Felipe Prestes
A medida do governo francês, de deportar cerca de 700 ciganos que vivem irregularmente no país e de destruir seus acampamentos, tem causado reações dentro e fora da França. Na vizinha Espanha, a União Romani, órgão que representa o povo cigano no país ibérico, anunciou que pretende levar o presidente Nicolas Sarkozy ao Tribunal de Justiça da União Europeia. O site da entidade também informa a realização de uma grande manifestação em Paris no dia 4 de setembro, que já conta com apoio de mais de 30 entidades francesas de defesa dos Direitos Humanos.
Também na França, país que consagrou valores como igualdade e fraternidade, religiosos católicos têm se manifestado gravemente contra a medida do governo. No Vaticano, o próprio papa Bento XVI teria feito uma crítica velada ao declarar em francês, no último domingo (22/8), a necessidade de “saber acolher as legítimas diversidades humanas”. A repercussão negativa da medida fez com que o ministro de Interior da França, Brice Hortefeuz, tenha manifestado nesta segunda-feira (23/8) a intenção de se reunir com o presidente da conferência episcopal francesa, o cardeal André Vingt-Trois.
O arcebispo Cristophe Dufour, testemunha de uma das remoções de acampamentos, considerou inaceitável a medida. Para o religioso, as deportações podem carregar discurso político que considera que há populações inferiores. O padre Arthur, da cidade de Lille, foi mais longe e pediu a Deus para que a Sarkozy tivesse um ataque cardíaco, declaração que depois retificou: “Não quero que morra, quero apenas que Deus fale a seu coração”.
No meio político francês também houve diversas reações. Para o ex-primeiro ministro Dominique de Villepin, a política de Sarkozy “mancha de vergonha” a bandeira francesa. Christine Boutin, ex-ministra, e líder do Partido Cristão-Democrata (que apoia Sarkozy), se disse alegre pela tomada de posição do pontífice e não descartou que o rompimento entre seu partido e o governo. Em uma celebração anual do Partido Socialista, o porta-voz Benoit Hamon perguntou “Qual a diferença entre Brice Hortefeux e Marine Le Pen?”. E ele mesmo respondeu: “Ela não foi condenada por racismo”.
Em junho, o ministro Hortefeux fora condenado por injúria racial, depois de fazer uma piada de mau gosto a um militante de seu partido, de origem argelina.
Com informações do El Pais (Espanha)