Especial: Mesmo dividida, esquerda aposta em chegada ao segundo turno no Rio

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Campanha de Benedita mira no eleitorado evangélico, boa parte dele também insatisfeito com a gestão de Crivella (Divulgação/Facebook)

Maurício Thuswohl – Especial para o Sul21

Rio de Janeiro – Longe da prefeitura do Rio de Janeiro desde a gestão de Saturnino Braga (1986-1988), a esquerda carioca vive nestas eleições a expectativa de chegar ao segundo turno e disputar com chances reais o comando da cidade. A menos de uma semana do dia da votação, as candidatas Martha Rocha (PDT/PSB) e Benedita da Silva (PT/PCdoB) aparecem emboladas na disputa do segundo lugar com o atual prefeito, Marcelo Crivella (Republicanos), que sofre forte rejeição do eleitorado. Nesta reta final, os partidos apostam na militância e garantem que, ao menos no segundo turno, a sonhada união das esquerdas poderá acontecer como única possibilidade de derrotar o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM), que aparece em primeiro lugar nas pesquisas.

As mais recentes sondagens de opinião mostram Crivella, Martha e Benedita empatados dentro da margem de erro. Segundo o Instituto Datafolha, em pesquisa divulgada em 5 de novembro e com margem de erro de três pontos percentuais para mais e para menos, o atual prefeito aparece em segundo lugar com 15% das intenções de voto, seguido pela pedetista (13%) e pela petista (8%). A liderança, com 31%das intenções de voto, é de Paes que, segundo a simulação feita pela pesquisa, hoje bateria Crivella (53% a 25%), Martha (44% a 38%) ou Benedita (48% a 27%) no segundo turno.

Diante desse quadro, as candidaturas de esquerda adotaram estratégias distintas para tentar conquistar na última semana de campanha os votos que faltam para ultrapassar Crivella. Mais bem posicionada e com uma diferença virtual de apenas seis pontos percentuais para Paes em um eventual segundo turno, de acordo com o Datafolha, Martha Rocha tenta se mostrar como uma candidata viável para a classe média. Ela busca aquele eleitor que reprova a gestão do atual prefeito e, ao mesmo tempo, associa o candidato do DEM à “velha política” e, sobretudo, ao ex-governador Sérgio Cabral.

Embora seja conhecida dos cariocas como delegada e, mais tarde, como parlamentar e administradora pública, a candidata do PDT tem seu principal trunfo no fato de ser uma figura menos batida que os adversários. Seu índice de rejeição, de apenas 11%, é baixo quando comparado aos índices de Crivella (57%), de Paes (33%) e até mesmo de Benedita (30%).

Nas ruas e na propaganda da televisão, o objetivo da campanha do PDT é aproveitar a reta final para consolidar Martha como terceira via junto aos eleitores: “A Martha vai inaugurar uma nova era na política carioca, longe dos desmandos de quem vem governando a cidade nos últimos 30 anos”, diz Carlos Lupi, presidente nacional do PDT. Lupi já anunciou a presença do presidenciável Ciro Gomes como “conselheiro” de uma eventual gestão pedetista na prefeitura do Rio: “O Ciro ajudará a viabilizar a gestão da Martha financeira e politicamente”, diz.

Martha Rocha vai inaugurar uma nova era na política carioca, diz PDT. (Divulgação/Facebook)

Evangélicos

Já a campanha de Benedita mira no eleitorado evangélico, boa parte dele também insatisfeito com a gestão de Crivella. A candidata do PT, que se define como “evangélica de esquerda”, afirma que pretende combater “a máquina de propaganda política” da maior parte das denominações evangélicas, que hoje apoiam a reeleição do prefeito e compõem a base do bolsonarismo no Rio: “Tem que se fazer o enfrentamento político dentro da igreja, mas não usando o púlpito. A gente tem outras formas de dialogar sobre política com os irmãos e irmãs fora do púlpito da igreja”, diz.

Nestes dias que antecedem a votação, a estratégia do PT é concentrar a presença da candidata nas favelas e bairros mais pobres, onde Benedita costuma ter bom desempenho eleitoral. Outro trunfo da petista é o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que intensifica sua presença nos últimos dias de propaganda na tevê: “A campanha do PT cresceu muito e, mesmo com o boicote da mídia e o antipetismo, uma parcela significativa da população está disposta a mais uma vez votar no PT. Lula tem contribuído muito para fortalecer nossos candidatos em todo o Brasil e, especialmente, aqui no Rio com a Benedita”, diz Marco Túlio Paolino, dirigente petista da área de educação.

Voto útil

Com chances reais de ultrapassar Crivella e chegar ao segundo turno, Martha Rocha e Benedita da Silva disputam também o voto útil dentro do eleitorado de esquerda. Embora as duas candidatas, de olho em aliança futura, não se ataquem mutuamente, suas respectivas bases de campanha tentam convencer os eleitores da adversária a adequar seu voto na reta final. Nem sempre a disputa é fraterna, com os cabos eleitorais de Martha citando “a roubalheira do PT” e os cabos de Benedita lembrando que Martha foi chefe de polícia no governo Cabral e responsável por diversos episódios de repressão a manifestações políticas de esquerda.

Outra meta de PT e PDT é disputar o voto útil dos eleitores do PSOL. Segundo o Datafolha, a candidata do partido, Renata Souza, tem 3% das intenções de voto e seus eleitores podem ser o fiel da balança nesta disputa particular da esquerda por um lugar no segundo turno. Em busca desse eleitorado, Benedita pôde comemorar o manifesto lançado por artistas e intelectuais em defesa de sua candidatura e que traz a assinatura de apoiadores históricos do PT, como Chico Buarque, Emir Sader e José de Abreu, mas também de figuras públicas habitualmente associadas ao PSOL, como Wagner Moura, Teresa Cristina e Gregório Duvivier, entre outros.

Já Martha tentou negociar nos últimos dias a desistência de Eduardo Bandeira de Mello, candidato da Rede, partido que inicialmente integraria a aliança com PDT e PSB. De acordo com a pesquisa Datafolha, o ex-presidente do Flamengo aparece com 3% das intenções de voto e sua votação será concentrada na classe média. Dirigentes do PDT procuraram dirigentes da Rede, mas Bandeira de Mello, que chegou a ser cogitado como vice de Martha, acenou com apoio à pedetista apenas em um eventual segundo turno.

União fracassada

Nestas eleições, a esquerda carioca passou perto de uma união histórica em torno da chapa que traria o deputado federal Marcelo Freixo, do PSOL, como candidato a prefeito. A chapa traria Benedita da Silva, do PT, como vice e teria ainda o apoio de PDT, PSB e Rede. A sonhada unidade, no entanto, começou a ruir quando o PSOL carioca optou pela candidatura própria, fato que levou Freixo a desistir da disputa e o partido a lançar Renata Souza. Depois disso, os demais partidos também optaram pelas candidaturas fragmentadas, fato que, em uma primeira análise, parecia afastar qualquer chance de a esquerda chegar ao segundo turno.

Com as pesquisas eleitorais mostrando o contrário, fica o gosto amargo da unidade mal construída e a impressão de que Freixo poderia ter sido de fato um candidato capaz de superar Crivella e Paes. Mas, como águas passadas não movem o moinho da política, o objetivo das legendas de esquerda do Rio agora passa a ser garantir a aliança em torno daquela candidata que conseguir ultrapassar Crivella e chegar ao segundo turno. Mas, até domingo, ainda haverá muita disputa interna: “Eu acredito que nós vamos nos somar no segundo turno. Agora, para a esquerda chegar ao segundo turno é preciso que votem em mim no primeiro”, diz Benedita.


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