Opinião
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8 de dezembro de 2023
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18:38

1000 votos a mais do que Bulhões (por Matheus Fonseca)

Foto: Guilherme Santos/Sul21
Foto: Guilherme Santos/Sul21

Matheus Fonseca (*)

Em 2020 a comunidade acadêmica da UFRGS escolheu na consulta a reitoria um projeto de reitoria, naquela consulta a totalidade dos votos apontava que as professoras Karla Maria Müller e Claudia Wasserman eram as escolhidas pelo conjunto dos estudantes, dos professores e dos técnicos, foram 8.947 votos ao total, 4264 votos a mais que a segunda colocada. Na época, a UFRGS contava com um sistema de peso desigual entre alunos, professores e técnicos que fez com que a Chapa representada por Rui Vicente Oppermann e Jane Fraga Tutikian fosse a vencedora considerando que o voto dos professores tinha 75% de peso enquanto os alunos e técnicos 15%. O projeto menos votado na consulta, representado por Carlos André Bulhões Mendes e Patrícia Helena Lucas Pranke obteve na consulta apenas 1860 votos.

Ironicamente o projeto menos votado na consulta foi apadrinhado por Bibo Nunes e escolhido por Bolsonaro para manifestar a política bolsonarista da austeridade fiscal e da precarização da vida dentro da UFRGS. Como? Acontece que apesar da consulta à comunidade, da votação e participação nas eleições, o Ministério da Educação e o Governo Federal recebeu a “Lista Tríplice” com a indicação dos três concorrentes no processo e suas respectivas votações, ficando a cargo do Presidente da República escolher quem nomear, desde 2003 o Governo nomeava aquele que havia sido manifestado vencedor em eleição respeitando a democracia das universidades. Bolsonaro usou a lista tríplice, um entulho da ditadura, para colocar a UFRGS sob uma intervenção bolsonarista.

A gestão ilegítima de Bulhões inaugurou um tempo sombrio na Universidade, com grades e seguranças, Bulhões se encastelou na Reitoria e em três anos de gestão nunca foi visto pela UFRGS.

A reitoria interventora trabalhou de forma intensa para manifestar a política bolsonarista quando apresentou um conjunto de ações que buscavam aprofundar a crise dos estudantes, e sobretudo, dos estudantes cotistas e trabalhadores. O período pandêmico foi marcado por um duro enfrentamento com Bulhões que defendia um Ensino Remoto Emergencial sem um plano de assistência e permanência que dialogasse com os estudantes que haviam perdido bolsas, estágios e empregos e viviam em razão da paralisação das atividades situações de vulnerabilidade socioeconômica, foi preciso a partir da Gestão Lutar e Mudar as Coisas mobilização permanente para que os auxílios estivessem garantidos.

No retorno às aulas, Bulhões atentou contra a saúde e vida da comunidade acadêmica, desrespeitou o Comitê Covid da Universidade que apontou a necessidade de um passaporte vacinal para o retorno em segurança. Apenas um dia depois, o gabinete do reitor, Carlos André Bulhões, informou que não adotaria o passaporte da vacina. A luta pela Casa do Estudante no Litoral Norte foi desdobrada pela reitoria em perseguição política que busca cercear alunos e trabalhadores da universidade e criminalizar o movimento estudantil, sindical e social. Diga-se de passagem que o espaço reivindicado pelos estudantes do Litoral Norte foi cedido de forma arbitrária a PROIR, pró-reitoria de Inovação e Relações Institucionais criada pelo interventor Carlos Bulhões, sem o aval do conselho universitário. A implementação de um plano de austeridade fiscal fez com que a vida dos estudantes, sobretudo cotistas, piorasse ainda mais, aumentasse a evasão num projeto de tornar a universidade pública um elemento antagônico do nosso povo. Mas resistimos e mobilizamos, construímos solidariedade e costuramos forças para permanecer na universidade e derrotar os entulhos do Bolsonarismo que ocupam de forma ilegítima a Reitoria da UFRGS.

Desde que o DCE tomou posse buscamos aglutinar esforço e força com as entidades da universidade, construir a capacidade de avançar na paridade e na destituição e inaugurar um tempo mais democrático na UFRGS. Saímos vitoriosos de ambos os processos pois apostamos em um projeto politicamente independente de governos e de reitorias, e ainda mais conscientes que a luta não terminou, que é ainda mais preciso mobilizar e fazer luta para efetivar a destituição.

Após a aprovação do parecer pela destituição fica ao Conselho Universitário a tarefa de enviar formalmente ao Ministério da Educação o parecer, para que o MEC e o conjunto do Governo Federal acate e faça a exoneração. Na última semana o DCE, a ASSUFRGS e o ANDES-UFRGS esteve em Brasília para reunir com o Ministério da Educação e entregar uma cópia do parecer de destituição, e manifestamos que cabe ao MEC acatar a decisão do Conselho Universitário da UFRGS e zelar pela autonomia universitária. O MEC, assim que receber formalmente o processo, precisa analisar com a maior brevidade e encaminhar a exoneração de Bulhões e Pranke. Seguiremos mobilizados, seremos pontas de lanças até que a intervenção seja varrida. Por fim, a nossa Gestão à frente do DCE não se intimidará em fazer luta, nossa gestão tem, inclusive, mais de 1.000 votos do que tiveram os interventores.

(*) Estudante de Políticas Públicas, Coordenador do DCE UFRGS

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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