados de oposição, sobre atitudes negligentes aos direitos humanos por parte do governo brasileiro, como o citado caso da visita da prêmio Nobel, Shirin Ebadi, que não foi recebida pela presidente Dilma Rousseff. Ele disse que, a presidente não pôde, mas que as portas do Palácio do Planalto foram abertas. “É verdade que a presidente Dilma não recebeu, mas indicou o assessor diplomático Marco Aurélio Garcia para recebê-la. Ela não quis se entrevistar com ele”, falou reiterando que não houve pressão iraniana sobre Dilma para não receber a ativista.

Ele ressaltou a importância da eleição do Brasil no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, em Genebra, no qual o país será candidato à reeleição. O ministro criticou os debates do Conselho que tendem a uma polarização norte-sul. “Isso cria uma impressão de que os piores abusos ou os abusos sistemáticos acontecem nas regiões de maior pobreza. Mas, isto, historicamente, não é necessariamente assim. O acúmulo de forças militares e poder pode gerar violações dos Direitos Humanos”, falou.

Patriota também valorizou o que considera uma virtude louvável do Brasil: a passividade nas manifestações políticas e na relação diplomática com os demais países. “Em todos os pólos em que se relaciona internacionalmente, o Brasil é considerado o mais pacífico e aberto à cooperação”, falou.


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