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3 de maio de 2011
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02:15

Vendeta!

Por
Sul 21
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Não se morre, aqui, de amores por Osama Bin Laden. Não se aprova, no entanto, a ação imperial e autoritária dos EUA de assassinar e jogar no mar o corpo de um inimigo. Os princípios de civilidade exigem que se respeitem os ritos e procedimentos democráticos e humanitários. Por mais bestial que tenham sido os atos terroristas de Osama Bin Laden, imitá-lo, adotando procedimentos semelhantes aos seus, é apenas igualar-se a ele em selvageria e bestialidade.

Para julgar crimes da magnitude dos praticados por Bin Laden e a Al Qaeda existe o Tribunal Internacional de Justiça que, aliás, oportunisticamente, nunca foi reconhecido pelos EUA. Reconhecer o principal órgão judiciário da ONU exigiria respeito às suas regras e ordenamentos, atitude que não se coaduna com o uso indiscriminado e unilateral da força, tão ao gosto dos EUA. Os árbitros do mundo não se curvam às leis internacionais.

Vendeta é o adjetivo que melhor qualifica a ação praticada nesta madrugada (02) pelos EUA, da mesma forma que vendeta havia sido a invasão do Iraque em 2003. Para vingar os mortos do 11 de setembro de 2001, foi morto deliberadamente aquele que ordenou os ataques terroristas ao território estadunidense há quase 10 anos, ocasionando a morte de mais de 3 mil pessoas. Um ato horrendo, que gerou agora um novo ato horrendo, o qual gerará, sem dúvida, novos atos horrendos.

Segundo o dicionário Houaiss, a vendeta é um “sentimento de hostilidade e vingança entre famílias ou clãs rivais, desencadeando assassinatos e atos de vingança mútua durante anos ou gerações”. O termo é originário da Itália e designa um comportamento adotado em regiões rurais atrasadas e que é praticado principalmente por organizações criminosas.

No caso em pauta, o sentimento e a ação de vingança não civilizados ficaram explícitos no assassinato do oponente, no descarte do seu corpo em alto mar, na comemoração popular nas ruas das principais cidades dos EUA e, principalmente, na frase do presidente Barack Obama de que “o mundo ficou melhor depois da morte de Bin Laden”.

Pode-se entender o sentimento de frustração dos que perderam familiares, amigos e conterrâneos nos atos terroristas comandados por Osama Bin Laden. Pode-se entender o pavor que assomou a população estadunidense quando constatou que seu país não estava imune a ataques de seus inimigos. Nada disso pode servir de justificativa, entretanto, para a ação de terrorismo de estado, não submetida aos ditames da lei e da justiça, praticada pelos EUA na madrugada deste 2 de maio.

Haverá represálias por parte da Al Qaeda e de outras organizações terroristas associadas. O círculo de fogo não se encerrou. Até porque, a morte de Osama Bin Laden foi um ato simbólico, sem qualquer efeito prático de controle do terrorismo. Bin Laden já se encontrava fora de combate, isolado em uma casa-fortaleza, longe do mundo, sem telefone e sem internet, sem comando e sem voz dentro da organização que fundou e que não mais dirigia efetivamente.

Barack Obama se mostra, enfim, na política externa, muito semelhante a George W. Bush, o presidente ao qual sucedeu e do qual ele prometeu se diferenciar o mais que pudesse. A conquista de votos para reeleição de Barack Obama e a manutenção da liderança dos EUA no mundo se faz, mais uma vez, à custa da civilidade e de regras democráticas.


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