Opinião
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22 de setembro de 2021
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14:47

Governador, respeite quem deu a alma pelo futuro do Rio Grande (por Jeferson Fernandes)

Presidente do Cpers cobra do governador a negociação do reajuste salarial da categoria | Foto: Divulgação
Presidente do Cpers cobra do governador a negociação do reajuste salarial da categoria | Foto: Divulgação

Jeferson Fernandes (*)

Educação não transforma o mundo. 
Educação muda as pessoas. 
Pessoas transformam o mundo.

Paulo Freire 

Jamais as trabalhadoras e trabalhadores em educação do Rio Grande do Sul haviam exercido suas atividades em condições tão adversas como as que enfrentaram no contexto da pandemia do Covid-19. Há sete anos sem reposição salarial e, portanto, com seus salários arrochados e sua nobre condição social relegada ao mais absoluto desrespeito, os profissionais da educação tiveram que trabalhar dobrado para assegurar a continuidade do processo de ensino-aprendizagem. 

Atacados pelo conservadorismo negacionista, que os queria em sala de aula, proliferando em ambiente coletivo de crianças e adolescentes uma pandemia que já ceifou a vida de quase 600 mil brasileiros, assumiram o desafio de educar à distância com as mínimas condições oferecidas por um governador para o qual a educação não é prioridade.

E isso não é uma questão menor para profissionais que hoje mal conseguem assegurar o básico para a sua sobrevivência material. É humilhante ver nossos trabalhadores em educação (professores e funcionários de escola) peregrinando por agências do Banrisul estado a fora para renovar empréstimos que devoram seus minguados contracheques a fim de ganhar uma sobrevida por alguns meses. É de cortar o coração ouvir os relatos dos que não conseguem mais pagar o aluguel, dos que tiveram a luz cortada, dos que estouram mensalmente seus cartões de crédito para comprar comida e já não sabem mais o que fazer para sobreviver.  

Mas mesmo assim, e ainda enfrentando a precariedade das condições tecnológicas oferecidas para desenvolver um ensino à distância para o qual não são formados, dedicaram o melhor de si. Mais uma vez deram a alma à causa da educação. Despenderam horas intermináveis preparando aulas para as plataformas digitais, acumulando ainda mais trabalho extra do que comumente já o faziam em casa, a fim de que nossos jovens pudessem continuar estudando e tendo uma perspectiva de futuro. 

Essa é uma triste realidade a que foram relegados nossos trabalhadores em educação pelos políticos neoliberais como Eduardo Leite (PSDB), que sempre governaram de costas para a educação pública. É inacreditável a desfaçatez com que defendem a educação durante as campanhas eleitorais e depois a apunhalam quando governam. 

E aqui é preciso registrar todo o nosso reconhecimento aos governos de Olívio Dutra (PT) e Tarso Genro (PT), que foram os únicos que nos últimos 25 anos respeitaram e valorizaram a educação pública do Rio Grande, assegurando investimentos e as maiores reposições salariais. Olívio concedeu 49% e Tarso 76% de reposição ao longo dos 4 anos de seus respectivos governos.

A direção do CPERS-Sindicato tem cobrado do governador uma sinalização justa, necessária e urgente de reposição salarial, a fim de amenizar esse quadro deplorável de pauperização de nossos educadores. É uma luta árdua. Estamos tratando com um político que não honra a sua palavra e retirou vários direitos dos servidores em geral e dos educadores em particular. Estamos falando de um pré-candidato a presidente da república que cinicamente profere palestras sobre a importância da educação para o desenvolvimento econômico ao mesmo tempo em que deixou a educação de seu estado em escombros.

No entanto, apesar de tudo, vale a pena lutar. Talvez a maioria de nossos educadores, aviltados pelo desrespeito com que passaram a ser tratados, não percebam o significado histórico da sua resistência. Mas escreveram algumas das mais belas páginas de heroísmo e dedicação ao outro no âmbito dessa pandemia agravada pela irresponsabilidade criminosa do presidente da república.  

Só os educadores são capazes de tamanha dedicação a uma causa que rompe com o individualismo que aniquila com o sonho coletivo de uma sociedade para todos. Só quem olha nos olhos de uma criança como a mesma ternura despendida ao seu próprio filho é capaz de ainda alimentar fachos de esperança onde imperam as sombras da desilusão.

Eles passarão, como outros passaram deixando seus rastros de destruição. Mas para quem semeia educação, a colheita será farta, e após a tempestade virá a bonança. A maior derrota que poderiam nos impor seria que deixássemos de acreditar que uma educação pública e de qualidade é possível. Que o espírito do mestre Paulo Freire continue a iluminar essa caminhada. 

(*) Deputado Estadual (PT/RS) 

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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