Opinião
|
7 de junho de 2020
|
12:26

Bolsonaro e covid-19: uma fusão que envergonha e desonra o Brasil (por Deuinalom Fernando Cambanco)

Por
Sul 21
[email protected]
Bolsonaro e covid-19: uma fusão que envergonha e desonra o Brasil (por Deuinalom Fernando Cambanco)
Bolsonaro e covid-19: uma fusão que envergonha e desonra o Brasil (por Deuinalom Fernando Cambanco)
Foto: Marcos Correa/PR

Deuinalom Fernando Cambanco (*)

 O Brasil é hoje, de longe, o epicentro do coronavírus (covid-19) na América Latina, – tanto em termos de infecções assim como de vítimas mortais, de acordo com as últimas atualizações. No continente como um todo, a terra de “Vera Cruz” só fica atrás dos Estados Unidos de América, que, por sua vez, contam com aproximadamente dois milhões de infecções e um pouco mais de cem mil vítimas mortais resultantes da pandemia, de acordo com as fontes governamentais daquele país.

Números chocantes e extremamente preocupantes e que diariamente multiplicam devido à falta de uma política clara e engajada do Governo Federal e do seu líder, o presidente Jair Bolsonaro, para o enfrentamento e o combate ao surto, que, em conformidade com alguns especialistas, tende a fazer muito mais vítimas se nada diferente for feito. Contudo, o presidente continua com sua posição de ignorância e desdém a letalidade e os efeitos do vírus. O descaso do presidente e seu governo com a pandemia, infelizmente, está gerando impactos negativos para o país, sobretudo na seara internacional.

Ele, de fato, tem atrapalhado mais do que ajudado desde o início do surto no país, essa é opinião de especialistas, analistas e comentaristas de diferentes emissoras e de mais variadas tendências e backrounds. Tem se verificado, já há algum tempo, falta de aparelhos respiratórios, superlotação de leitos hospitalares entre outras situações e ele continua inerte e com a mesma convicção de que está se posicionando de maneira correta. Tem atacado a imprensa, incentivado aglomerações, participado de manifestações (consideradas pela oposição e boa parte da sociedade de antidemocráticas) e gerado crises desnecessárias no próprio governo, fazendo trocas na pasta da saúde em meio a todo esse cenário.

Nas últimas semanas o presidente tem batido diretamente de frente com alguns ministros de Supremo Tribunal Federal (STF) por conta de trocas e nomeações que realizou na Diretoria Geral da Polícia Federal, que ganharam eco com a demissão do então Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, um dos pilares do seu governo, com quem tem trocado acusações desde então. Movimentações que, de certa forma, acabam colocando fumaça, digamos assim, no que é prioridade hoje para a sociedade brasileira, o combate ao surto do novo coronavírus.

Essas suas atitudes, de seus ministros e de algumas individualidades no seu entorno, em meio a uma crise pandêmica dessa magnitude estão colocando o Brasil na margem das iniciativas globais e de fóruns multilaterais de cooperação, criadas com propósitos de congregar esforços para encontrar respostas para a problemática em questão. Aqui na sub-região (MERCOSUL) o país já está sendo até visto como perigo para a segurança nacional de seus pares, que têm intensificado a vigilância fronteiriça e impedido qualquer locomoção do Brasil para seus territórios.

Bolsonaro e os seus ministros (que ideologizam quase tudo), de todo modo, estão renunciando um papel histórico e tradicional do Brasil e de sua já consolidada política externa, o que, num curto prazo, custará muito ao país. Na contramão disso, alguns dos referidos países da sub-região, como Argentina, por exemplo… a Uruguai, Colômbia e outros não estão perdendo tempo e estão devidamente preenchendo esse vazio, com recentes participações em iniciativas e fóruns globais em busca das soluções para a atual crise.

O presidente, na verdade, a semelhança do seu “ídolo”, assim tratado por ele, o presidente norte americano, Donald Trump, tem se mostrado avesso ao multilateralismo e as iniciativas globais de cooperação; seu posicionamento em relação ao acordo de clima de Paris, por exemplo, que ameaçou abandonar no ano passado é um exemplo latente dessa mentalidade do presidente, além de algumas recentes iniciativas multilaterais recentemente levadas a cabo, com o Brasil fora da liça.

Primeiro delas, ocorrida no mês de abril, encabeçada pela OMS com objetivos de congregar sinergias para o desenvolvimento de uma vacina para o vírus – e, a segunda, ocorrida semana passada, desta vez encabeçada pela ONU para estabelecer estratégias para a reconstrução da economia global e que contou com países como: França, Alemanha, Canadá, Reino Unido e principais agências multilaterais como: Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial (BM).

As Relações Internacionais do Brasil, e em particular a sua Política Externa, está certamente experimentando um dos períodos de maior retrocesso, se não o maior, dado ao comportamento do presidente e de alguns dos seus ministros, entre os quais o atual chanceler, o senhor Ernesto Araújo, que prefere partir para a ideologização das ações exteriores do Brasil ao em vez de construção de diálogos e parcerias que de fato interessam e valham ao país; o Ministro da Educação, Abrham Weintraub e o de Meio Ambiente, Ricardo Salles, que têm rendido ao governo encrencas quase que diárias, entre outros.

Os impactos da irresponsabilidade do presidente e seu staff, podemos dizer assim, infelizmente serão muito fortes e abalarão todas as estruturas do país, sobretudo o setor econômico, que ele se diz constituir sua maior preocupação – a não ser que, daqui em diante, modere suas posturas e volte a dialogar de maneira responsável com todos as forças vivas da nação e a comunidade internacional – algo que parece pouco provável, tendo em conta a sua insensatez e seu radicalismo.

A esmagadora maioria dos líderes ao redor do globo tem se mostrado antagônicos ao covid-19, seguindo à risca as orientações de agentes da saúde e dos especialistas em particular, inclusive o Donald Trump, sua referência, menos o Bolsonaro. Suas atitudes perante esse fenômeno que fustiga a humanidade assustam. Sua inércia e sua negação a realidade dos fatos são de saltar os olhos. É um caso singular no mundo. Em minha opinião e para finalizar, pode-se afirmar hoje o seguinte: graças ao coronavírus e ao presidente Jair Bolsonaro (que praticamente atuam em estrita colaboração), por assim dizer, o Brasil vê sua honra e credibilidade questionada e posta em causa.

(*) Mestre em Relações Internacionais pela UFBA.

***

As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora