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21 de janeiro de 2018
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15:34

Mulheres disponibilizam manual sobre ginecologia natural gratuito

Por
Annie Castro
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Mulheres disponibilizam manual sobre ginecologia natural gratuito
Mulheres disponibilizam manual sobre ginecologia natural gratuito
Ilustração de Luma Flôres integra o Manual de Ginecologia Natural e Autônoma.

“(…) Sabemos que nossa sina é sangrar / E isso não nos mata / Somos mulheres lua vermelha / E nos reinventamos a cada mês / No jorrar de nosso rubro sangue”. Esse trecho integra um poema presente no Manual de Ginecologia Natural e Autônoma, lançado no último domingo (14), e que se espalhou nas redes sociais na última semana, compartilhado por mulheres em páginas, perfis pessoais ou pelo WhatsApp. Ao longo de 55 páginas o manual explica anatomia, ciclo menstrual, alimentação, plantas medicinais, sexualidade e tudo que envolve o viver feminino.

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Criado colaborativamente por Laís Souza, Jaqueline de Almeida, Luma Flôres e Máira Coelho, o manual tem uma versão virtual disponível para download. Logo nas primeiras páginas as autoras avisam que “mulheres que não menstruam, mulheres trans, mulheres que usam anticoncepcional, e até mesmo homens” também podem utilizar o conteúdo.

Dividido em 17 capítulos e contendo diversas ilustrações, o manual busca possibilitar às mulheres um cuidado pessoal natural, desenvolvendo também um conhecimento maior sobre seus corpos. Para isso, ele explica a relação entre os ciclos da natureza – lunar, a mudança de estações, entre outros – e o ciclo menstrual feminino. O manual, que fala sobre autoconhecimento e autonomia, também retoma práticas ancestrais femininas, como uso de plantas medicinais para cuidados com o corpo. “Compreender a natureza feminina como sagrada é, portanto, resgatar nossa própria história. Aqui tentamos resgatar algumas práticas que nos religuem com a sabedoria dessas mulheres que, com certeza, aprenderam com suas antepassadas. E assim, aprendendo e ensinando, mantemos vivo esse conhecimento e nossa vida livre, nossa vida mulher”, afirma o texto.

A ideia de criar o manual surgiu em 2016, durante uma oficina de ginecologia autônoma da qual as idealizadoras do projeto estavam participando, em Salvador, na Bahia. A relações públicas e terapeuta holística Jaqueline de Almeida, 33 anos, lembra que Laís Souza, mostrou a elas uma agenda artesanal que utilizava para acompanhar seu ciclo menstrual. Todas ficaram encantadas com a ideia e logo resolveram transformá-la em uma cartilha que seria compartilhada gratuitamente com outras mulheres. Cada uma das criadoras desenvolveu uma função na construção do manual, de acordo com seus conhecimentos, vivências e pesquisas.

Segundo elas, durante a produção percebeu-se a necessidade de acrescentar mais informações sobre tópicos como auto-exame, utilização de plantas medicinais e coletor menstrual, por exemplo. Assim, após um ano de trabalho, o que inicialmente funcionaria como uma agenda acabou se tornando um manual que explica a ginecologia natural e autônoma. Para as autoras, o manual tem como propósito levar esses temas para diversas mulheres, principalmente as que vivem fora dos centros urbanos e normalmente não consomem esse tipo de conteúdo.

Desde que foi lançada, a cartilha tem feito sucesso nas redes sociais. O conteúdo está sendo divulgado e compartilhado em diversos canais, como em páginas do Facebook que tratam de temas como feminismo, cuidados naturais com o corpo, entre outros; em grupos de mulheres no WhatsApp e também no Twitter, onde muitas usuárias utilizaram a rede para elogiar o manual.

A repercussão foi uma surpresa para as criadoras: “Não havíamos nos dado conta da sua potência e possibilidade de alcance. Somos uma geração de mulheres que tiveram uma infância e adolescência com informações superficiais, criminalizadoras e vagas sobre a menstruação. Toda a relação com sangue e outros líquidos do corpo feminino tem muitos tabus por trás”. Um dos planos futuros para o projeto é fazer com que ele chegue também às mulheres que não possuem acesso à internet ou que vivem em comunidades, como assentamentos e quilombos.


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