Opinião
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28 de maio de 2022
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07:24

Uma defesa do agir coletivo: menos competição, mais colaboração (por Charles Scholl)

Foto: Reprodução/Nossa Causa
Foto: Reprodução/Nossa Causa

Charles Scholl (*)

Neste sábado, dia 28, em Porto Alegre, acontece a VI Plenária Estadual de Economia Solidária, que será realizada na sede do SINDIPOLO, no centro da Cidade. Será um dia de debates, que se intensifica na parte da tarde, com grupos de trabalho para constituir propostas sobre diversos temas que organizam e articulam o setor. Além da perspectiva econômica e a dinâmica social que ela impulsiona, o movimento pela economia solidária faz uma disputa ética com os modelos econômicos tradicionais. Talvez a abordagem que prioriza a cooperação ao individualismo seja a mais sensível, por estar na epiderme dos contrastes culturais, comportamentais e morais que vivemos cotidianamente. O associativismo é o modelo de relação social, por definição, mais adequado para sistemas sociais sustentáveis. Por esse caminho, em Esteio, a comunidade local criou a Nossa Área Movimento pela Economia Solidária, que participa dos debates deste sábado defendendo o agir coletivo com argumentos bastante claros.

As ações coletivas trazem ganhos econômicos, políticos, sociais e ambientais. A Economia Solidária constitui o elo moral necessário para a geração de um sistema econômico e produtivo circular, que venha a substituir completamente a perspectiva predatória presente na cultura extrativista. O foco do sistema econômico e produtivo circular está fundamentado na ideia da sustentabilidade, em que a atividade humana possa ocorrer sem a emissão de resíduos, com uma relação social justa capaz de manter e melhorar a qualidade e a expectativa de vida da humanidade.

Pode parecer uma perspectiva pretensiosa que dá coesão ao grupo Nossa Área, no entanto fazemos questão de mantê-la ao horizonte, até que tenhamos uma referência melhor para colocar no lugar daquilo que compreendemos como desejável. O abismo que nos deparamos entre a realidade e a perspectiva que imaginamos ao horizonte é feito por toda a realidade que conseguimos compreender e que nos mostra que o atual sistema nos deixa sem chão. A cada passo em direção a esse abismo, temos que construir as pontes que viabilizam a continuação desta caminhada. Nosso adversário comum, organizado em torno da cultura extrativista, não irá terminar com o Planeta, mas está construindo a passos largos o fim da civilização humana tal como a conhecemos, pois ela pode se tornar inviável em decorrência dos comportamentos hegemônicos desta cultura. No entanto, sabemos que comportamentos podem mudar e essa é a nossa esperança.

Vivemos no Antropoceno, período em que a atividade humana passa a ser o principal fator de mudanças na atmosfera, nos continentes e nos mares do Planeta. Diante desta constatação, as opiniões são importantes, pois são reveladoras de comportamentos. Nesse sentido, o debate público contribui para que perspectivas sustentáveis tenham mais poder político do que as ações orientadas pelo neoliberalismo, que é a face política atual da cultura extrativista.

Nossa ação coletiva busca contribuir com relações econômicas mais justas e solidárias entre os integrantes do coletivo e com a sociedade. A ação coletiva demonstra, na prática, a partir de recursos da própria atividade econômica, que é possível estabelecer relações de comércio e serviços mais justas, com distribuição de renda, com atividades produtivas mais saudáveis e sustentáveis. Por esse caminho, a cada passo desta jornada temos a oportunidade de poder avançar na direção da sustentabilidade, mesmo que de forma gradual, tendo em vista as pressões da vida que nos coloca na tarefa de construir o barco já navegando. Todo nosso esforço, nesse sentido, busca evitar o naufrágio de toda a civilização humana. Mesmo que possamos ser comparados a um beija-flor em luta contra um incêndio florestal, pois compreendemos o beija-flor como um ser consciente que pode mudar a opinião dos demais habitantes desta floresta em chamas. Talvez essa seja a fé do beija-flor, que nos inspira a lutar gota por gota contra esse incêndio que nos consome. Que essa fé esteja cada vez mais presente em nossas ações e que sejamos capazes de tocar os corações mais afetados pelas patologias sociais de uma comunidade neoliberal.

(*) Forum Gaúcho da Economia Solidária/Esteio. Articulador e fundador do Nossa Área Movimento pela Economia Solidária 

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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