Ana Amélia sobre o piso dos professores: “Não posso prometer o que não sei se vou cumprir”

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Candidata foi sabatinada pela direção do Cpers/Sindicato l Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Candidata foi sabatinada pela direção do Cpers/Sindicato l Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Caio Venâncio

Dando início a uma série de sabatinas com os candidatos ao governo do estado, a direção do Cpers/Sindicato recebeu na manhã desta quarta-feira (10) a  Ana Amélia Lemos (PP) para saber quais são os planos de sua eventual gestão em relação aos professores da rede estadual de ensino. A presidente do sindicato, Helenir Oliveira, questionou a candidata da coligação Esperança que Une o Rio Grande do Sul (PP, PSDB, PRB e Solidariedade) sobre o percentual de investimento em educação, a possibilidade de terceirizações, meritocracia no magistério, relação da Brigada Militar com movimentos sociais, entre outros temas.

Um documento com pautas de interesse dos educadores foi entregue e assinado pela atual senadora e direção do CPERS. O item número um da lista de reivindicações é o pagamento do piso nacional do magistério. Antes mesmo de pegar a caneta, a representante do PP já sinalizou: “Vou assinar, mas não posso prometer o que não sei se vou cumprir. Faremos um esforço extraordinário”, assegurou.

Atual senadora pretende dialogar intensamente com o sindicato num eventual governo l Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Atual senadora pretende dialogar intensamente com o sindicato num eventual governo l Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Ana Amélia fala em cortar gastos para investir naquilo que é prioridade

Ainda que opositora do atual governo do estado, Ana Amélia reconheceu os aumentos concedidos aos professores pela presente gestão, classificando-os como “importantes”. Desde já, tratou de esclarecer que, caso eleita, o orçamento que cumprirá em 2015 não será de responsabilidade dela, mas da administração de Tarso Genro (PT), como sempre acontece nas trocas de governo.

Perguntada se cumpriria com a determinação da Constituição Estadual de investimento de 35% do orçamento em educação, outro ponto abordado no documento entregue e historicamente desrespeitado por diferentes administrações, a progressista citou exemplos de que seria necessário estabelecer prioridades. “Para isso, será preciso economizar em outros setores. Em Santa Cruz do Sul, numa gestão nossa (PP), o prefeito só conseguiu pagar o piso nacional dos professores cortando despesas na área administrativa”, cita.

Helenir Oliveira, presidente do Cpers: “Pra nós, é muito claro: a solução é o concurso. Terceirização é problema" l Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Helenir Oliveira, presidente do Cpers: “Pra nós, é muito claro: a solução é o concurso. Terceirização é problema” l Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Helenir foi enfática na defesa do plano de carreira dos professores, algo que a categoria já mostrou que não está disposta a abrir mão, mesmo que os governantes utilizem o argumento de que é impossível pagar o piso nacional no atual formato. Ana Amélia (PP) relatou que nas conversas que vem tendo com professores no decorrer da campanha pelo estado o apelo é o mesmo. Desde já, ela indicou que qualquer “aperfeiçoamento” vai passar pelo diálogo com o sindicato.

A candidata também se mostrou atenta à contrariedade dos servidores públicos aos cargos comissionados (CCs),  terceirizações e contratos emergenciais. No entanto, em determinados momentos, ela admite abrir mão dos concursos públicos. “Numa emergência, você não tem outro caminho”, afirma. Logo depois, Helenir rebateu. “Pra nós, é muito claro: a solução é o concurso. Terceirização é problema. Na nossa concepção, contrato emergencial de dez, 15 anos é uma distorção”, definiu.

“Não tenho nada a ver com a Yeda. Não falo do passado”, afirmou a candidata

Quando o assunto foi a eventual implementação da meritocracia entre o magistério estadual, até mesmo com a possibilidade de concessão de um 14º salário aos professores, a que a direção da entidade dos trabalhadores se opõe, Ana Amélia falou em alterações no vocabulário. “Vamos deletar esta palavra, ‘meritocracia’, ela está estigmatizada. Queremos um governo colaborativo, em que as pessoas ajudem umas às outras. Premiação por desempenho? Bom, será discutida com a categoria”, tergiversou. Mais uma vez, Helenir replicou de forma sucinta: “Queremos salário, não penduricalho”.

Reforçando seu compromisso de lutar pelo piso nacional do magistério, considerado a grande prioridade do Cpers, a senadora pretende também capacitar os professores, principalmente os envolvidos com a alfabetização, por meio da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs). Ana Amélia assegurou que não retirará direitos dos trabalhadores. “Conquista social é conquista social, não se discute”, garantiu. Na sequência, porém, lembrou um ditado popular: “Para toda regra, há uma exceção”.

Ana Amélia assinou documento do Cpers, mas não garantiu que pagará o piso l Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Ana Amélia assinou documento do Cpers, mas não garantiu que pagará o piso l Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

A maneira como a Brigada Militar (BM) lidaria com os movimentos sociais num eventual governo da progressista também foi debatida. A candidata afirmou que respeitará o regime democrático e o Estado de direito. Entretanto, haveria limites para os protestos. “Em atos, a BM só vai garantir a segurança de quem está ali, mas não será permitido quebrar patrimônio público ou privado. A sociedade ficou assustada com a violência de alguns protestos. Queremos paz”, resumiu.

Ao longo do governo Yeda Crusius (PSDB), do qual o PP fazia parte, a Brigada Militar, comandada pelo então coronel Paulo Roberto Mendes, reprimiu com violência os professores em protestos e até mesmo deteve a presidente do Cpers à época, Rejane de Oliveira. Depois do encontro, quando já entrava apressadamente no elevador, Ana Amélia foi questionada se os procedimentos da polícia em seu governo seriam os mesmos ou mudanças aconteceriam. Ela foi sucinta: “Não tenho nada a ver com a Yeda. Não falo do passado”.

Ao fim da sabatina, a candidata reafirmou que, caso ocupe o Palácio do Piratini a partir de 2015, o Cpers será muito bem-vindo. “Todas as demandas que o sindicato tiver, bata à porta. Ou melhor, nem precisa bater, ela estará sempre aberta”, afirmou.


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