Opinião
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29 de julho de 2017
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03:00

O inimigo define a natureza da luta (por Maister F. da Silva)

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Sul 21
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O inimigo define a natureza da luta (por  Maister F. da Silva)
O inimigo define a natureza da luta (por Maister F. da Silva)

Era dezembro de 1961, Nelson Mandela já era um influente dirigente entre a juventude do CNA (Congresso Nacional Africano), principal partido de oposição e resistência ao regime africâner. Após várias reuniões secretas, em virtude da clandestinidade do partido, conseguiu convencer então presidente do partido, chefe Albert Luthuli, e mais alguns membros do alto secretariado adeptos da tática de não-violência, que era chegada hora de radicalizar a luta, o fato que forçou tal decisão foi o Massacre de Sharpeville, onde o governo enfrentou de forma truculenta a manifestação pacífica contra a lei do passe, organizada pelo Congresso Pan-Africanista, a ação truculenta do estado acabou com a morte de 69 pessoas e deixou 186 feridos.

Era um período duro para a luta anti-apartheid, a resistência popular vinha de um forte descenso, parecia esmagada. A tentativa de reação de massa contra a lei do passe, foi apagada pelas balas da repressão, a tentativa de uma paralisação geral chamada para o dia 19 de abril de 1960, não teve sucesso, não conseguiu levantar o ânimo do povo. As principais lideranças populares haviam deixado o país, para escapar da repressão e iniciar a reorganização da resistência a partir do estrangeiro. Mandela foi sagaz e ousado, viu ali o início da virada – ainda que ela demorasse a vir – após amplas discussões na executiva nacional do CNA, nascia a Lança da Nação (Umkhonto we Sizwe), braço armado do partido em parceria com o Partido Comunista Sul-Africano. A sua aparente independência às decisões do CNA, permitiu que o partido e seus dirigentes negassem qualquer relação com as ações armadas e mantendo sua opção pela não-violência.

“O inimigo define a natureza da luta”, com essa frase Nelson Mandela anunciava a opção pela luta armada, e os africâners logo o cravariam a alcunha de perigoso terrorista. As primeiras ações da luta armada, foi uma ampla campanha de sabotagem, contra instalações do governo, redes elétricas, pontes, estabelecimentos financeiros e instalações militares, as instruções do alto comando eram pra evitar ataques que levassem a ferimentos ou a perdas de vidas humanas. A escalada da repressão levou a Lança da Nação a enfrentamentos diretos ocasionando baixas de ambos os lados, resistiu oficialmente até os anos 1990, quando oficialmente abandonou as armas, com a libertação de Mandela e o avanço para da negociação para eleições onde todos os Sul Africanos participariam, negros e brancos. Mandela mais tarde declararia “Nós adotamos a atitude de não-violência só até o ponto que as condições o permitiram. Quando as condições foram contrárias, abandonamos imediatamente a não-violência e usamos os métodos ditados pelas condições.”

A luta de classes no Brasil não é diferente, seu ritmo está sendo ditado pela lumpén burguesia rapineira, a radicalização da luta de resistência, bem como sua natureza, não está dada, passamos por um longo período de apatia do movimento de massas. Levemos conosco a certeza da vitória, por que nossa luta é justa, do ponto de vista humano, moral e ético. Na longínqua África do Sul a luta que também baseou-se nesses conceitos, confirmou a certeza da vitória.

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Maister F. da Silva, militante do Movimento dos Pequenos Agricultores.

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