Opinião
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10 de outubro de 2022
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19:38

Eduardo Leite e o segundo turno (por Céli Pinto)

Eduardo Leite (Foto: Felipe Dalla Valle / Palácio Piratini)
Eduardo Leite (Foto: Felipe Dalla Valle / Palácio Piratini)

Céli Pinto (*)

Começo fazendo uma declaração muito pessoal: nas duas últimas eleições que tiveram segundo turno, em 2018 e 2020, anulei meu voto para governador e para prefeito. E não me arrependo. Não via diferença entre José Sartori e Eduardo Leite, tampouco entre Nelson Marchezan Jr e Sebastião Melo.  Em relação ao último, bolsonarista de quatro costados, nunca estive tão certa.

Atualmente o segundo turno apresenta ao estado, de um lado, um bolsonarista de primeira hora, Onix Lorenzoni; de outro, Eduardo Leite, um indivíduo politicamente gelatinoso. Em 2018 apoiou Bolsonaro “criticamente”, no melhor estilo “fumo mas não trago”. 

Agora se diz neutro. Ora, candidato, o senhor está me parecendo aquele tipo que, em assembleias estudantis e sindicais, é apelidado de “Me abstenho”. Sempre soubemos, desde tempos do grêmio estudantil, que quem se abstém está a favor de algo que tem vergonha de tornar público: contra o protesto, contra a greve, contra as reivindicações. O “Me abstenho” é um conservador nato, quando não um reacionário.

Também existe uma vileza nesta neutralidade que não enaltece a biografia de ninguém. Abster-se sempre foi uma forma do politicamente covarde para, após o fato, dizer-se apoiador. É o calculista, no colégio pensava que não perderia a amizade de ninguém; na universidade, seria convidado para as reuniões de todos os lados. Mas acabava sozinho, ninguém queria ser visto como amigo de um possível traidor.  Não era convidado para reuniões, podia ser sempre um agente das forças da ditadura infiltrado.

Eduardo Leite é um ‘Eu me abstenho” clássico. Acha que teve votos bolsonaristas no primeiro turno e pensa que, agora, quem votou em Edegar Pretto, que fez brilhante campanha e não chegou ao segundo turno por 2491 votos não terá outra saída, se não votar nele. Podemos confiar em um candidato a governador com tal personalidade?

Não estou reivindicando a Eduardo Leite que se torne um petista, entusiasta de Lula. Não seria crível. Mas é necessário que se posicione. O senhor é a favor ou contra a extrema-direita, não democrática, racista, classista, misógina, homofóbica, cujo maior representante é Jair Bolsonaro? Nós, democratas, não votaremos em alguém que se iguale a seu adversário, por convicção, ou por covardia política.

Poderíamos, nós da esquerda e da centro-esquerda democrática, votar no senhor? Certamente, mesmo considerando nossas grandes diferenças. Mas somos muitos e temos lado, temos propostas. Nosso candidato, Luiz Inácio Lula da Silva, teve a grandeza de estadista ao incorporar pontos importantes do programa do PDT e da campanha da Senadora Simone Tebet.

Quais são suas propostas?  Qual é seu lado? O que está disposto a incorporar das lutas daqueles dos quais precisa votos? Ou o senhor dirá “eu me abstenho”?

(*) Professora Emérita da UFRGS; Cientista Política; Professora convidada do PPG de História da UFRGS

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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