Opinião
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4 de janeiro de 2022
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16:28

À quem interessa o Novo Ensino Médio de Eduardo Leite? (por Alejandro Guerrero)

Alejandro Guerrero (Foto: Ana Carolina Lara)
Alejandro Guerrero (Foto: Ana Carolina Lara)

Alejandro Guerrero (*)

Ao apagar das luzes de 2021, o governador Eduardo Leite publica, através de decreto, a matriz curricular que dispõe sobre o Novo Ensino Médio e Fundamental. No segundo semestre do ano passado escrevi um artigo sobre o Novo Ensino Médio, criado ainda no governo Temer e alçado em uma campanha publicitária pelo governo Bolsonaro que coloca em prática um projeto de desmonte da educação. Mas, para compreendermos os impactos da nova matriz curricular, precisamos voltar nossa atenção ao momento que vive a educação gaúcha.

O ano de 2021 foi o mais conturbado da pandemia. Com as portas fechadas basicamente todo o ano de 2020, as escolas precisaram se adaptar ao retorno presencial e com ele diversos problemas vieram à tona: a insegurança alimentar, a evasão e o abandono escolar por conta da crise econômica, etc. Esse cenário deveria mobilizar o poder público em torno de uma grande busca ativa, que não deixe nenhum estudante para trás. Mas não é essa a preocupação central de Leite, que mesmo com essa crise, decreta uma alteração estrutural da grade escolar, sem a participação dos agentes educacionais.

Apesar de ser uma reforma nacional do Ensino Médio, a aplicabilidade dele no Rio Grande do Sul poderia ser dada de outra forma. Especialmente porque coloca em risco o emprego de milhares de trabalhadores em educação, de disciplinas que perdem espaço na nova matriz curricular, mas que também escanteia os estudantes e os pais do debate. O impacto disso será o aprofundamento das desigualdades, e o retrocesso do Novo Ensino Médio terá como consequência um grande prejuízo no ENEM e vestibulares.

A Matemática e a Língua Portuguesa ganham destaque, quase que engolindo as demais matérias. A nova grade dispõe de um período para o Ensino Religioso, que foi retirado da Filosofia. Ambas disciplinas sequer aparecem no 3º Ano. O mais grave é a disciplina de Filosofia, que não aparece nem no 2º Ano. Sociologia, conta apenas com um período no 2º Ano. Já História e Geografia somente com um período, apenas nos dois últimos anos. Essa nova grade também coloca em risco a Educação Física e as Artes. Se trata da formação de uma escola mecânica – mirando unicamente no mercado de trabalho profissionalizante, deixando de lado a possibilidade de acesso ao ensino superior e a continuidade dos estudos.

É uma reforma cruel, que cria um impacto geracional muito grande. Quantos estudantes serão excluídos de processos seletivos porque não aprenderam na escola o mínimo que é exigido? Quantos estudantes terão seus futuros ameaçados por terem tido uma escola sucateada e somente profissionalizante? Quantos estudantes sairão das escolas sem conhecer a filosofia e sem aflorarem sua criticidade?

Apesar de Leite, a educação gaúcha resistirá e será palco da sua derrota. É contra esse projeto de desmonte e privatista que lutamos. E a pergunta que não quer calar é: à quem interessa o Novo Ensino Médio de Eduardo Leite?

(*) Alejandro Guerrero é vice-presidente regional da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), no Rio Grande do Sul

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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