Opinião
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6 de abril de 2023
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18:28

Educação pública, sim! Política do ódio, não! (por Vitalina Gonçalves)

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Vitalina Conceição Marques Gonçalves (*)

Os últimos episódios de violência envolvendo escolas, que vitimaram uma professora em São Paulo e quatro crianças em Santa Catarina, sobre os quais não falo dos detalhes deliberadamente, acenderam o sinal vermelho. Estamos vivendo as consequências da política do ódio e do preconceito. O Governo Federal constituiu um grupo de trabalho, visando estudar medidas preventivas que possam evitar novas tragédias. Resido no RS e, ainda, não encontrei movimentos da Secretaria de Estado da Educação ou das Secretarias Municipais na mesma direção.

Percebi sutis movimentos de uma rede de escolas privada, no sentido de colocar “segurança” mais ostensiva. Movimentos, esses, importantes e necessários. Porém, precisamos registrar, que somado a eles, dois aspectos sociais precisam ser priorizados e estudados com mais profundidade e atenção: a desigualdade social e a cultura do ódio, ambas ceifando vidas todos os dias.

A igualdade de oportunidades é elemento imprescindível e inegociável a ser estabelecida como objetivo de todos que defendem uma escola sem violências. O grau de desigualdade social “estabelecido” no Brasil leva a sociedade a viver em dois extremos, o primeiro onde tudo falta, desde comida na mesa, água potável, até atendimento em saúde, especialmente saúde mental. No extremo da abundância, o ter tudo, o poder tudo, o consumo indiscriminado, a busca incessante por uma satisfação material e de status alimentados por com likes e curtidas, abre um vazio da profundidade de um abismo, sem espaço para empatia e consideração ao próximo (nesse caso a maioria da população).

Neste cenário está a escola, e dentro dela a professora e o professor, ou melhor, as trabalhadoras e trabalhadores em educação. Todos, igualmente, vítimas de uma sociedade que os condena a uma condição humana, profissional, econômica e social degradante. Condição esta, criada em um movimento premeditado por governos e empresas voltadas ao lucro e meritocracia na Educação, para substituí-los por sistemas de classificação, por uma lousa digital, por um computador, por uma plataforma digital, por uma empresa de assessoria, enfim, a criatividade do lucro pode completar essa lista, sob o argumento de que serão mais eficazes e mais baratos. Mas a pergunta que não pode calar é, essa tal criatividade do lucro consegue se colocar entre o algoz e uma criança ou jovem aluno, para evitar sua morte, como nossos professores fazem?

Conseguem?

Conseguem?

Conseguem?

Os meus colegas fazem isso todos os dias, em tragédias de grande repercussão! Os meus colegas fazem isso todos os dias, em pequenas tragédias, na maioria das vezes invisíveis, silenciosas para o conjunto da sociedade brasileira.

Infelizmente, com a morte como elemento em comum, uma mata de forma violenta, a outra mata lentamente, muitas vezes condenando ao subviver. Até quando a sociedade brasileira vai continuar falhando com nossas crianças, com nossos jovens, com nossos professores?

Basta! Direito à vida sem nenhum tipo de violência, educação pública respeitada, valorizada e democracia como princípio precisam caminhar juntas. Sem justiça social não alcançaremos a paz. Sem educação retornamos à barbárie.

(*) Professora, presidenta do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública Municipal de Gravataí (SPMG) e secretária geral da CUT/RS

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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