Opinião
|
11 de setembro de 2021
|
10:00

Frutidor (por Wilson Ramos Filho)

Foto: Marcos Corrêa/PR
Foto: Marcos Corrêa/PR

Wilson Ramos Filho, Xixo (*)

O calendário da Revolução Francesa, que alguns aludem como napoleônico, hoje só é lembrado pelo nome de um livro. Nele os nomes dos meses guardavam relação com eventos naturais. O Brumário, mês das brumas na França, ia de 22 de outubro a 20 de novembro, logo depois do mês da vindima, da colheita das uvas, o primeiro mês do ano, iniciado com o equinócio de outono acima do equador.

Lembrei do livro (O 18 Brumário) quando li algumas análises sobre a sinceridade ou não do conteúdo da carta (redigida pelo traidor Temer) enviada pelo Guaramputa ao STF. Voltar aos clássicos sempre é importante. No caso, parece-me oportuno desejar saber mais sobre a tentativa frustrada de golpe e se ela se constitui ou não em arroubo bonapartista.

Alguém com talento e cultura poderia se escalar para escrever um artigo intitulado O Frutidor de Jair Messias.

No calendário revolucionário o mês das frutas ia de 18 de agosto a 17 de setembro, ultimo mês do ano. Como cada mês tinha 30 dias, os cinco restantes, de 17 a 21 de setembro, eram de festa para os pobres, os sens-culottes, feriados nacionais, mas quem se importa hoje com eles?

De fato, durante o Frutidor brasileiro houve a preparação e o fracasso do golpe planejado para acabar com todas as aparências democráticas e nele também assistiu-se à rápida tentativa de recomposição de forças por parte da direita, com Supremo, com tudo, em um grande acordo de bastidores.

O mês ainda não terminou, é verdade, ainda estamos no inverno no hemisfério sul, mas os frutos do golpe de 2016 garbosos vicejam, como laranjas de amostra, por cima, escondendo as que apodreceram sem perderem as cores de outrora, fétidas, bolorentas.

Os acontecimentos bonapartistas – e os vacilos a bombordo desta nau à deriva da racionalidade – neste peculiar Frutidor verde e amarelo serão muito estudados no futuro, inclusive para tentar explicar às próximas gerações os motivos que teriam levado parte da esquerda a defender a nossa participação em um ato com os fascistas do MBL e com os golpistas de 2016 contra Bolsonaro, no dia 12 de setembro.

Alguém haverá de fazer uma comparação deste episódio com eventos da ascensão de Mussolini e com os momentos finais da República de Weimer. Outros preferirão nele enxergar as causas da depuração que virá, correlacionando-o ao que aconteceu com os colaboracionistas franceses depois da desocupação de Paris e da retirada dos nazistas em 1945.

Que venham bons frutos agora e no Vendemiário, ainda antes do Brumário. Não custa nada ser otimista, apesar do calendário. Afinal, neste hemisfério, começa a primavera, dá para sentir desde já.

(*) Wilson Ramos Filho (Xixo), professor na UFPR, preside o Instituto Defesa da Classe Trabalhadora.

§§§

As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora