Opinião
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3 de setembro de 2021
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08:49

Milhões de gritos parados no ar (por Selvino Heck)

Em Porto Alegre, o Grito acontecerá no Espelho D’Água no Parque da Redenção. (Foto: Luiza Castro/Sul21)
Em Porto Alegre, o Grito acontecerá no Espelho D’Água no Parque da Redenção. (Foto: Luiza Castro/Sul21)

Selvino Heck (*)

Há um grito parado no ar. Há mil gritos parados no ar. Há milhões de gritos parados no ar. Assim como Gianfrancesco Guarnieri, em 1973, nos momentos mais duros da ditadura, driblou a censura vigente com uma peça de teatro e deu/propôs UM GRITO PARADO NO AR, em 7 de setembro de 2021, os Gritos vão explodir no vigésimo sétimo GRITO DAS EXCLUÍDAS E DOS EXCLUÍDOS, contra os tiranos, os governos necrófilos e genocidas, a favor da liberdade, do cuidado com a Casa Comum, da democracia e da soberania: ‘VIDA EM PRIMEIRO LUGAR – Na luta por participação popular, saúde, comida, moradia, trabalho e renda já!’

Milhões vão gritar, proclamar, anunciar VIDA EM PRIMEIRO LUGAR. Em primeiríssimo lugar.

Será o Grito das e dos pobres, das oprimidas e dos oprimidos, de trabalhadoras e trabalhadores por direitos, dignidade, cidadania.

Será o Grito do povo brasileiro por saúde – VIVA O SUS! -, no meio de uma pandemia que já roubou quase 600.000 vidas, ante a inação de um governo necrófilo e genocida. 

Será o Grito por comida dos milhares, milhões que passam fome: Vacina no braço e comida no prato!

Será o Grito da população em situação de rua, dos sem teto, dos sem terra por moradia, terra e dignidade.

Será o Grito dos desempregados e subempregados, de catadoras e catadores de material reciclável, carrinheiras-os por emprego e trabalho, por renda já, e por uma Economia Solidária.

Será o Grito das negras e dos negros, dos quilombolas, dos indígenas, dos jovens, das mulheres, do povo LGBTQUIA+, na luta por participação popular, por políticas públicas, por soberania e democracia.

Em 7 de setembro, valerão mais que nunca as palavras do educador popular cristão Paulo Freire, do seu livro ‘Pedagogia da Indignação’: “Desrespeitando os fracos, enganando os incautos, ofendendo a vida, explorando os outros, discriminando o índio, o negro, a mulher, não estarei ajudando meus filhos a ser sérios, justos e amorosos da vida e dos outros.”

Em 7 de setembro, estão todas e todos convidados, todas e todos convocados: nas ruas, nas redes sociais, de todos os jeitos e maneiras, Marchar com os 100 anos de Paulo Freire, a serem celebrados dia 19 de setembro, e dizendo, gritando, alto e bom som, como ele disse e escreveu  quando viu a marcha do MST em 1977, um pouco antes de sua morte: “Que bom seria se outras marchas se seguissem à sua. A marcha dos desempregados, dos injustiçados, dos que protestam contra a impunidade, dos que clamam contra a violência, contra a mentira e o desrespeito à dois pública. A marcha dos sem teto, dos sem escola, dos sem hospital, dos renegados. A marcha esperançosa dos que sabem que mudar é possível.”

Escreve Nita Freire, em ‘Pedagogia da Indignação’, e fala/grita para nós hoje, 2021, militantes da fé e da política na boa luta: “Quando Paulo viu aquela multidão entrando, altiva e disciplinadamente, na Esplanada dos Ministérios, ficou de pé caminhando de um lado para outro da sala, com os pelos do corpo eriçados, falando para os Sem Terra e não para mim estas palavras carregadas da sua compreensão perante o mundo: ‘É isso minha gente, gente do povo, gente brasileira. Esse Brasil é de todos e de todas nós. Vamos em frente, na luta sem violência, na resistência consciente, com determinação toma-lo para construirmos, solidariamente, o país de todos e de todas os/as que que aqui nasceram ou a ele se juntaram para engrandecê-lo. Esse país não pode continuar sendo o de poucos… Lutemos pela democratização desse país. Marchem, gente do nosso país…”.

Este Grito e este 7 de setembro de 2021 serão denúncia, anúncio, profecia, fé na vida, fé no homem, fé na mulher, fé no sonho, fé na utopia. Marchar e esperançar freireanamente.

Ninguém pode estar longe ou fora, cristãos e não cristãos, gente de todas as crenças e religiões, ou sem crença, todas e todos convidados, convocados. Será um Grito de milhões. Milhões de gritos e vozes, cabeças, corações e mentes marchando amorosamente no mutirão pela vida, por justiça, paz e fraternidade. 

E rezarão todas e todos, cantarão, louvarão com a oração e hino do Papa Francisco, ‘Oração cristã com a Criação’, da Encíclica Laudato Sì: “Os pobres e a terra estão bradando:/ Senhor, tomai-nos/ sob o vosso poder e a vossa luz,/ para proteger cada vida, para preparar um futuro melhor,/ para que venha o vosso Reino/ de justiça, paz, amor e beleza./ Louvado sejais! Amém. “

PS Com todos os cuidados sanitários e de segurança, o Grito acontecerá em diferentes cidades do Rio Grande do Sul e do Brasil. Em Porto Alegre, o Grito acontecerá no Espelho D’Água no Parque da Redenção: 11h, celebração macroecumênica; 12h30m, almoço solidário, com arrecadação de alimentos; 13h30, caminhada Fora Bolsonaro até o Largo Zumbi dos Palmares. Todas e todos convidadas-os.

(*) Deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990). Membro da Coordenação Ampliada nacional e Coordenação RS do Movimento Fé e Política

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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