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13 de julho de 2010
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20:37

Quando o ópio do povo fica em segundo plano

Por
Sul 21
sul21@sul21.com.br

Felipe Prestes

No último sábado (10/7) milhões (ou bilhões?) de pessoas em todo o mundo preparavam quitutes e bebidas para assistir à final da Copa do Mundo no dia seguinte, entre Espanha e Holanda. Na própria Espanha, contudo, mais de um milhão se mobilizavam por outro motivo.

Este foi o contingente aproximado de catalães que saiu às ruas de Barcelona, com bandeiras e cartazes que não eram para apoiar “La Roja”. Pediam maior autonomia da Catalunha com relação à Espanha – os mais radicais querem, inclusive, a independência.

A manifestação catalã foi motivada por uma sentença do Tribunal Constitucional (TC) da Espanha, que considerou inconstitucionais as pretensões da região de ser uma entidade nacional e linguística. Em 2006, uma reforma do Estatuto da Catalunha ampliou poderes ao Parlamento local em matérias judiciais e tributárias. O texto considerava a região uma “nação” e a afirmava a precedência do idioma catalão sobre o espanhol.

“Somos uma nação, nós decidimos”, foi o lema da passeata. Entre as faixas, cartazes e gritos de ordem, registrou-se alguns como “TC, tribunal franquista”, “A nossa sentença é a independência” e “Adeus, Espanha”.

No domingo, o  toque de bola esfuziante da seleção espanhola e o título conquistado com gol de Iniesta na prorrogação anestesiou muitos fãs de futebol em todo o planeta. Mas não comoveu o jornal “El Punt”, de Barcelona, se não pelo fato de a equipe campeã ter jogado com o “estilo do Barça”.

O periódico possivelmente foi o único diário da Espanha a não ter como principal destaque da capa de segunda-feira o título inédito para o futebol espanhol, como registrou em seu blog o jornalista Marcelo Barreto. A manchete do “El Punt” destacava que “a unidade catalã depois do 10 de julho fica nas mãos do PSC”, o Partido Socialista da Catalunha.

Abaixo, uma foto mostrava o meia catalão Xavi, do Barcelona, com a taça nas mãos, quando o normal seria registrar o capitão levantando o troféu. Mas o capitão é Iker Casillas, ícone do Real Madrid.  E a manchete referente à conquista dizia, em catalão: “L’estil de Barça guanya el mundial”.

Para o El Punt, a Copa do Mundo foi um evento não tão importante, e vencido pelo toque de bola amplamente difundido pelo FC Barcelona. E, de fato, a seleção espanhola entrou em campo para a finalíssima com seis jogadores do Barça: os zagueiros Puyol e Piqué; os meias Busquets, Xavi e Iniesta, além do atacante Pedro Rodriguez – todos formados no clube. Como se não bastasse, o atacante David Villa, um dos artilheiros do torneio, acaba de ser contratado.

O Barça é um dos símbolos da Catalunha, tanto que seu rival local é o Espanyol, um clube, digamos, mais alinhado ao poder central. A conquista inédita é um êxito de toda a Espanha, e poderia unir mais esse país tão fragmentado. Mas é uma conquista também muito marcadamente catalã. Sem dúvida a Copa do Mundo torna-se mais um tempero nessa disputa política.


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