Opinião
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28 de julho de 2023
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17:15

Privatizar o transporte não é a solução, prefeito! (por Maria do Rosário)

Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21

Maria do Rosário (*)

Li hoje o artigo do Prefeito Sebastião Melo, que utiliza as páginas dos jornais para defender de maneira tímida a privatização da Carris. Digo tímida, pois o simples uso da palavra desestatização não demonstra a sincera intenção de suas ideias. É preciso ser franco, prefeito. O que queres fazer se chama privatização da Carris. Se é tão boa, por que o acanhamento em defendê-la?

Talvez esse jogo de palavras seja porque a população já sabe que a privatização não significa melhora no serviço, pelo contrário. Estamos enfrentando uma insatisfação generalizada com a venda da CEEE: a população gaúcha está sofrendo com a má gestão da empresa, enfrentando dificuldades na comunicação, no atendimento e na resolução de problemas. Moradores de municípios da região sul do estado ficaram mais de 10 dias sem luz em casa! Entregar o patrimônio para o setor privado não é sinônimo de melhora como quer vender o projeto neoliberal.

É inegável que o transporte de ônibus na cidade enfrenta desafios significativos. A tarifa atualmente praticada é uma das mais elevadas do país, onerando os bolsos dos porto-alegrenses e tornando o acesso a esse serviço essencial uma tarefa difícil para muitas famílias. Sem investimento na melhoria da qualidade do serviço, o sistema público de ônibus vai seguir perdendo usuários. Menos pessoas usando o transporte público implicará em aumento da tarifa, mais carros trancando as ruas, e claro, mais poluição. Essa realidade não pode ser ignorada, e medidas para tornar o transporte público mais acessível são urgentes.

No entanto, o prefeito defende que a privatização da Carris e o fim de algumas isenções permitirão melhorias no sistema de transporte. Devemos questionar como exatamente essa estratégia será efetiva em melhorar a qualidade do serviço prestado. Grande parte das linhas já está sob operação de empresas privadas, e é evidente que a qualidade ainda está aquém do desejado. Então baseado em quais fundamentos o prefeito afirma que a privatização resultará em melhorias substanciais?

Além disso, Melo destaca que a tarifa não aumentou nos últimos anos, graças aos repasses de recursos públicos para as empresas privadas de transporte. É crucial que a gestão desses recursos seja transparente e republicana, garantindo que o dinheiro do contribuinte seja empregado de maneira responsável e benéfica para a população.

A discussão sobre a extinção dos cobradores, citada pelo prefeito, é uma medida que certamente não tem potencial para solucionar os problemas do nosso transporte público, e pode criar outros conflitos como a perda de empregos, o acúmulo de função para os motoristas e muitos transtornos para os usuários do sistema. É o puro suco do liberalismo inconsequente.

É preciso ir além das soluções pontuais e encarar os desafios de frente, repensando o desenho da política pública de transporte em Porto Alegre. A população merece um sistema eficiente, com tarifas acessíveis e qualidade de serviço. Essa meta só será alcançada por meio de uma abordagem mais abrangente e inclusiva, que envolva o diálogo com a sociedade, especialistas e trabalhadores e trabalhadoras do setor.

Precisamos discutir um novo modelo de financiamento para o transporte público na cidade, que alie preços acessíveis com um serviço de excelência. A prioridade deve ser sempre o bem-estar das pessoas que moram na cidade, e não os interesses de algumas empresas privadas que lucram com um direito social tão importante como o transporte público.

Nossa cidade precisa de soluções inteligentes e criativas para enfrentar os desafios que se apresentam. Diálogo, coragem e inovação são essenciais para que Porto Alegre retome seu lugar de vanguarda no Brasil e no mundo. A batalha contra a privatização da Carris é um exemplo disso. Estou aqui, firme e forte, comprometida em lutar por essa  causa. Pode contar comigo, Porto Alegre!

(*) Deputada federal (PT-RS)

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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