Opinião
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26 de outubro de 2022
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09:01

A direita de Porto Alegre sucumbiu ao bolsonarismo (por Jonas Reis)

Foto: Joana Berwanger/Su21
Foto: Joana Berwanger/Su21

Jonas Reis (*)

Estamos diante de uma quadra histórica jamais vista antes. Porto Alegre, assim como o Brasil, mergulhou no caos perpetrado pelo bolsonarismo insano e descompassado totalmente dos marcos da nossa jovem democracia. O mar de mentiras, de farsas, de narrativas de ódio e de violência contra os progressistas, contra os democratas, inclusive contra a centro-direita e a direita nacional, ocupou sobremaneira as redes sociais e as rodas de conversa. Enfim, contextos sociais diversos mergulharam na ideologização pura e irrestrita do debate político deixando de lado os problemas econômicos e crise moral que o Orçamento Secreto atolou a nação.

Não diferente poderia ser, Porto Alegre também acabou sequestrada por essa eleição em que o bolsonarismo conseguiu se desvencilhar do debate de um projeto nacional, das questões econômicas, dos direitos do povo, desvirtuando totalmente o que deveria ser uma eleição democrática, levando-a para o campo da mentira de que a esquerda fecharia igrejas, da mentira de que a esquerda colocaria banheiros unissex nas escolas, da mentira de que quem tomasse a vacina da covid viraria jacaré. E hoje, a gente vê milhares de pessoas não levando os filhos para tomar a vacina da poliomielite. Nunca na história do Brasil se vacinou tão pouco as nossas crianças e estamos diante de doenças que haviam sido erradicadas no século XX e retornam com força no século XXI, por conta do negacionismo e do discurso anti-ciência.

Porto Alegre, imersa no caos, viveu um episódio de extrema violência, no qual um vereador, coordenador da campanha de Onyx Lorenzoni e Jair Bolsonaro na capital, Alexandre Bobadra (PL), que partiu para as vias de fato com outro vereador, líder da bancada do PT, Leonel Radde, no centro da capital. Quando o vereador do PT se dirigia, entre uma agenda e outra, pelas ruas da capital, foi surpreendido, sorrateiramente, pelo bolsonarista, munido de ódio e violência, que o atacou de uma forma jamais vista no território da democracia. Socos e pontapés, violência gratuita contra a esquerda. Surreal.

Quem viu os vídeos parecia que estávamos vivendo, de novo, os tempos da idade média, de facadas, de punhaladas, de luta livre, em campo aberto. O vereador Alexandre Bobadra partiu para cima do vereador Leonel, conseguiu derrubá-lo, gerou caos no comércio, prejuízo aos comerciantes e quase crianças ficaram feridas. Nem as clássicas brigas de bar, de pessoas embriagadas teriam gerado tamanha agressão à ordem, como esta que o bolsonarismo, odiento, está gerando na capital.

Se isso só já não bastasse (o episódio de violência contra Leonel Radde) a minoria da mesa diretora da Câmara, sequestrou as sessões, suspendeu as sessões para que não houvesse o debate, não houvesse o contraponto nos microfones da tribuna popular da cidade, da casa do povo, sobre o episódio ocorrido, dessa raiva extrema dos negacionistas, ditadores contra os democratas (que são pela legalidade nos atos).

De forma unilateral, sem consultar os líderes de partidos, sem consultar o líder do governo, o presidente da Casa, acompanhado de alguns bolsonaristas, resolveu sequestrar o debate. A Câmara, que custa, diariamente, R$ 256 mil reais aos cofres do povo, para trabalhar, está proibida de trabalhar, não terá votação. Quando precisamos aprovar uma nova lei que permita a contratação de professores, uma vez que temos quase mil contratos temporários de professores, que encerram nos próximos dias e dezenas de turmas, milhares de alunos poderão ficar sem aula por conta dessa atitude irresponsável da mesa diretora atolada no bolsonarismo.

Outros tantos projetos deixarão de serem voltados, bem como, parece que há uma conivência daqueles que tomaram essa decisão de fechamento do parlamento municipal, com a violência, com a degradação do humano, com o vilipendiamento da democracia, com a quebra total e irrestrita do decoro parlamentar, que deveria acompanhar qualquer sujeito munido de um cargo eletivo, o respeito à legislação. Os vídeos mostram claramente que o vereador Alexandre Bobadra acompanhava e reivindicava o pseudo direito de munir documentos com inverdades contra a campanha de Lula. Ele estava errado.

A atitude autoritária de fechamento do parlamento municipal é a mais clara expressão dos desmandos de uma base governista, que sustenta o prefeito Melonaro (união de Melo com ideário de Bolsonaro, no plano municipal), que está desnorteada com a recente derrota eleitoral. Cerca de 70% dos vereadores e vereadoras disputaram cadeiras no legislativo estadual e federal, mas, apenas os parlamentares de esquerda obtiveram sucesso nas urnas. Todos os aliados do governo municipal foram derrotados. Nomes conhecidos como a vereadora Nádia (que teve que abrir mão da disputa da vaga de senadora devido aos baixos índices nas pesquisas de intenção de voto), Ramiro Rosário, Moises Maluco do Bem, Jessé Sangali, Pablo Melo, Monica Leal, entre outros, não obtiveram a aprovação nas urnas.

Não nos enganemos, se o prefeito Melo determina o calendário da Câmara Municipal, a partir da maioria que tem, vocês acham que o Melo está de fora dessa decisão de fechamento da Câmara de Vereadores? Eles diziam que Porto Alegre não pode parar, mas Porto Alegre está parada. O bolsonarismo tomou conta e está mandando. É preciso reunir todas as forças democráticas e exigir a abertura imediata da Câmara de Vereadores para o debate e para as votações. A última vez que a Câmara foi fechada eram tempos de chumbo, de ditadura, tempos em que mandatos foram cassados, eram tempos em que a democracia era enterrada viva.

A civilidade nas relações entre as pessoas está sendo subsumida pelo ódio e a violência, como no episódio em que o Roberto Jefferson, coordenador do bolsonarismo talibã virtual, atacou violentamente a Polícia Federal, que cumpria mandado de prisão dele por ameaçar o Supremo Tribunal Federal e por descumprir ordens da Justiça. Atacou com granadas e tiros de fuzil e depois, misteriosamente, a pedido do presidente Bolsonaro e do ministro da justiça, foi recebido como se fosse um aniversariante, um amigo, um companheiro, uma pessoa civilizada, por outro policial federal. Uma desmoralização da polícia. Trata-se do maior absurdo que já vimos no Brasil república, em que um bandido contumaz, um terrorista passa a ser tratado como uma pessoa justa, descente. 

Nós perguntamos: Se fosse um jovem negro da periferia a Polícia Federal teria despendido tal tratamento? Nós mesmos respondemos. Este país é um dos países que mais mata jovens negros da periferia, mas em se tratando de um homem branco, poderoso, com muitos rabos presos por aí, teve tratamento peculiar, inusitado. Muitos da elite nacional, apodrecida de tanto amontoar dinheiro, brindaram no domingo à noite o episódio de apologia ao terrorismo, o episódio de ataque terrorista às instituições nacionais, à Polícia Federal, ao poder instituído do Estado. 

Não se trata de uma ação isolada. O bolsonarismo sabe onde quer chegar. Trata-se de um projeto em curso que não iniciou hoje. Iniciou há muito tempo atrás e, se as pessoas justas, de bem – que pregam pela verdade, pela democracia e pela ampla participação do povo nos debates, nas decisões sobre o futuro do Brasil – calarem-se frente ao terrorismo, a tentativa de amedrontar a democracia, de vilipendiar o Estado Democrático de Direito, de sequestrar o calendário eleitoral, o Brasil poderá mergulhar em décadas de ditadura. 

Não podemos brincar nesta reta final da eleição. É preciso reunir todas as energias e forças para eleger Lula presidente e varrer para a lata de lixo da história todo o autoritarismo, todo o espírito e prática genocida, todo o ódio à ciência, à cultura, toda essa desgraça aplicada nos cortes da educação, na transformação do dinheiro do MEC em propina, em barras de ouro, na corrupção endêmica, instalada profundamente nas entranhas do erário público. 

Das boiadas do ex-ministro Sales, a compra de 51 imóveis com dinheiro vivo pela família Bolsonaro e o maior de todos os escândalos: o Orçamento Secreto, que distribuiu, só em 2022, R$ 19 bilhões, sem contar os anos anteriores. Com este valor seria possível adquirir quase 200 milhões de doses da vacina da Pfizer, na sua versão mais moderna, adaptada às novas variantes do coronavírus). É, sem dúvida, o maior escândalo da história republicana e ameaça as bases da democracia representativa, ao comprar o apoio de deputados e senadores, subvertendo a independência dos poderes da república.

Nós não aceitaremos que transformem a nossa cambaleante democracia num cadáver em putrefação nas avenidas, ruas e praças do nosso Brasil. Nós queremos, nós podemos, nós vamos eleger Lula presidente e devolver o Brasil ao povo trabalhador, aos brasileiros que produzem, que fazem a sangue e suor esse país se desenvolver, andar para a frente, não recuar, ampliar direitos. Produzir igualdade e justiça social substantivas. A batalha é agora, trata-se de reunir aqueles que são pela civilidade e pela civilização, contra aqueles que querem o caos, a barbárie e a ditadura.

(*) Vereador do PT em Porto Alegre

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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