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11 de fevereiro de 2015
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20:15

UFPel proíbe trotes com “constrangimento, humilhação ou agressão”

Por
Sul 21
sul21@sul21.com.br
UFPel proíbe trotes com “constrangimento, humilhação ou agressão”
UFPel proíbe trotes com “constrangimento, humilhação ou agressão”
Foto: Divulgação/ UFPel
Campanha criada pela UFPel | Foto: Divulgação/ UFPel

Débora Fogliatto

Após diversas controvérsias relacionadas aos “trotes” de universidades, algumas medidas começaram a ser tomadas para que a recepção aos calouros não seja feita de forma violenta e humilhante. Nesse sentido, a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) divulgou nota em que o reitor, Mauro Augusto Burket Del Pino, veta que aconteça qualquer ação que possa ser “caracterizada como ‘trote’ e imponha constrangimento, humilhação ou agressão física, moral ou psicológica”.

O comunicado da universidade vem depois de uma lei promulgada pela Câmara de Vereadores da cidade, que proíbe o trote universitário que tenha “ofensas e constrangimentos à integridade física, moral, psicológica e exposição ridicularizada”. De acordo com a carta do reitor, a decisão foi tomada tendo em vista a grande quantidade de trotes homofóbicos, racistas, machistas e violentos.

Trotes “polêmicos” já aconteceram na UFPel. No caso mais notável, de 2013, um flyer de recepção de calouras da Engenharia de Petróleo traz uma “bixete” representada por uma cadela, que “senta, deita e late” quando “os veteranos querem”.

A universidade também lançou a campanha “Bixo merece respeito”, em que pede tolerância zero para casos de trote ofensivo à dignidade e discriminatório, incentivando o trote solidário.

Outras universidades

Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), a deliberação do Conselho Universitário que data 2001 determina que o trote deve “respeitar a vida e a dignidade de cada pessoa, sem discriminação ou preconceito; rejeitar a violência sob todas as suas formas; contribuir para o desenvolvimento da sua comunidade, com a ampla participação da mulher e o respeito pelos princípios democráticos, de modo a construir novas formas de solidariedade”, entre outros itens.

Mesmo assim, a universidade tem sido constantemente criticada por trotes violentos. Em 2013, uma “brincadeira” envolvendo uma cabeça de porco na Engenharia Civil foi amplamente divulgada. NA ocasião, a direção da faculdade afirmou que iria apoiar os trotes solidários e distribuir uma “cartilha” para instruir os alunos.

Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

No ano passado, estudantes do curso de Letras movimentaram a Ufrgs ao realizar diversas ações contra o trote machista da Engenharia Metalúrgica. À época, calouros passaram em frente ao Instituto de Letras, no Campus do Vale, cantando “Letras puteiro, mulher pra engenheiro”. O Centro de Estudantes de Letras (CEL) e o Grupo de Estudos Feministas da Letras divulgaram uma carta lembrando do histórico de trotes agressivos na universidade. “Todos os anos, nesses meses de volta às aulas, a opressão é escancarada e, na cabeça de algumas pessoas, transfigura-se em ‘brincadeira’ de integração dos calouros ao curso: o chamado trote”, observaram.

As estudantes chegaram a receber alguns membros do diretório da Engenharia para uma reunião, em que eles se desculparam pelo ocorrido e se comprometeram a confeccionar cartilhas intercurso para explicar a importância do fim dos trotes opressores, além de realizar mesa de debates sobre formas de combate ao machismo dentro da universidade. As ações dos últimos dois anos podem se refletir na recepção que será realizada quando os novos alunos chegarem à Ufrgs, no início de março.

Na Universidade de São Paulo (USP), a lista de denúncias de trotes violentos é longa. Em 2013 e 2014, repercutiram nacionalmente trotes machistas, como o que exigia que as “bixetes” lavassem carros de camiseta branca. Também foi divulgado um vídeo incentivando que estudantes ejaculassem no rosto de mulheres desconhecidas. Em 2014, após denúncias de agressão sexual a estudantes na USP, especialmente em festas, a Comissão de Direitos Humanos da universidade investigou as ações.

Já na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no curso de Direito, estudantes pintaram um calouro com tinta marrom e o amarraram a um poste, posando com uma saudação nazista ao seu lado. Uma comissão também foi instaurada internamente para discutir o caso.

Foto: Emília Silberstein/UnB Agência
Foto: Emília Silberstein/UnB Agência

CPI e ONU*

Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) foi formada em dezembro de 2014 em São Paulo para investigar a violência dentro dos Campus de universidades. Durante os depoimentos, um aluno afirmou ter sido vítima de ataques com inseticidas por se recusar a participar do trote da USP; outro conta que, na PUC de Sorocaba, foi obrigado a ingerir fezes e vômito; alunos de Medicina da USP também relataram violência, e um deles tentou cometer suicídio após o ocorrido. A comissão conclui seu trabalho no dia 15 de março.

Há cerca de uma semana, a ONU Mulheres, em conjunto com grupos de estudos de gênero e raça das universidades brasileiras, coletivos feministas e a diretoria de Mulheres da União Nacional dos Estudantes (UNE) lançou uma carta “pelo Fim do Trote violento contra Gênero e Raça”. Entre as atividades propostas para dar fim à violência estão a elaboração de uma campanha contra o trote violento e a formação de uma rede institucionalizada de apoio, com a implementação de comitês de apuração e ouvidorias.

Na recepção da calourada, no primeiro semestre letivo de 2015, serão realizadas aulas públicas sobre o trote violento e a igualdade de gênero e raça, na Faculdade Cásper Líbero, na USP (Universidade de São Paulo) e na Universidade Federal de Goiás. A ação também incentiva a denúncia de violências sofridas ou presenciadas por meio do aplicativo Clique 180, do portal Minha Voz e do mapa Chega de Fiu Fiu, a fim de tornar públicos os casos de violência e fornecer informações como serviços públicos de assistência policial, jurídica e psicológica pós-violência ou de prevenção.

*Com informações da ONU Brasil


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