Opinião
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25 de outubro de 2022
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08:56

Genocídio nunca mais (por Suelen Aires Gonçalves)

Protesto em Porto Alegre lembra vítimas da covid-19. (Foto: Avico/Divulgação)
Protesto em Porto Alegre lembra vítimas da covid-19. (Foto: Avico/Divulgação)

Suelen Aires Gonçalves (*)

O texto é um apelo, que vem acompanhado de um chamado por justiça e memória. Vamos tratar do desprezo à vida, representado nas palavras do atual Deputado Federal Bibo Nunes (PL), felizmente der-ro-ta-do nas eleições de 2022, que, em vídeo, agride e ataca os alunos da UFSM e UFPel dizendo que eles mereciam ser “queimados vivos” após manifestação contra os bloqueios orçamentários do Ministério da Educação (MEC) sobre as universidades. Essa é a base política do atual governo federal que despreza a vida em suas distintas formas.

O caso acima citado foi proferido no início de outubro deste ano, mas somente na última semana foi exposto. Cito um breve trecho de notícia do portal G1: “[o deputado] faz ofensas aos alunos, chamando-os de inúteis, lixo, escória e até de ‘débeis mentais’. Na sequência, diz que os alunos mereciam ser queimados vivos”. O desprezo da vida humana fica nítido ao atacar os(as) estudantes da UFSM e menosprezar a dor da cidade de Santa Maria que perdeu colegas, amigos(as) e familiares no incêndio na boate Kiss, que matou 242 pessoas em 2013.

A continuidade desse discurso de ódio por representantes e defensores desse governo é, no mínimo, coerente com a política de morte executada ao longo da pandemia. O atual governo foi aliado de primeira hora do vírus. Enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) orientava políticas de proteção sanitária para a população como, por exemplo, equipamentos de proteção para os profissionais da saúde e categorias consideradas essenciais, bem como adotar medidas de isolamento social, o governo foi ativista de propagação da COVID, promovendo a tese criminosa de “imunidade de rebanho”. Para isso, o governo enfrentou deliberadamente as medidas de isolamento e proteção sanitária realizadas por alguns governos municipais e estaduais. A consequência dessa política de morte foi submeter a população brasileira a falsa e dramática escolha entre sofrer o flagelo da fome ou correr o risco de contrair o vírus.

Se o povo brasileiro consagrar nas urnas a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, além de garantir a sua posse, a sociedade precisaria dar início a um movimento para reivindicar a realização de julgamentos pelos crimes cometidos na pandemia. Crimes como: transformar Manaus em um laboratório de testes para medicamentos sem eficácia comprovada contra a COVID; atrasar o envio de oxigênio; produzir em laboratórios do Exército Brasileiro de maneira superfaturada medicamentos comprovadamente ineficazes contra o vírus; atrasar o desenvolvimento e aquisição da vacina negando sua compra por 11 vezes; entre outros. Esse movimento é por justiça e memória das vítimas do vírus. Para que o Brasil não esqueça e que nunca mais aconteça.

(*) Doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), integrante do Grupo de Pesquisa Violência e Cidadania (GPVC/UFRGS) e do Grupo de Estudos sobre o Pensamento de Mulheres Negras.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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