Opinião
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12 de março de 2022
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14:47

O inimigo do inimigo nem sempre é amigo (por Luciano Fedozzi)

Foto: Stringer/TASS
Foto: Stringer/TASS

Luciano Fedozzi (*)

Julgo que a unificação da posição a ser adotada pelas forças progressistas e por todos os democratas comprometidos com a paz no mundo é a de condenar a Rússia e sua guerra contra a Ucrânia. Este é o ponto em comum, o mais correto e justo. Todavia, a partir desse ponto, quando se trata de analisar as possíveis causas dessa guerra, se abrem divergências que não são superficiais e que não podem ser negligenciadas. Elas diferenciam (e devem diferenciar) as posições liberais das posições que devem ser assumidas pelas esquerdas representativas dos interesses das classes trabalhadoras em geral. Isso porque a análise das causas da guerra nos remete à ordem mundial nascida após o fim da bipolaridade mundial. A compreensão deste cenário mundial traz uma grande complexidade que não cabe na divisão típica do preto ou branco, como quer fazer crer a propaganda ocidental francamente pró-EUA e União Europeia.

Se a condenação do ataque da Rússia é a posição correta a ser tomada, ela não é suficiente para balizar a orientação da esquerda diante deste conflito. Isso porque não se pode renunciar a crítica ao militarismo da OTAN, como braço do capitalismo desenvolvido liderado pelos EUA, e de seu papel na continuidade da escalada armamentista. A OTAN se expandiu para 13 países do leste europeu após o fim da URSS. Qual seria a justificativa para tal expansão já que o principal inimigo ideológico desapareceu? A expansão da OTAN visa criar empecilhos a todo e qualquer projeto que vislumbre saídas não orientadas pelos cânones do capitalismo liberal em solo europeu. Além disso, é claro que esta ampliação também ocorre porque os senhores da guerra precisam alimentar o complexo industrial-militar e seus orçamentos insanos, recursos que não faltam apesar da austeridade neoliberal que maltrata os povos.

Simplesmente, tomar partido da Ucrânia sem fazer a devida crítica ao papel dos EUA nesta escalada da violência endossa, de certa forma, a manipulação que busca justificar a existência da OTAN, esta excrecência injustificável após o fim da guerra fria e do perigo que representava a URSS para o capitalismo. Além disso, defender pura e simplesmente a Ucrânia sem a devida crítica ao imperialismo norte-americano e ao capitalismo europeu de certa forma, endossaria também a hipocrisia e o cinismo dos EUA e seus aliados, que sempre usam de dois pesos e duas medidas para intervir na ordem internacional. Não é necessário demonstrar os diversos casos no mundo em que esta métrica dualista dos EUA foi e é utilizada. Os mais notórios são os casos dos mísseis em Cuba e a invasão do Iraque. Como se sabe, esta se deu mediante uma mentira que custou a vida de milhares de civis, além das vidas de jovens soldados norte-americanos. Como justificar a ideia de soberania da Ucrânia, defendida agora pelos EUA, quando de forma análoga eles exigiram (corretamente) a retirada dos mísseis em Cuba?

Nesse quadro, tudo indica que o melhor para a Ucrânia teria sido a adoção de um projeto de desenvolvimento nacional independente, sem tomar partido da OTAN e sem se submeter à Rússia de Putin. Esta tem sido a posição da Suécia e da Finlândia, que preferem, por prudência e equilíbrio, não entrar na OTAN. Não seria uma posição fácil para a Ucrânia, mas seria realista e razoável dada as relações internacionais atuais e sua posição geopolítica, quando, após o fim da bipolaridade, a Rússia começa a reagir ao cerco da OTAN. Esta estratégia seria sensata e não envenenada ideologicamente, conforme defendem alguns analistas comprometidos com e equilíbrio internacional e a paz, como é o caso do ex-embaixador dos EUA em Moscou [1]. A partir daí, o país poderia se inserir na ordem mundial sem ter de escolher entre bons e maus, entre líderes da suposta “liberdade” e líderes não alinhados e que são demonizados pelo maniqueísmo ocidental. Mas, então, surge a pergunta: “Por que a Ucrânia não escolheu ficar neutra militarmente a fim de buscar um desenvolvimento capaz de boas relações com os países do ocidente e oriente? Será que o país não teria alternativa a não ser entrar na UE e na OTAN? A resposta parece encontrar guarida no fato de que o atual governo da Ucrânia chegou ao poder fortemente ligado aos interesses norte-americanos e as forças econômicas e políticas do grande capital europeu (além de grupos de extrema direita que atuaram nos episódios da Praça Maidan – vide filme de Oliver Stone Ucrânia em Chamas). Seria ingenuidade, portanto, avaliar que a democracia ucraniana e o poder estatal do país, recentemente independente, vem se dando de forma soberana à influência direta dos EUA. Os fatos trazidos no documentário de Oliver Stone são claros a este respeito. A relação entre a elite liberal e de direita ucraniana e os EUA parece ser muito direta e seus vínculos têm pouco a ver com a defesa da democracia, como quer fazer crer o ocidente [2].

Parece que o atual governo da Ucrânia, fruto deste caldo contaminado, que dá continuidade ao clima da guerra fria, colocou o país (que tem maioria da população russa no Leste e na Criméia) numa situação instável e perigosa diante das potências militares da Rússia e dos EUA/OTAN. Em lugar de um projeto de desenvolvimento mais independente e com relações multilaterais com o oriente e o ocidente, as classes dominantes ucranianas adotaram um projeto de país totalmente dependente da entrada na União Europeia, como se esta entrada atestasse não somente seu êxito econômico, mas também a sua civilidade ocidental. Vislumbrando aproveitar as oportunidades que talvez fossem abertas a partir do apoio americano e europeu, a elite liberal da Ucrânia acabou conduzindo a população a acreditar que a única saída possível seria entrar na União Europeia e na OTAN, um empreendimento altamente arriscado considerando a sua posição geopolítica recente. Esta ocidentalização forçada, segundo alguns analistas, tem poucas chances de dar certo sem causar grandes conflitos internos e externos. Esta decisão é pouco realista e agora é a população comum, iludida pelo canto da União Europeia, que está pagando o alto preço. A elite ucraniana, alimentada e envenenada pelos EUA, é também responsável pelo conflito atual do país.

Por outro lado, a posição das esquerdas não pode ser a do apoio à Rússia. Além de ferir os princípios pacifistas que devem orientar eticamente os socialistas e progressistas em geral, ser favorável a invasão russa seria também endossar o regime político autoritário de Putin e suas relações de proximidade com a extrema-direita no mundo. É bom que se diga que Putin foi um dos responsáveis pelo fracasso das reformas democráticas de Gorbachev e pelo fim da URSS, que ocorreu a partir de Yeltsin. Ele é o típico oportunista que utilizou conhecimentos da KGB para ajudar o medíocre Boris Yeltsin. Como disse Gorbachev “não era da minha índole deslocar o Yeltsin para longe de Moscou, eu quis ser democrático na condução da perestroika, mas ele priorizou os interesses pessoais e não os do país” (entrevista do cineasta alemão Vim Venders com Gorbachev –  e também em
aplicativos de TV). A partir de Yeltsin, Putin ergueu sua autocracia e quer se perpetuar no poder, sem socialismo e nem democracia liberal [3]. É um projeto autoritário e conservador, que não merece qualquer simpatia das forças democráticas e progressistas. Não considerar este caráter do regime de Putin seria um erro grave.

A partir do ponto de partida de condenação da guerra é possível especular sobre as suas possíveis consequências para o cenário mundial de agora em diante. Uma primeira hipótese, que poderíamos classificar como otimista, advém da interpretação de que o ataque da Rússia representa o início de uma nova fase de mudança da configuração global nascida com o fim da URSS há 30 anos atrás. Esta nova fase também estaria desafiando a imposição do neoliberalismo enquanto ordem hegemônica no desenvolvimento do capitalismo. A relação entre a unipolaridade e o neoliberalismo adviria do fato de que a primeira – tendo a frente os EUA – criou as condições políticas para a imposição do neoliberalismo no centro e na periferia do sistema capitalismo mundial. Ou seja, no período anterior, a existência do campo socialista – em que pese suas contradições e erros – impunha obstáculos ao avanço selvagem do capitalismo, criando melhores condições para as reformas pró-bem-estar-social no capitalismo avançado. Era preciso entregar os anéis para não perder os dedos. O fim do campo do socialismo real alterou as relações capital-trabalho francamente em favor do capital. As reformas estruturais de caráter neoliberal atestam isso. O neoliberalismo cresceu neste contexto mundial quase sem competidores. Mas, de lá para cá, o projeto da globalização neoliberal, sob comando da financeirização do capital, vem causando desastres socioeconômicos. O enfraquecimento dos sistemas de bem-estar social responsáveis pela coesão das sociedades vem contribuindo para o aumento da xenofobia, do racismo, do ultranacionalismo e o crescimento da extrema-direita no mundo, algo que vem abalando a própria democracia liberal. A desigualdade entre ricos e pobres retrocedeu aos patamares verificados no século XIX, segundo pesquisas do reformista Tomas Pikety (capital do Século XXI).

Neste contexto, cresce novamente o fascismo e os projetos autoritários que questionam as democracias liberais. É cada vez maior o distanciamento entre a democracia liberal e o próprio capitalismo que lhe deu base jurídica e política, já que o desenvolvimento capitalista e suas crises estruturais apresenta dificuldades de legitimação. Esta nova ordem neoliberal, todavia, já causou baixas de peso na integração econômica, como é o caso da saída da Inglaterra da UE (BREXIT), o país que liderou o surgimento do capitalismo moderno. Ao mesmo tempo, o mundo assiste ao extraordinário desenvolvimento econômico da China e a provável ultrapassagem de sua economia frente ao EUA em poucas décadas. A China desponta como um grande protagonista do cenário mundial, causando o desconforto dos EUA e da Europa.

Neste novo cenário, com a China como protagonista mundial e a Rússia reagindo ao avanço do ocidente, algumas interpretações entendem que estaríamos entrando numa nova era marcada pelo fim da unipolaridade até então liderada pelos EUA e seus aliados da EU. A unipolaridade estaria em transição para uma situação de multipolaridade geopolítica e econômica. Este cenário de crise da hegemonia norteamericana vislumbra o surgimento de um novo campo formado pela China e pela Rússia sendo capaz de desafiar a ordem até então existente no mundo. Nesse raciocínio, a crise da Ucrânia estaria aproximando estes países, inclusive a partir de acordos inéditos realizados um pouco antes do ataque russo a Ucrânia. Esta nova configuração, liderada pelas duas potências (nuclear e energética, no caso da Rússia, e econômica, no caso da China) e suas relações com a periferia do sistema-mundo, apontaria para a possibilidade de sobrepujar a ordem hegemonizada pelos EUA e, em última instância, pelo próprio modelo neoliberal até então imposto aos países periféricos, por falta de alternativas mundiais e pelos decorrentes constrangimentos econômicos e políticos desta situação. Esta interpretação otimista, realizada por alguns analistas, precisa, entretanto, considerar os componentes distintos com que se apresentam os dois novos protagonistas. A Rússia ressurge com recursos que legou da antiga URSS: capacidade energética e poderio militar. Ao se reerguer e reagir ao cerco da OTAN busca retomar seu espaço geopolítico, a fim de ser respeitada ou temida. Já a China se coloca principalmente a partir de seu projeto desenvolvimentista, cuja natureza socialista e de mercado é ainda sujeita a polêmicas [4] A presença cada vez maior da China no cenário mundial se dá pelas suas taxas astronômicas de crescimento, de exportações e conquistas de mercados no centro e na periferia. Por isso se apresenta em condições mais estáveis no cenário mundial, criando dificuldades para a disputa dos contentores do bloco capitalista neoliberal liderados pelos EUA, porque estes sempre se basearam na superioridade econômica do sistema capitalista. Todavia, ainda que a emergência da China e da Rússia possam estar reconfigurando a ordem mundial, não se sabe ainda até que ponto haverá uma aliança estratégica entre os dois países após a guerra da Rússia contra a Ucrânia. À China não interessa o ambiente instável dos mercados internacionais já que isto poderá afetar suas empresas privadas e seus laços com o ocidente. As sanções econômicas impostas pelo ocidente à Rússia, por sua vez, poderá levar a China a certa retração de suas posições iniciais de simpatia ou de neutralidade à guerra da Rússia. Assim, ainda é duvidoso até que ponto os dois países realmente atuarão em conjunto para desequilibrar a hegemonia dos EUA e seus aliados europeus. De toda forma, ainda que não atuem conjuntamente, a emergência da China e da Rússia já é um fato objetivo capaz de modificar a ordem unipolar vigente até aqui. E isto significa uma brecha maior para a inserção internacional dos países em desenvolvimento da periferia, na medida que os projetos (neo)desenvolvimentistas poderão ter maiores oportunidades de sucesso e de inserção não subordinada à política neoliberal dos EUA e da Europa. A criação dos BRICS e do seu banco de desenvolvimento aponta para isto [5].

Outro cenário possível, que podemos classificar como pessimista, é aquele que foca sua análise nas consequências negativas que possivelmente advirão do ataque da Rússia e sua tentativa de recuperar espaço no mundo. Uma das consequências seria o aumento da escalada armamentista e a legitimação das ações da OTAN e dos EUA, agora justificada pelo perigo real representado pela Rússia. A iniciativa bélica da Rússia teria como efeito a unificação de grande parte dos países europeus e do resto do mundo, tendo como consequência o fortalecimento dossegmentos mais virulentos e bélicos dos Falcões ocidentais. Agora, eles estariam afiando suas armas, ao encontrarem a justifica fática para a estratégia de supremacia militar e de coerção. O combate ao terrorismo seria agora ampliado pelo combate ao perigo representado pela Rússia, uma potência não alinhada que passou a desafiar o poderio do ocidente. Neste cenário, a relação da China com o mundo – baseada no seu projeto desenvolvimentista orientado pelo Estado – poderá se tornar mais difícil porque ela será constantemente exortada a tomar posição a partir desse conflito, algo que já está acontecendo agora por parte dos EUA. Neste ambiente que tomará conta do mundo, mentiras e verdades não serão mais distinguidas. Este contexto poderá criar dificuldades para a ação política dos projetos reformistas e progressistas em cada país, porque é sempre mais difícil defender posições complexas, que não podem ser resumidas na simplicidade do preto e branco.

A efetivação de qualquer um desses dois cenários hipotéticos – o otimista quanto à possível crise da hegemonia unipolar dos EUA, e o pessimista sobre as consequências negativas da guerra da Ucrânia – trazem enormes desafios para as democracias e para a manutenção da paz mundial. Se por um lado é necessário superar os impasses da ordem neoliberal e suas mazelas nada civilizatórias, por outro lado, na história mundial, a ocorrência de transformações profundas na sua ordem, tais como o surgimento de atores desafiantes dos dominantes, costuma causar conflitos bélicos de grande monta. A história das duas grandes guerras no século XX é a história das disputas interimperialistas para as conquistas de mercados, bens e territórios. É quando a guerra é a política por outros meios, segundo Carl Schmitt. Cabe, então, perguntar: Até que ponto este rearranjo da ordem mundial poderá ser alterado sem provocar conflitos bélicos de grande envergadura? Ainda é incerta a resposta a esta pergunta, mas muito preocupante, sem dúvida. Por isso, as lutas pela paz e pela eliminação das armas nucleares precisam ganhar nova atualidade. Elas já foram importantes no auge da guerra fria, quando surgiram movimentos sociais com esta causa, mas agora precisam ser atualizadas. A ela, entretanto, deve se juntar a luta contra o neoliberalismo e sua hegemonia na globalização, causador de grandes desequilíbrios e desigualdades, tanto internamente aos países centrais como na relação centro-periferia do sistema-mundo. É o neoliberalismo – como visão de sociedade atomizada e mercantilização de todas as esferas da vida, humana e natural, que vem corroendo a eficácia e a legitimidade das democracias e minando a coesão social. Por isso, diante da guerra na Ucrânia, é preciso condenar as ações beligerantes de todos e lutar por uma nova ordem mundial mais justa e equilibrada entre as nações e por um desenvolvimento inclusivo e sustentável na relação com o ambiente natural. Às forças progressistas cabe lutar pela paz, pela superação do neoliberalismo e por uma nova ordem mundial mais justa, baseada na negociação permanente sobre demandas e conflitos, sob os auspícios da comunidade internacional de países soberanos e balizados pela proteção dos direitos humanos.

Algumas fontes para consulta:

Antonio Gelis Filho. Ataque da Rússia à Ucrânia busca estabelecer nova ordem mundial.  26.fev.2022

José Luis Fiori. Mudança à vista na geopolítica global. Publicado 18/02/2022

Leonardo Paz Neves. (FGV) Uma nova ordem. Jornal Zero Hora. 05.03.2022

David Harvey. Sobre os recentes desenvolvimentos na Ucrânia.

Ucrânia em chamas – Ukraine On Fire Oliver Stone. Filme de Oliver Stone.

Entrevistas de Putin com Oliver Stone

Winter on Fire – Featurette: ‘Filmando na linha da frente‘ – Netflix

Marcos Rolim. Sobre a guerra. 1 de março de 2022

Entrevista de Putin concedida ao cineasta Oliver Stone. “As entrevistas de Putin”. TVT, em parceria com Noucate.

Notas

[1] Diplomata americano veterano diz que demandas de Putin são razoáveis”. Jack Matlock Jr. traduzia recados de Krushev para Kennedy na crise de Cuba e foi embaixador em Moscou no ocaso da Guerra Fria.

[2] Por falta de conhecimento mais profundo e apurado, não cabe classificar, neste momento, os eventos da praça Maidan como sendo decisivos para caracterizar um golpe de Estado. Os eventos ocorridos em 2014 resultaram na deposição do presidente eleito Viktor Yanukovich.

[3] Putin, todavia, está longe de ser um político medíocre, burocrático e sem criatividade. Tem muita habilidade política e demonstra grande capacidade de convencimento sobre suas posições em favor dos interesses da Rússia. Ver a este respeito a longa entrevista concedida ao cineasta Oliver Stone. “As entrevistas de Putin”. TVT, em parceria com Noucate.

[4] Sobre uma intepretação da China em bases estruturalistas e marxistas ver o livro de Elias Jabbour e Alberto Gabriele. China, o socialismo do Século XXI. (Boitempo, 2021)

[5] Ver artigo de Paulo Nogueira Batista Jr. O Brasil e a guerra na Ucrânia.

(*) Professor de sociologia da UFRGS, membro do INCT Observatório das Metrópoles

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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