Glauber Lima (*)
Aquele que deseja esculpir uma imagem
escolhe madeira que não apodrece.
Isaías 40:20
Um dos meus filósofos preferidos é o sujeito que virou um mito universal. Se Jesus Cristo fosse contemporâneo de nossa época, certamente estaria com os pobres que hoje vivem sem direito ao trabalho e esvaziados de sonhos de futuro. E viveria junto a eles acendendo a luz da esperança, pregando pelas esquinas, condenando a desigualdade, defendendo a justiça e o amor verdadeiro.
Certamente também condenaria a hipocrisia dos engravatados que transformaram o culto ao dinheiro e à acumulação em uma religião de um deus que exige sacrifícios dos que nada têm. E então os porta-vozes do poder dominante o chamariam novamente de louco e de enganador. E lançariam mão de todas as calúnias e mentiras possíveis para julgá-lo e condená-lo a mofar esquecido em alguma prisão.
Mas, assim como o império romano não o calou naquela Palestina de mais de dois mil anos atrás, tampouco o calariam hoje, porque sua palavra tem força e poder. Tanta força e tanto poder que resistiu aos séculos. E também resistiu e resiste às tentativas dos que insistem em transformá-la no símbolo do conservadorismo, da injustiça e do preconceito.
Cristo ressuscita a cada novo dia no coração dos que sonham em ter o pão para saciar a fome e a mão amiga que afaga e sacia a alma. Só quem tem a capacidade de amar ao outro indistintamente é capaz de dizer – quando criticado por andar com pessoas condenadas moralmente pela sociedade – que não tinha vindo buscar os justos, mas os que haviam cometido erros.
Anunciando ideias desse tipo ele caminhou e juntou multidões por onde passou. E por agir assim o crucificaram, buscando silenciar aquela voz que tocava tão fundo no coração dos humildes. Mas ao fazê-lo, lançaram nas chamas da eternidade a sua palavra, transformando-a em um sopro de luz que liberta do medo quem por ela tem o coração incendiado.
(*) Professor
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