Opinião
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22 de março de 2022
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10:16

Água é direito, não mercadoria! Em defesa da Corsan pública (por Helenir Schürer)

Helenir Aguiar Schürer (Foto: Maí Yandara/  Divulgação)
Helenir Aguiar Schürer (Foto: Maí Yandara/ Divulgação)

Helenir Schürer (*)

Nesse dia mundial da água, é nosso dever defendê-la como um direito humano fundamental – acessível a todos e todas, com qualidade e quantidade suficientes para a manutenção da vida.

De olho no lucro, gananciosos impõem seus interesses aos povos que mais sofrem com a falta d’água – comercializam reservas de águas minerais como se não fossem um bem comum a todas as espécies, privatizam os serviços de saneamento, de geração de hidroeletricidade e de distribuição de água.

É o que o atual governo quer fazer com a Corsan no Rio Grande do Sul. Mas basta olhar para nosso país vizinho, o Chile, para perceber as consequências desastrosas da privatização da água.

Com quase 100% de sua água privatizada durante a ditadura de Pinochet, o Chile tem, hoje, 90% dos direitos de aproveitamento da água nas mãos de empresas mineradoras e agroexportadoras, enquanto praticamente 100% dos direitos de aproveitamento da água de uso não consumível (como a pesca ou a navegação) são geridos por empresas transnacionais. 

O resultado? A superexploração de rios e lagos, indústrias contaminando águas sem sofrer qualquer tipo de punição, camponeses e camponesas afetados por grandes áreas de monocultura sem acesso permanente à água. 

Cerca de 71 mil famílias recebem água por caminhões-pipa que também lucram com base na exploração de um bem comum que deveria ser direito e não mercadoria. 

Aqui no RS, percebemos a ampliação de áreas destinadas à monocultura de Eucalipto – uma árvore extremamente danosa se plantada em grandes quantidades, já que suas raízes drenam boa parte da água subterrânea, secando rios e formando desertos verdes. 

O que justifica o plantio dessa árvore se ela é tão prejudicial? O mesmo que permite a privatização da água. Lucro acima de tudo.

Enquanto defensores da vida, temos o dever de lutar contra todo e qualquer projeto que não considere a água um bem comum e um direito. Afinal, nosso planeta poderia facilmente ser chamado planeta água – quase 70% da Terra é constituída por água, sendo que 97,5% está nos mares e oceanos e, portanto, é salgada. Excluindo a água congelada dos pólos, a água doce representa apenas 0,6% do total. Destes, 98% estão nos aquíferos (ou seja, trata-se de água subterrânea) e apenas 2% nos rios e lagos. Toda tentativa de enquadrar a água como mercadoria é nociva à saúde. 

Não podemos permitir que nos neguem a vida. Água potável para todos e todas! Contra a privatização da Corsan.

(*) Professora da rede estadual e atual presidente do CPERS-Sindicato

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