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1 de agosto de 2015
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11:05

Para que defender a CEEE? (por Luciano Pires e Augusto Von Muhlen)

Por
Sul 21
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Por Luciano Pires e Augusto Von Muhlen

Há pouco tempo fui questionado se havia argumentos plausíveis para defender a CEEE pública. Sinceramente, fiquei feliz em ser desafiado e, com muito prazer, aceitei este desafio.

Objetivamente, sem levantar o início da sua criação, devemos compreender a ação de um senhor chamado Leonel de Moura Brizola que em uma atitude corajosa, retirou das mãos privadas estrangeiras o setor energético, passando esta riqueza para as mãos do povo gaúcho. É a chamada estatização das empresas estrangeiras. Na época a empresa BOND and SHARE (americana) estava com a sua concessão vencida e não se dispunha a realizar novos investimentos, ao menos que o governo aceitasse as suas exigências de liberação das tarifas e concessão para mais 35 anos. Faltava energia para as indústrias e para a cidade de Porto Alegre.

Ou seja, gauchada, aqui neste solo gaúcho a energia elétrica já foi privada. Esta história que privatizar é uma solução moderna é a maior falácia!

O “velhinho” já sabia das coisas e, por isso, lutou contra os “interésses” dos grandes empresários e grupos que, logo após, lhe dariam o troco…. ou seja, BRIZOLA não conseguiu se eleger Presidente da República! Que pena! Este político tinha um ideal…. lutar pelo povo….. construiu o Rio Grande do Sul (pesquise isso!!! vale a pena!!!), se fez isso pelo Rio Grande do Sul…. O que não faria no Brasil? Gostaria de ver!

Bem! Seguindo! Após a estatização, houve a triplicação da produção de eletricidade no estado, acabando com os racionamentos de energia.

Sabemos que o mais dispendioso para o Estado é justamente proporcionar a infraestrutura necessária para atender as mais variadas necessidades da população. Um exemplo de trabalho de infraestrutura no qual menciono, são as linhas de transmissão, que percorrem o nosso solo gaúcho de ponta a ponta.

Quem não subiu a serra gaúcha pela estrada “rota romântica”, e, olhando pela janela do seu carro, não se perguntou: Como conseguiram fazer a construção destas torres? Como chegaram em um lugar de tão difícil acesso? Pois é… todo este esforço de montagem e gasto de materiais e equipamentos foram realizados com o dinheiro público. Este é o mesmo ativo que a empresa privada quer se apoderar para ganhar dinheiro. Assim fica fácil obter grandes lucros. Não é mesmo?

Isso sem falar na quantidade de postes implantados em toda a parte do RS. Você tem ideia desta quantidade? E a quantidade de quilômetros de condutores espalhados por este rincão afora? As usinas hidrelétricas e termolétricas que hoje o Rio Grande do Sul é dono através da CEEE? A propósito, temos ideia da estrutura feita e dispendiosa de uma hidrelétrica? Você já viu uma de perto? Pois é…. tudo isso é nosso, é do povo gaúcho, administrado pelo o Grupo CEEE.

Toda esta estrutura que forma o Grupo CEEE, você acredita mesmo que não gera lucro? Hoje, parte da mídia lança a ideia de que o Estado RS repassa verba pública para manter o Grupo CEEE. Em verdade, é justamente ao contrário, a CEEE injeta dinheiro no chamado caixa único do estado (decreto nº 33.959/91).

Hoje se esta empresa tem dívidas, é porque o Estado, na forma de alguns gestores (políticos), extraíram muito mais recursos do que deveriam.

Ademais, se as empresas RGE e a AES SUL obtem lucro, por que a pobre CEEE, que gera, transmite e distribui energia, não daria? Logicamente dá lucro!!!!!

O fato real é que CEEE é uma potência no presente e no futuro próximo, pois ela possui toda estrutura pronta de 1,2Km de rede de fibra óptica para interligar todo o estado do Rio Grande do Sul. É a chamada infovia- ou (via da informação), a qual potencializa outra empresa dentro do Grupo CEEE, a chamada CEEE Com.

E tem mais!!!! A CEEE pode ser o caminho de comercialização de energia elétrica do Brasil para o Mercosul. Hoje já existe toda estrutura montada, com linhas de transmissão e subestação conversora de grande porte, instalada no município de Garruchos, o qual faz divisa com a Argentina. Inclusive o Brasil já exportou e exporta energia elétrica para este país vizinho,porém, pouquíssimos gaúchos sabem disto.

Será que a CEEE não pode ser o caminho para o Brasil atender o Mercosul? Aliás, na Argentina, o seu governo ameaçou em dezembro de 2013, nacionalizar as principais distribuidoras de energia elétrica do país, levando-nos a refletir na seguinte questão: Qual país não queria ter uma empresa como a CEEE, salvo a proporção, uma Petrobras?

A CEEE por anos subsidiou a tarifa de energia elétrica aqui no estado sofrendo um desgaste financeiro gigantesto. Você imagina uma empresa de economia mista que visa lucro como a CEEE, tendo que subsidiar energia elétrica? Isto foi feito para combater a inflação desencadeada nos inícios dos anos 80. Ou seja, além da empresa ser impedida de obter lucro, ela foi obrigada a injetar recursos seus, criando dívidas como isso.

Somente depois da entrada da Lei 8.631/93- chamada de “ O FIM DO NIVELAMENTO TARIFÁRIO”, libertam-se as concessionárias de energia elétrica, respeitando-as em suas características e atuações em seus estados.
Em sequência, após 93, a CEEE começa a sua luta para se recuperar dos prejuízos, mas aí, vem….. ANTÔNIO BRITTO, que em 97, somente 04 anos depois, vendeu parte da empresa, reduzindo a sua capacidade de arrecadação. Britto naquele momento protagonizou o maior golpe que o Estado do Rio Grande do Sul já sofreu.
A agressão feita resultou no que para o Estado? O estado do RS superou suas dívidas e se tornou um estado economicamente forte?

Bem; sem mais comentários…. Só me resta fazer um convite à gauchada:
Subam à noite em um ponto mais alto nos seus municípios gaúchos e vejam a quantidade de pontos luminosos espalhados. Esta prática é importante porque você VERÁ COM SEUS PRÓPRIOS OLHOS a quantidade de energia elétrica sendo comercializada.

Apenas para se ter uma ideia, a CEEE, no ano de 2012, obteve uma receita operacional líquida superior a R$ 3 bilhões.

Com tudo isso apresentado, você, neste momento, deve estar se perguntando: Por que então vender a CEEE?
Em resposta, devemos nos atentar que os grandes empresários investem pesado nas campanhas eleitorais e na mídia. Por este motivo, devemos ter o imenso cuidado e filtrar as informações lançadas em parte da imprensa. Em ato contínuo, em algum momento, a contrapartida deste financiamento deverá ser atendido.

Em São Paulo, onde está a maior concentração do grande empresariado, tudo é privatizado. Onde está a maior força política no Brasil? Pois é…. este é o sistema econômico que se deseja espalhar para o resto do Brasil, ou seja, a forma paulistana.

Recentemente, a concessionária de energia AES Eletropaulo, que atende a capital paulista e outros 23 munipios da região, recebeu, através da justiça, multa de 2 milhões pela péssima prestação dos seus serviços.

Contudo, após a apresentação deste texto e sem esgotar a matéria, espero ter alcançado o objetivo de apresentar os reais motivos de se ter uma empresa pública como a CEEE, e ao mesmo tempo, reconhecer que esta empresa tem sim alguns problemas em função da irresponsabilidade e incompetência de alguns gestores POLÍTICOS, e não da imensa maioria dos empregados públicos que são regidos pelo regime trabalhista CLT. A propósito, a gestão da empresa deveria ficar nas mãos dos empregados de carreira.

Por fim; deixo a todos uma última reflexão:
Se alguns políticos “definham” uma empresa que dá lucro, imaginem estes mesmos administrando a saúde, a educação e a segurança! Com todo respeito, não vamos nos esquecer que estas atividades são essenciais e importantes pela sua relevância social, mas não dão lucro, são atividades de cunho social. Pensem nisso!

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