Opinião
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2 de agosto de 2021
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09:52

Carta da V Assembleia dos Povos: ‘Acabou o amor isso aqui vai virar Palmares!’

Assembleia ocorreu, na terra Kaingang, comunidade Van Ká, bairro Lami, em Porto Alegre. (Fotos: Roberto Liebgott e Alass Derivas)
Assembleia ocorreu, na terra Kaingang, comunidade Van Ká, bairro Lami, em Porto Alegre. (Fotos: Roberto Liebgott e Alass Derivas)

Carta da V Assembleia dos Povos (*)

De 30 de julho a 01 de agosto de 2021 ocorreu, na terra Kaingang, comunidade Van Ká, bairro Lami, em Porto Alegre, a V Assembleia dos Povos que contou com a participação de indígenas, quilombolas, pessoas em situação de rua, coletivos, organizações sociais e populares, lutadores e lutadoras pelo bem viver.

Ao final da Assembleia, depois de momentos de profunda espiritualidade, reflexões, discussões e debates sobre a realidade de nossos povos, os participantes divulgaram uma manifestação coletiva, inspirada na memória dos ancestrais e nas espiritualidades dos povos e comunidades.

Os Povos Indígenas, Quilombolas e as demais comunidades originárias e tradicionais são inspiradores e impulsionadores da esperança na construção e consolidação de um mundo onde caibam outros mundos, ou seja, onde os modos de ser e viver dos outros sejam respeitados e valorizados.

Duas dimensões do viver dos povos e comunidades originárias podem nos inspirar: a memória e a espiritualidade.

“Por um mundo onde caibam outros mundos”. (Fotos de Roberto Liebgott e Alass Derivas)

A memória vincula passado, presente e futuro. Dá direção aos passos e ao caminhar contínuo. Enlaça o ser à coletividade, porque a memória é força e produção coletiva. Ela coloca em relevo as lutas e seus significados mais profundos, honra aqueles que passaram e os mantém como força inspiradora para os que estão cumprindo a vida e para os que virão.

Ensina sobre como tornar concreto o compromisso, o amor e a resistência. Mostra o saber que não se apaga, não se anula e muito menos se esquece. A memória guia os projetos de vida daqueles que sonham e constroem a justiça, demarca o lugar da Terra como mãe, gestora e acolhedora da vida. Além de tudo isso, ela torna os seres irmãos e irmãs nas diferenças e diversidades.

A Espiritualidade, por sua vez, dá sentido à existência dos povos, conecta os mundos e os saberes às ancestralidades, divindades e as cosmovisões. Agrega as lutas físicas, políticas e as retomadas, dando sentido para além da materialidade. Fortalece as articulações nas lutas por cidadania e dignidade humana, entrelaçando os modos de ser e saber no cotidiano, ritualizando o caminhar e os movimentos dos povos, comunidades, coletivos, periferias em suas culturas.

Memória e espiritualidade apontam os caminhos do bem viver a ser construído. Memória e espiritualidade compõem a oposição aos projetos de morte dos genocidas e suas crenças na acumulação de bens, no ódio, violência e destruição.

Juntas, a memória e a espiritualidade exigem reparação e condenação pelos crimes da colonização escravocrata, genocída, etnocída e a todas as formas de dominação que violentaram os povos. Elas alicerçam a libertação dos povos e a defesa incondicional da Mãe Terra.

(*) Terra Indígena Kaingang, comunidade Van Ká Porto Alegre, RS, 01 de agosto de 2021

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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