Opinião
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12 de abril de 2022
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14:10

Lula-Alckmin e a amplitude necessária (por Carlos Eduardo Bellini Borenstein)

O ex-governador Geraldo Alckmin e o ex-presidente Lula, com Lu Alckmin e Rosangela Silva (Foto: Ricardo Stuckert)
O ex-governador Geraldo Alckmin e o ex-presidente Lula, com Lu Alckmin e Rosangela Silva (Foto: Ricardo Stuckert)

Carlos Eduardo Bellini Borenstein (*)

O PSB formalizou a indicação do ex-governador de São Paulo (SP) Geraldo Alckmin (PSB) para vice do ex-presidente Lula (PT). Agora, falta apenas o diretório nacional do PT confirmar a chapa. A construção da chapa Lula-Alckmin sela o esforço do PT, PSB, partidos aliados e do campo democrático-progressista como um todo em construir uma frente ampla que isole o bolsonarismo. Ao que tudo indica, além do PT e PSB – e PCdoB e PV, que fazem parte da federação juntamente com o PT –, legendas como o PSOL, Rede e o SD também deve estar ao lado de Lula já no primeiro turno.

Soma-se a isso Geraldo Alckmin, que mais do que ser um político de centro, é o representante dos históricos do PSDB. Assim, a aliança Lula e Alckmin pode ser considerada uma união do que representou no passado a social-democracia europeia.

Vale lembrar que após a redemocratização do país, antes da criação do PT e PSDB, ainda nos anos 80, Lula e o ex-presidente FHC, entre outras lideranças que militaram contra a ditadura militar, chegaram a sonhar na construção de um partido que unisse a intelectualidade progressista e o mundo sindical. Por conta de divergências, essa construção não foi possível. E, de 1994 a 2014, PT e PSDB foram forças antagônicas que polarizaram a política brasileira.

Guardadas as devidas proporções, a chapa Lula-Alckmin, principalmente diante da desconfiguração do PSDB, criado por FHC e os ex-governadores Mario Covas (SP) e José Serra (SP), entre os outros históricos tucanos, representa, após mais de 40 anos, um novo esforço conjunto em favor da democracia.

Esta percepção ficou muito clara na declaração do presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, sobre a necessidade de “criar um movimento em torno da candidatura de Lula que seja o mais amplo possível e reúna todos os setores sociais, políticos e econômicos, dentro de uma perspectiva de mudança que permita assegurar o retorno à plenitude democrática”.

Geraldo Alckmin, em sua manifestação, caminhou nessa mesma direção ao afirmar que “estamos vendo nossa realidade e não é hora de egoísmo, é hora de generosidade e grandeza política, desprendimento, união. A força da política é centrípeta e nós vamos somar esforços para reconstrução do nosso país”.

E Lula sintetizou com ainda mais precisão a amplitude que a aliança representa: “nós conseguimos mostrar às forças políticas do Brasil que é plenamente possível duas forças que têm projetos diferentes, que tem princípios iguais”.

Além da ideia de frente ampla e reconstrução do país, a aliança Lula-Alckmin visa construir o debate em torno da agenda democracia x autoritarismo. Tal narrativa foi ensaiada por Fernando Haddad (PT) no segundo turno de 2018 contra Jair Bolsonaro. Porém, os obstáculos para a materialização da composição prevaleceram naquele pleito disruptivo.

A ideia do debate democracia x autoritarismo remonta também a campanhas das “Diretas Já” (1984), conforme avaliou o cientista político Cláudio Couto em recente artigo na Carta Capital intitulado “Chapa Lula-Alckmin lembra a aliança das Diretas Já”.

Apesar da derrota daquele movimento em favor de retorno das eleições das diretas, a união de líderes políticos – Tancredo Neves, Leonel Brizola, Miguel Arraes, Ulysses Guimarães, Mário Covas, Lula, Luís Carlos Prestes e FHC, entre outros – e sociais dos mais diferentes matizes ideológicos acabou se transformando num marco da luta contra o regime autoritário.

Mesmo com que a chapa Lula-Alckmin tenha conseguido avanços importantes se comparado a 2018, quando apenas o PCdoB apoiou formalmente Haddad, a eleição de outubro será muito difícil. Assim como em 2018, e diferente do período das “Diretas Já”, existe na sociedade civil uma direita conservadora-moralista socialmente mobilizada. Mais do que isso, essa “nova direita”, que após junho de 2013 e a Operação Lava Jato desaguou no bolsonarismo, une poderosos segmentos organizados e que resistirá em recuar no projeto econômico fiscalista-liberal iniciado na “Ponte para o Futuro”, em 2016, e aprofundado em uma versão mais radical pela Escola de Chicago a partir de 2019.

(*)Cientista político formado pela ULBRA-RS. Possui MBA em Marketing Político, Comunicação e Planejamento Estratégico de Campanhas Eleitorais pela Universidade Cândido Mendes.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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