Opinião
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5 de fevereiro de 2022
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16:04

Leite poderá repetir Rigotto 2006 no RS? (por Carlos Eduardo Bellini Borenstein)

Governador Eduardo Leite  | Foto: Divulgação
Governador Eduardo Leite | Foto: Divulgação

Carlos Eduardo Bellini Borenstein (*)

A colunista de política de Zero Hora, Rosane de Oliveira, revelou na edição deste final de semana do jornal que o governador do Rio Grande do Sul (RS), Eduardo Leite (PSDB), tem três possibilidades para as eleições deste ano: concorrer ao Palácio do Planalto – nesse caso, Leite se filiaria ao PSD – disputar à reeleição no RS ou tentar fazer seu sucessor no Estado. 

Ao avaliar o possível cenário em que Eduardo Leite disputaria à reeleição me recordei das eleições de 2006, quando o então governador Germano Rigotto (PMDB) tentou se reeleger e foi derrotado, tendo sequer chegado ao segundo turno. Naquela oportunidade, Yeda Crusius (PSDB) e Olívio Dutra (PT) foram ao segundo turno, e Yeda acabou vencendo Olívio. 

Em 2006, antes de disputar à reeleição, Rigotto tentou ser candidato à presidência da República pelo PMDB. Disputou prévias contra o ex-governador do Rio de Janeiro (RJ) Anthony Garotinho, na época filiado ao PMDB, e acabou derrotado. Naquele ano, antes de tentar alçar um voo nacional, Rigotto havia anunciado que não buscaria um novo mandato no RS. Derrotado nas prévias, acabou concorrendo à reeleição e foi derrotado.

Neste ano, Eduardo Leite tentou um movimento similar ao realizado por Germano Rigotto. Leite disputou as prévias nacionais do PSDB e perdeu para o governador de São Paulo (SP), João Doria (PSDB). Embora publicamente Leite mantenha a posição assumida de não concorrer à reeleição, aumenta a pressão para que o governador seja novamente candidato. 

A movimentação de aliados em favor de Eduardo Leite ocorre após o MDB, aliado do governador, ter cancelado as prévias marcadas para o dia 19 de fevereiro. Diante da indefinição no MDB, cresce a possibilidade da base de Leite se fragmentar na sucessão gaúcha, forçando o governador a ser candidato. 

Outro aspecto parecido com a conjuntura de 2006 envolve o cenário nacional. Naquela disputa, polarizada entre o então presidente Lula (PT), que buscava à reeleição, e o então governador de SP Geraldo Alckmin, na época filiado ao PSDB, Rigotto optou por não se posicionar na eleição presidencial. Quem se posicionou no RS – Yeda e Olívio – acabaram indo ao segundo turno. 

Em eleições nacionais polarizadas, como foi o caso de Lula x Alckmin em 2006, e deve ser também – salvo uma mudança de cenário – entre Lula e Jair Bolsonaro neste ano, o debate nacional acaba tendo repercussões nas eleições para governador. 

Mesmo que Eduardo Leite realize um governo com visibilidade nacional, a disputa pelo Palácio Piratini está em aberto. Se concorrer à reeleição, Leite quebrará uma promessa assumida com o eleitorado gaúcho, o que costuma ser fatal no RS. Se não for candidato, sua base se pulverizará. Nesse hipotético cenário, e dada a força da polarização entre Lula x Bolsonaro, as candidaturas que representarem o Lulismo e o bolsonarismo no Estado podem ganhar força e se credenciarem ao segundo turno, cenário que até a derrota da Leite nas prévias do PSDB era improvável, assim como em 2006 – antes das prévias do PMDB – não se projetava um segundo turno no RS que não fosse disputado entre o PT e Rigotto. 

As últimas disputas eleitorais no RS têm sido marcadas por surpresas e isso poderá se repetir neste ano. Vejamos: em 2002, Rigotto quebrou a polarização entre o PT x Britto que vigorava na política gaúcha desde 1994. Em 2006, Yeda tirou Rigotto do segundo turno e foi a adversária do PT. Em 2010, Tarso Genro (PT) venceu em primeiro turno e se elegeu governador – aliás, a primeira e única vez que isso ocorreu na história do Estado desde que os pleitos passaram a ter dois turnos. Em 2014, Sartori quebrou a polarização inicial entre Tarso e Ana Amélia. E em 2018, pela primeira vez na história, um candidato de esquerda não chegou ao segundo turno. 

Eduardo Leite repetirá Germano Rigotto 2006? A resposta a essa pergunta ainda está em aberto. Se, por um lado, é verdade que, desde 1998, dos governadores que tentaram à reeleição, apenas Rigotto (2006) e Yeda (2010, ano em que a eleição foi decidida em primeiro turno) não chegaram ao segundo turno; por outro lado, nunca um governador foi reeleito no Estado. 

Ao olharmos o cenário eleitoral de outubro no Estado, o que se observa é que desde que perdeu as prévias no PSDB para Doria, Leite perdeu força no RS, aumentando a imprevisibilidade da disputa pelo Palácio Piratini. 

(*) Cientista político formado pela ULBRA-RS. Possui MBA em Marketing Político, Comunicação e Planejamento Estratégico de Campanhas Eleitorais pela Universidade Cândido Mendes

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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