Núbia Silveira
Duas colheres de atum em conserva, um pequeno copo de leite, meia bolacha e pedaços de pêssego em conserva a cada 48 horas. Essa é a dieta espartana com a qual sobrevivem os 33 mineiros presos a uma profundidade de 700 metros, na mina chilena de San José. Eles dividem, de forma igualitária, o alimentos que tinham estocados na mina. O presidente do Chile, Sebastián Piñera, declarou hoje (24) que os mineiros não serão resgatados a tempo de comemorar o bicentenário do país, em setembro, mas assegurou: “Eles estarão conosco no Natal e no Ano Novo”.
No primeiro contato telefônico com os mineiros, o topógrafo e chefe de turno, Luís Urzúa, de 54 anos, disse ao ministro da Mineração, Laurence Golborne, que estão todos bem, esperando pelo resgate. Os mineiros também cantaram o Hino Nacional, emocionando a todos que acompanham o trabalho para chegar até os soterrados. Urzúa quis saber dos colegas que saiam da mina, na hora em que houve o desabamento. “Saíram todos ilesos. Não há nenhuma fatalidade a lamentar”, informou Golborne.
Os mineiros – 32 chilenos e um boliviano – foram entrevistados por um médico. Disseram que estão com saúde, animados, mas alguns com muita fome e um deles com dor de estômago. Por meio dos tubos que ligam os mineiros à superfície, foram enviados soro, glicose e complementos nutricionais. Também foram enviados broncodilatadores, remédios para diabetes e hipertensão, oxigênio e álcool para que limpem o corpo. Muitos se queixam de mal-estar nos olhos, devido ao excesso de pó.
Mais magros
Quando foram localizados, os mineiros já tinham pouco alimento, mas ainda havia água em estoque. Mesmo assim eles emagreceram entre sete e 10 quilos cada um. O governo chileno decidiu não divulgar todas as imagens de que dispõe, com os mineiros mais magros, em respeito as suas famílias e para evitar que a tragédia se converta em um reality show, afirma o jornal La Tercera.
Pra sobreviver, os mineiros montaram um plano não só para a alimentação, mas também para fazer a limpeza, definir áreas por onde possam andar e fazer suas necessidades. Aproveitaram as baterias dos caros que ficaram sob o desmoronamento para ter iluminação. Golborne contou que eles tentaram fugir pelo conduto da ventilação. Não puderam porque não havia escadas. A mina, que fora fechada em 2007, depois da morte de um trabalhador, foi reaberta em 2008 justamente com o compromisso da mineradora de construir uma escada neste conduto.
As equipes de resgate se mostram otimistas, devido à capacidade de organização dos mineiros e de sua capacidade física e mental. Eles têm recebido cartas dos familiares e os psicólogos, que apoiam os familiares, aconselharam que as cartas não falem sobre nada que possa baixar o ânimos dos mineiros. Há recomendações também de que lhe sejam enviados jogos e livros, para que possam ocupar o tempo.
Os mineiros deverão ajudar as equipes da superfície quando chegar a perfuradora que será usada para abrir um buraco de 38 centímetros de diâmetro e, posteriormente, de 66, espaço maior do que os ombros de uma pessoa. Por este buraco, será baixada uma cesta, em que cabe uma pessoa. Uma grua subirá o cesto com um por um dos mineiros. Este tipo de salvamento pode levar uma semana.
Agradecimento
O presidente chileno liderou uma ação de graças no Palácio La Moneda, pela sobrevivência dos mineiros. Em frente a um alta de San Lorenzo, padroeiro dos mineiros estava 32 bandeiras do Chile e uma da Bolívia. Durante o ato ecumênico, Piñera disse que os mineiros são um “exemplo de como queremos que seja nosso país” e agradeceu a solidariedade internacional. “Meu telefone não para de tocar”, afirmou.
Com informações de El País, Espanha, e La Nación, Chile