Apesar das críticas à política externa, Brasil é reconhecido pelos EUA como poder global

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Apesar das críticas à política externa, Brasil é reconhecido pelos EUA como poder global
Apesar das críticas à política externa, Brasil é reconhecido pelos EUA como poder global

Luiza Bulhões Olmedo

Roberto Stuckert Filho
Dilma e Obama no encontro nos EUA | Foto: Roberto Stuckert Filho

Ao responder a uma jornalista na terça-feira (30), Obama afirmou que o Brasil é um poder global. O reconhecimento surpreendeu cidadãos e veículos de comunicação brasileiros. Entretanto, Obama apenas reafirmou uma posição estratégica estadunidense, que, ao perceber a ascensão brasileira no nível internacional, busca aproximar-se do vizinho do sul.

Em um contexto de crise econômica e política no Brasil, de fim do boom das commodities, de desaceleração do crescimento chinês e de recuperação das economias centrais, é de se esperar que a política externa brasileira esteja mais vacilante. E está. Apesar da herança da diplomacia “ativa e altiva” de Lula, que foi corroborada pelo bom momento internacional, analistas de relações internacionais apontam que Dilma não tem mantido a política externa no mesmo patamar. A mídia, sobretudo, não poupa críticas.

Mesmo assim, alguns sinais apontam que o Brasil tem sim sido reconhecido como um importante ator no nível internacional. Nesta terça-feira, em meio à viagem presidencial aos EUA, quando Dilma e Obama respondiam a perguntas de jornalistas, uma correspondente da Globo News perguntou à presidenta: “O Brasil se vê como um ator global e liderança no cenário mundial, mas os EUA nos veem como uma potência regional. Como você concilia essas duas visões?”

A resposta veio diretamente de Obama: “Nós encaramos o Brasil como um poder mundial, e não regional. Em termos de fórum econômico para coordenar relações e negociações, como o G20, por exemplo, o Brasil tem uma voz muito forte. A questão da mudança do clima, por exemplo, só pode ser bem sucedida com a liderança brasileira. E isso é indicação da liderança mundial do Brasil”. Afirmou ainda que os EUA “não atingirão sucesso” em temas como saúde global e contenção do terrorismo, por exemplo, sem a ajuda brasileira. “Todos os países importantes precisam estar envolvidos nesse processo, e nós consideramos o Brasil um parceiro indispensável nesses esforços”, finalizou.

Segundo analistas, a percepção de Obama condiz com a atual estratégia estadunidense para a América Latina. Para Peter Jakim, presidente emérito de um reconhecido centro de análise política de Washington, Diálogo Inter-Americano, os Estados Unidos estariam finalmente se dando conta da relevância brasileira. “Com alguma esperança, os EUA estão reconhecendo que eles estão tendo dificuldades em levar a cabo uma agenda para a América Latina sem ser capaz de cooperar com o Brasil”, disse Jakim para a revista Foreign Policy.

E a preocupação com a atuação do Brasil na área internacional não se limita à America Latina. Uma longa e completa matéria da revista Foreign Affairs, publicada há menos de um mês, teve como foco a influência do Brasil sobre o Atlântico Sul, sobretudo em relação aos países africanos. Com destaque para a projeção de poder brasileira, a matéria aborda como a penetração brasileira na África começou com assistência técnica em ciência, tecnologia e desenvolvimento profissional, e atualmente engloba iniciativas de cunho político, ideológico e cultural, e de cooperação militar.

“Hoje, a postura oficial de defesa do Brasil é de ainda mais longo alcance, envolvendo a capacidade de projetar poder da Antártida até a África”, afirma a revista, lembrando que a influência brasileira se estende para além dos seis países de língua portuguesa do continente africano. Além disso, a matéria discute a preocupação brasileira em proteger seus recursos naturais, principalmente petróleo e gás, costeiros e marítimos, na área que a marinha chama de Amazônia Azul.

A análise da Foreign Affairs sugere que o objetivo brasileiro é justamente minimizar a interferência externa na região, especialmente da OTAN. Nessa linha, conclui: “o Brasil está endurecendo seu poder brando através do Atlântico Sul. No processo, o Brasil está usando a África para sinalizar a sua chegada como um player global no cenário mundial”.

Portanto, o posicionamento de Obama não deveria ser uma surpresa para os brasileiros. Esta visita de Dilma deve fortalecer a parceria entre os dois países, percebida como de grande importância para os EUA. A recuperação da confiança entre os presidentes, estremecida com os escândalos de espionagem de 2013, e que adiaram a viagem da presidenta por quase dois anos, foi sendo construída durante os últimos encontros multilaterais. E mesmo que Dilma não tenha recebido um pedido formal de desculpas pela espionagem, como a chanceler alemã Angela Merkel recebeu, o reconhecimento do presidente dos Estados Unidos do Brasil como potência global é um passo importante, principalmente para quem sofre da síndrome de vira-latas.


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