Miguel Rossetto (*)
Faz parte do debate político avaliar os cem primeiros dias dos governos. A diferença entre as iniciativas do presidente Lula e a inação do governo de continuidade do Leite não poderia ser maior.
Ainda na transição, Lula negocia a ampliação de recursos para o orçamento federal impedindo que o Brasil parasse. Enfrenta o golpe de 8 de janeiro com coragem e salva a democracia brasileira.
Recria áreas como a Cultura, Previdência, Indústria, Planejamento, Agricultura Familiar, Indígenas e reposiciona o país na America Latina e no mundo.
A presença solidária na terra Yanomami, a volta do Minha Casa Minha Vida, Alimentação Escolar, Farmácia Popular, Bolsa Família. Fortalece energias renováveis, investe em infraestrutura, Educação, Saúde. Pactua com os estados o calote eleitoreiro de Bolsonaro sobre o ICMS e toma iniciativa de uma necessária reforma tributária.
Lula recupera o diálogo como método, encontra governadores, prefeitos, deputados e senadores; o Brasil volta a respirar democracia. Enfrenta a sabotagem do enclave bolsonarista que ainda dirige o Banco Central com uma taxa de juros que sequestra a economia e o futuro do Brasil. Iniciativa, programa, diálogo e participação. São 100 dias, mas pareceram muito mais.
E por aqui? O que assistimos nestes sem dias de Leite?
Um governo de uma continuidade medíocre e desastrosa. Não há novas iniciativas e as que não são novas não são boas. É a continuidade, por exemplo, da destruição da escola pública do RS, que vive a maior crise da sua história. Não há novidade no arrocho dos educadores e funcionários, quando nega os 14,95% de reajuste, quando na entrada do ano escolar 95% das escolas precisam de obras, quando não cumpre as metas do Plano Estadual de Educação. Os prejuízos são gigantescos para a juventude gaúcha, para os 800 mil alunos da rede. Porque Leite diminui os recursos para os hospitais públicos, estes diminuem o atendimento SUS, as filas aumentam e a população sofre.
Também não é novidade a insensata obsessão em privatizar a água com a venda da CORSAN; os países que embarcaram nesta aventura devolvem a água para o controle público. Não há novidade no desprezo aos produtores de suínos e frangos, na grave crise do setor. Também não é novidade o abandono dos agricultores na dura seca. O piso salarial do estado segue sendo o menor da região sul, R$ 1.443; no Paraná, desde 1º de janeiro, o piso é de R$ 1.805. Não, não há nada de novo nos cem primeiros dias do segundo governo Leite.
Ah, também não é novidade quando Leite diz que não teria pedágio na RS 118 e agora anuncia o mesmo pedágio com outro nome, Free Flow.
Esta diferença chocante entre o governo federal e o estadual talvez tenha uma explicação. Para quem quer melhorar a vida do povo, é preciso pressa e muito trabalho. Para deixar tudo como está, para continuar com a mediocridade, o tempo corre lento e não é preciso mais do que uma boa foto e uma apresentação colorida. O desastroso nisto tudo é que o Rio Grande tem que mudar, o Rio Grande precisa mudar.
(*) Miguel Rossetto é deputado estadual pelo PT-RS
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