Opinião
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25 de junho de 2021
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09:58

Stonewall, o bafo que não acabou! (por Célio Golin)

Foto: Guilherme Santos/Sul21
Foto: Guilherme Santos/Sul21

Célio Golin (*)

Junho é mês que o povo LGBTIA+ celebra o rebelião que aconteceu no bar Stonewall na cidade de Nova Iorque em 1969. É bom lembrar que bem antes disso já havia resistência em vários lugares do mundo, muitos e muitas ativistas já defendiam e lutavam pelos diretos LGBTIA+, encarando desafios enormes e não sem custo para suas vidas pessoais.

Sem dúvida a rebelião de Stonewall inaugura uma nova fase no debate sobre o processo histórico de marginalização que essa população sempre enfrentou, historicamente. Stonewall teve o mérito de romper com a clandestinidade e pautar o movimento nas ruas Marsha P. Johnson e Silvia Rivera, duas mulheres trans, foram ícones do movimento e como verdadeiras heroínas, tiveram destaque nesse processo. Graças a elas e outros militantes, foi a partir do 28 de junho de 1969 que em boa parte do mundo ocidental o povo começou a sair às ruas transgredindo as normas estruturais e repressoras que produzem as mais variadas formas de exclusões social e violências.

No Brasil, as paradas que tardiamente acontecem desde a década de 1990 em várias cidades, tiveram um papel pedagógico ao interferirem diretamente no processo de empoderamento da população LGBTIA+ e na ocupação dos espaços públicos, e privados também, que ultrapassaram os antigos guetos. Pois antes das paradas, as bibas, travestis e sapatas socializavam em lugares fechados, quase clandestinos, bares e boates, também em praças e ruas (mas estas toleradas por serem marginais), os chamados guetos.

Hoje podemos afirmar que estamos em outro momento de disputa por reconhecimento de nossa cidadania, graças às caras que mostraram-se nas vias públicas em plena luz do dia nas paradas e marchas do 28 de Junho.

O Nuances surgiu em Porto Alegre em 1991. Se pensarmos nessas últimas três décadas, lembramos que até os anos 90 estávamos num lugar de margem, onde o tema ainda estava vinculado a percepções patologizantes. Porém não se enganem, a luta nunca termina e as batalhas que ganhamos não encerraram a guerra. Hoje a discussão sobre gênero, sobre os direitos humanos da população LGBTIA+, sobre os avanços que conquistamos, são vistos como ameaças e voltam ao debate trazidos por setores de extrema direita que estão no poder. Mas não tem nada, não. Essa reação obscurantista será enterrada pelas nossas vozes de luta, que nós e as novas gerações saberão defender com muita ousadia.

(*) Militante do Nuances

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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