Neida Oliveira (*)
Vim do interior do estado há mais de 25 anos. Ao conhecer o Centro de Porto Alegre, decidi que gostaria de morar neste lugar, tão encantador e tão cheio de contradições.
Com o passar do tempo, descobri que era mais barato para morar e até o carro foi dispensado.
O Centro é lindo! O Mercado Público, a Casa de Cultura Mário Quintana e o Chalé da Praça XV são só alguns exemplos destas belezas.
As contradições são muitas. O Viaduto da Conceição e sua população de excluídos, as famosas pensões, inclusive da Rede Garoa, o entorno do Chalé da Praça XV e muitos outros lugares são a casa dos “moradores de rua”.
Nos últimos anos, a Orla do Guaíba e, consequentemente, a Usina do Gasômetro foram entregues à iniciativa privada. A sanha dos empresários e dos políticos entreguistas se acendeu.
“Doce ilusão”, a grande jogada financeira, se tornou o algoz do Guaíba. Antes “rio”, agora “lago”, por conta da especulação imobiliária.
Hoje estamos consternadas(os) ao ver o local que escolhemos para viver extremamente machucado pela enchente.
As chuvas seguem, não sabemos como será a reconstrução do “coração da nossa capital.”
Mas não vamos arredar pé, o policiamento está exagerado e estamos vigilantes contra a repressão aos desalentados. Continuaremos tentando alimentar “tantos quantos moradores de rua” conseguirmos.
Seguiremos agradecendo aos colegas, companheiras e companheiros, que estão nos ajudando com dinheiro para fazermos as quentinhas.
Agradecendo à Graça e ao Pedrão, que estão cozinhando, misturando o tempero maravilhoso com o carinho e a boa vontade.
No meio de tanta tristeza, nosso coração fica aquecido quando provam as quentinhas e nos falam da gostosura da comida.
Juntas e juntos venceremos, pois a classe trabalhadora sabe que é o “povo pelo povo”!
(*) Professora, moradora do Centro de Porto Alegre
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