Nubia Silveira
Documentos oficiais divulgados nesta semana, pelo governo dos Estados Unidos, revelam as ações do governo para conseguir a libertação do funcionário norte-americano Dan Mitrione, sequestrado pelos Tupamaros, em Montevidéu, acusado de ser espião da CIA. Há 40 anos, o governo dos EUA insistiu com o governo do Uruguai para que ameaçasse de morte os prisioneiros tupamaros e seus familiares, na esperança de que Mitrione fosse, assim, resgatado. A divulgação dos documentos, depois de tantos anos, foi feita pela Nacional Security Archive (NSA), uma organização independente dedicada a esclarecer histórias oficiais.
O texto de David Brooks, publicado no jornal mexicano A Jornada e reproduzido pelo site da revista Carta Capital, informa que o governo de Richard Nixon enviou uma mensagem ao seu embaixador no Uruguai, Charles Adair, na qual recomendava que o líder tupamaro Raúl Sendic, que recém havia sido preso, fosse ameaçado de morte, bem como outros prisioneiros importantes para o Movimento de Libertação Nacional (MLN), caso Mitrione fosse assassinado. A mensagem, assinada pelo secretário de Estado William Rogers, afirmava que se a ameaça de morte aos tupamaros não tivesse sido, até aquele momento, considerada pelo governo uruguaio, o embaixador deveria sugeri-la imediatamente.
Logo após receber a mensagem, o embaixador norte-americano informou ao Departamento do Estado que a ameaça havia sido feita aos prisioneiros, advertindo-os que integrantes do Esquadrão da Morte agiriam contra os familiares dos prisioneiros, se Mitrione fosse assassinado. O funcionário norte-americano foi morto, ao não serem cumpridas as exigências dos guerrilheiros. Seu corpo foi encontrado no dia 10 de agosto de 1970.
Segundo a NSA, os documentos contêm provas de que o governo uruguaio utilizou, com o conhecimento do governo norte-americano, os esquadrões da morte, depois de Mitrione ter sido executado. O sequestro de Mitrione inspirou o filme Estado de Sítio, de Costa-Gavras, sobre o apoio dos Estados Unidos a uma ditatura que tortura e tem como assessor um norte-americano, responsável por treinar as forças de segurança em “técnicas de interrogatório”. O filme não foi exibido na cidade norte-americana de Richmond, Indiana, onde Dan Mitrione foi chefe de policia e onde até hoje vivem seus familiares.
Com informações da Carta Capital