Opinião
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24 de maio de 2024
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11:06

Melo tem projeto – e ele não está morto (por Ana Ávila)

Por
Ana Ávila
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Sebastião Melo abraçou o bolsonarismo para se tornar prefeito de Porto Alegre. Foto: Divulgação
Sebastião Melo abraçou o bolsonarismo para se tornar prefeito de Porto Alegre. Foto: Divulgação

Uma grande parte de Porto Alegre está debaixo d’água. O Sarandi, o Humaitá, a região das Ilhas. A Cavalhada e até o Moinhos de Vento viram a água subir desenfreadamente nesta quinta. Junto com a Capital, o projeto do prefeito Sebastião Melo para a cidade também agoniza sob as águas do Guaíba. Engana-se quem acredita que Melo não sabia o que fazia nos últimos anos. O prefeito certamente não sucateava o Dmae e ignorava os alertas para reparos no sistema de proteção contra enchentes da Capital por desconhecer sua importância. Em campanha na última eleição, ele mesmo destacava a necessidade de reformar as casas de bombas para evitar alagamentos.

Mas Melo tinha planos mais urgentes. Adensar o centro, a orla, construir 400 vagas de estacionamento na Redenção, autorizar um grande condomínio na Fazenda do Arado, instalar uma roda-gigante no Parque Harmonia, fazer promessas aos empreendedores para se instalarem no 4º Distrito, planejar passeios de balão partindo do Parque Marinha, acelerar a construção de imensos edifícios onde quer que as grandes construtoras desejassem.

Não há lugar para onde Melo tenha feito planos que não esteja sob as águas. Ela flui dos bueiros, avança pelas frestas nas comportas, se acumula onde as bombas do Dmae, sucateadas, não conseguem drenar.

Porto Alegre descobre com Melo que há um porão no estado mínimo: o estado nulo. Nele impera o descontrole absoluto sobre tudo e todos. É a lei do salve-se quem puder – ou for capaz de conseguir um bote, contar com um amigo, um voluntário, um caminhão do Exército.

Não esperem desculpas pelos alertas não emitidos, pelos entulhos não recolhidos, pelas comportas arrancadas, pelos R$ 400 milhões guardados no caixa do Dmae. Admitir os próprios erros implicaria mudar o rumo, seguir um caminho diferente. Melo não pretende se afastar 1 milímetro dos projetos que defendeu até aqui, entre outras razões, porque foram eles que o colocaram no Paço Municipal.

Melo sempre teve projeto para Porto Alegre. Ele está enlameado, fedido, pode bem contaminar quem ousar se aproximar muito. Mas calma, ele ainda dispõe de uns meses para sacudir a lama e se apresentar aos porto-alegrenses outra vez, travestido de inovador, disfarçado em meio aos carros de som que espalham o grande temor que povoa o imaginário de parte dos cidadãos (junto com a mamadeira de piroca): comer carne de cachorro.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21


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