Caio Venâncio
Apesar da distância de milhares de quilômetros, o conflito entre israelenses e palestinos na Faixa de Gaza, no Oriente Médio, reverbera também no Rio Grande do Sul. Depois de atos convocados pela Federação Árabe-Palestina do Brasil (Fepal) reunirem centenas de pessoas no centro de Porto Alegre, nesta sexta-feira (1°) à noite será a vez da Federação Israelita do Rio Grande do Sul (Firs) lançar numa sinagoga um manifesto sobre “a crise envolvendo Israel e Hamas e seus reflexos na comunidade internacional”.
Na convocação, há convite para que a comunidade se reúna em suas sinagogas para a celebração do Kabalat Shabat (cerimônia do dia de descanso semanal no judaísmo), às 19h30. “Na ocasião será lido um manifesto da Federação Israelita do RS sobre a crise envolvendo Israel e Hamas e seus reflexos na comunidade internacional”, informa o comunicado.
Membros da comunidade judaica em solo gaúcho admitem que o conflito é desigual, defendem a criação do Estado Palestino na região, mas afirmam que é necessário garantir o direito de defesa de Israel. Em âmbito local, pregam a convivência pacífica e o diálogo que sempre pautou a relação entre estes grupos no Brasil.
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Presidente da Firs, Mario Cardoni lamenta a existência de qualquer conflito. Para ele, inclusive, o destino dos dois povos deve ser muito próximo. No entanto, quando um grupo como o Hamas, que ele designa como “terrorista”, assume o controle da Faixa de Gaza de forma autoritária e defende o fim do estado de Israel, um “obstáculo intransponível” à paz estaria criado.
“Quem quer paz não fica atirando bombas que só não matam ninguém porque são interceptadas. É claro, qualquer pessoa intelectualmente honesta percebe que é um conflito desproporcional, que Israel tem mais poder”, ponderou. Então o que acontece em Gaza se trataria de um genocídio, como afirmam os simpatizantes da causa palestina? “Não podemos falar em genocídio”, responde. Para Cardoni, “em função da conduta do Hamas, o estado de Israel foi obrigado a agir. Imagina se algum país vizinho nosso lançasse bombas contra nosso território e o governo não fizesse nada?”, questionou Cardoni.
Escudos
Para o presidente da entidade, a milícia que defende os palestinos possui táticas avançadas para conquistar a simpatia internacional. “Esse método de usar civis como escudo humano é uma forma de sensibilizar a todos quando as imagens destas pessoas mortas correr o mundo”, apontou.
Diante das reivindicações para que o Brasil suspenda parcerias comerciais com Israel, como no caso da empresa Elbit, que tem convênio com universidades gaúchas e governo do estado e desenvolve tecnologia bélica, Cardoni enxerga uma perseguição. “Por que só com Israel? Existem parcerias com empresas de outros países que desenvolvem tecnologia para guerra e ninguém fala nada”, indignou-se.
Embora o tema divida opiniões, o médico Cardoni acredita que é importante manter a harmonia entre as comunidades árabe-palestina e israelense no Brasil. “Nós queremos que o Estado Palestino saia do papel. Mais do que isso, acredito que não podemos importar conflitos que nunca existiram por aqui. O preconceito, venha ele de qualquer lado, não é apropriado”, resumiu.
Publicitário envolvido com os Diálogos pela Paz do Fórum Social Mundial (FSM) e membro da comunidade judaica, Beto Turquenitch, que se coloca contra a existência de um muro para separar israelenses e palestinos, pensa que atualmente não é possível condenar Israel por se defender. Para ele, o país atualmente governado por Benjamim Netanyahu sofre nas mãos dos governantes posicionados à direita, que teriam menos disposição ao diálogo com os palestinos.
Palestina
Entidades que compõem o Comitê Gaúcho de Solidariedade aos Povos Árabes, como sociedades árabe-palestinas, centrais sindicais e partidos de esquerda, lançaram um manifesto sobre o tema.
No texto, indicam que a situação vivida na Faixa de Gaza seria fruto de uma política imperialista dos Estados Unidos que teria como objetivo expandir sua influência econômica no Oriente Médio.
O grupo reivindica: “Imediato cessar fogo e retirada das tropas de Israel do Líbano e da Palestina; Retirada do Embaixador brasileiro de Israel; Não aos tratados de livre comércio do Brasil com Israel”.
A reportagem tentou entrar em contato com representantes da Fepal, mas até a publicação desta matéria não obteve retorno.