Suzana Vier*/São Paulo
O advogado da EDRB do Brasil Ltda, Rodolfo Vaccari Batista, negou na tarde desta sexta-feira (17) que a empresa estivesse buscando financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) e que tenha havido autorização para contato com a Capital Consultoria, de Israel Guerra, filho da ex-ministra da Casa Civil, Erenice Guerra. O autor das denúncias, Rubnei Quícoli, “nunca foi contratado da EDRB”.
“Ele (Quícoli) se apresentou como consultor autônomo no mercado e atende a várias empresas”, afirmou Batista. “Os donos (da EDRB) e inclusive a área jurídica da empresa não sabiam de pedido de financiamento ao BNDES nem de contatos feitos por Quícoli”, completou o advogado. “Fomos pegos de surpresa e estamos vivendo no meio de um furacão”, descreve.
Na prática, segundo o advogado, Quícoli “agiu por si próprio”, caso tenha procurado a Capital Consultoria. Nenhum encaminhamento nesse sentido teria sido autorizado pela EDRB.
Na edição de quinta-feira (16) do Jornal Nacional, Aldo Wagner, um dos proprietários da empresa, disse não ter concordado com “o pagamento de dinheiro” para a “empresa de intermediação”. Ele alegava não ter informação sobre comissão de 5% no processo de negociação.
A posição apresentada pelo advogado à Rede Brasil Atual é de que a EDRB não aceitaria a remuneração de consultores por não ter condições financeiras de atender à demanda. A comissão não foi apresentada como pedido de propina – “termo que nunca foi usado dentro da empresa”. Batista descarta qualquer informação sobre contatos com a Capital até a apresentação do contrato.
Segundo Batista, Quícoli se apresentou à empresa em 2009. Até então desconhecido, propôs buscar financiamento para uma central de energia solar no Nordeste. “Dissemos a ele: ‘pode buscar essas possibilidades’, mas ele nunca trouxe nada para ser analisado pelo jurídico da empresa”, alega. No momento da oferta, ele sequer mencionou que o pedido poderia envolver o BNDES.
Batista afirma que, se a empresa soubesse anteriormente do histórico de condenação e prisão de Quícoli por estelionato, ele mesmo teria vetado a contratação do consultor. “Ele nunca pontuou nada sobre essas denúncias”, defende-se. O último encontro de Quícoli com a empresa ocorreu entre fevereiro e março, cita o assessor jurídico.
Em relação a eventuais buscas por financiamento junto ao BNDES, o advogado afirma que, no passado, a empresa procurou informações a respeito por um instrumento chamado de consulta prévia. O mecanismo é adotado como padrão pelo banco, sem qualquer intermediário. A EDRB esbarrou na falta de garantias. “O projeto é grande, mas a empresa é pequena”, admite o advogado.
Segundo o representante da EDRB, os proprietários da empresa, Aldo Wagner e Marcelo M. Escarlassara, nunca foram filiados a partido político e “agora estão lutando para manter o bom nome da empresa”. “Não é fácil lidar com tudo isso, fomos pegos de surpresa e o esforço todo é para anter o bom nome que sempre tivemos”, aponta.
Sem prova
Rubnei Quícoli admitiu à reportagem de O Globo, na quinta-feira (16), que não tem como provar a autoria das mensagens eletrônicas apresentadas com o suposto pedido de propina pela Capital Consultoria, empresa desativada do filho da ex-ministra da Casa Civil. A denúncia do lobista é de que Israel havia prometido facilidades sob pagamento de 5% do valor total do recurso.
Quícoli informa que os emails foram trocados entre janeiro e fevereiro. Sem ver sucesso nas negociações, chegou a ameaçar levar o escândalo à imprensa. Nas mensagens, segundo O Globo, o empresário ameaça afirmando “Derrubo o Coutinho (Luciano Coutinho, presidente do BNDES)” e “Cabeças irão rolar”. Afirmou, sem mostrar documentos, que o dinheiro financiaria as campanhas à presidência de Dilma Rousseff (PT) e ao estado de Minas Gerais de Hélio Costa (PMDB).
PT processa
O presidente do PT, Eduardo Dutra, informou que vai entrar com três ações contra Quícoli. “Temos absoluta convicção de que eles estão tentando forjar a participação da campanha da Dilma nesse episódio. Estamos convictos de que ele está mentindo. Portanto estamos antecipando que vamos processá-lo. Se ele admite que não tem como provar, temos que processá-lo”.
Dutra lembrou que essa será a postura adotada sempre que houver qualquer tipo de difamação contra o partido ou algum de seus quadros. O PT vai sugerir abertura de inquérito na Polícia Federal para apurar a denúncia de doação, uma representação criminal perante a Justiça Federal e uma junto ao Ministério Público por calúnia e difamação. “Se houve armação para tentar conseguir liberação de recurso do BNDES, se alguém pediu dinheiro para a campanha, não foi com autorização”, completou o presidente do PT.