Coronavírus
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12 de fevereiro de 2022
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11:11

A pandemia não acabou: protocolos de segurança sanitária são fundamentais para combater o coronavírus

Por
Sul 21
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Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21

Em entrevista ao podcast da ADUFRGS-Sindical, sindicato que representa professores de Instituições Federais de Ensino Superior do Rio Grande Do Sul, a bióloga molecular Ana Beatriz Gorini da Veiga fez um alerta à comunidade acadêmica e à população em geral sobre a continuidade dos cuidados de prevenção e combate ao coronavírus, que implicam na vacinação, uso de máscara e álcool gel, distanciamento social e ambientes arejados.

Ana, que também é professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), realiza um estudo que trata de epidemiologia molecular do coronavírus SARS-CoV-2 no Rio Grande do Sul. Em março de 2020, Ana afirmou em uma aula pública promovida pela ADUFRGS-Sindical que “Não é a primeira e nem será a última epidemia”. Hoje médicos e cientistas alertam que a explosão de casos da variante Ômicron pode deflagrar um novo cenário com aumento de internações e de contaminados.

É correto afirmar que as variantes impactam diretamente na necessidade de realização de constantes estudos e pesquisas?

Ana Veiga: Há bastante tempo eu trabalho com infecções respiratórias virais fazendo um estudo de epidemiologia molecular de vírus respiratórios circulantes no Rio Grande do Sul em parceria com o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-RS). A vigilância epidemiológica mostra agora, vinculada a esses estudos genômicos e moleculares, o surgimento de variantes virais. Isso não apenas para o coronavírus, mas outros vírus respiratórios, principalmente os vírus de RNA como Influenza e outros que constantemente sofrem mutações em uma taxa bastante alta. 

Se o patógeno conseguir driblar o sistema imune do hospedeiro, aquela mutação vai estabilizar no genoma do patógeno. Isso é algo que acontece naturalmente. Portanto, é imprescindível essa vigilância constante, tanto do ponto de vista de atenção em saúde como no desenvolvimento de pesquisas. Na medida que sabemos como o vírus evolui fica mais fácil para propormos vacinas e antivirais para combater essas infecções. 

A boa notícia é que os cientistas já comprovaram que a vacinação diminui bastante o risco desses desdobramentos. Há uma correlação direta com o número de vacinados e a possibilidade do surgimento de novas variantes do vírus?

Ana Veiga: Sem dúvidas. Para os vírus sofrerem essas mutações eles precisam se replicar, ou seja, infectar uma pessoa. No momento que eu não estiver vacinada, a chance de eu transmitir o vírus para outra pessoa é muito maior. A vacina não evita que uma pessoa seja infectada, mas protege contra um quadro clínico mais grave. Podemos, inclusive, estarmos infectados e não termos sintomas. A imunização reduz o risco de transmissão do vírus. Mas pode acontecer de estarmos vacinados, infectados e ainda transmitir o vírus. 

Mesmo vacinados, se tivermos qualquer sintoma ou resultado positivo é necessário ficar em isolamento. Com a maioria da população vacinada, essa transmissão de uma pessoa para outra reduz muito, a circulação do vírus diminui e o surgimento de novas variantes também. O grande problema está nas pessoas antivacina que motivam a circulação do vírus e o surgimento de novas variantes. 

A bióloga molecular Ana Beatriz Gorini da Veiga foi entrevistada pelo podcast da ADUFRGS-Sindical. Foto: Reprodução 

Qual sua posição sobre a redução do período de quarentena?

Ana Veiga: A medida de reduzir o período de quarentena para 5 dias é um pouco arriscada, mas acho que foi uma tentativa de equilibrar os fatores que envolvem viver em sociedade. Isso não significa que depois de 5 ou 6 dias a pessoa ainda não esteja transmitindo o vírus. O indivíduo que estiver com sintomas pode sim transmitir o vírus até 7 ou 10 dias. Isso varia muito se a pessoa está vacinada ou não, se apresenta sintomas, se já tinha sintomas antes de testar positivo, ou se positivou mas estava assintomática, por exemplo.  

A vacinação ajuda, mas o número de casos de Covid provocados pela Ômicron é muito maior do que nas ondas anteriores. Ainda é imprescindível que sigamos sem aglomerar e isso reflete na volta às aulas?

Ana Veiga: A variante Ômicron transmite mais facilmente porque afeta principalmente as vias aéreas superiores. Apesar de não ser tão severa do ponto de vista clínico, porque não afeta tanto os pulmões, é mais transmissível.  Nas primeiras semanas de janeiro ultrapassamos patamares que tínhamos alcançado o ano passado com números exorbitantes de casos de contaminação e de óbitos. Existem hoje infecções em pessoas de várias faixas etárias, inclusive pacientes pediátricos.

As instituições federais de ensino superior estão retomando as atividades presenciais seguindo um calendário próprio definido pelas comissões de prevenção e enfrentamento à Covid-19. Como isso tem acontecido na UFCSPA?

Ana Veiga: Desde o início da pandemia, em 2020, a UFCSPA realiza reuniões diárias do nosso COE e as reuniões mensais do Consun onde são discutidos os protocolos de segurança sanitária e o retorno de algumas atividades práticas. Alguns cursos como Medicina e Enfermagem estão com atividades presenciais nos hospitais e postos de saúde desde o início de 2021.

A UFCSPA promoveu várias ações durante a pandemia como a fabricação de álcool gel, EPIs e a realização de testes para dar suporte a toda a vigilância epidemiológica do Estado e no desenvolvimento de projetos de pesquisa. Ao contrário do que muitas pessoas pensam que os universitários não tiveram aula durante a pandemia e ficaram em casa sem fazer nada e o professores e servidores públicos das universidades estiveram parados, todos nós trabalhamos muito no formato virtual e muitas pessoas atuaram diretamente nas ações de enfrentamento de forma prática e presencial. O ensino virtual nos exige o momento com o aluno e o preparo das aulas de forma duplicada e atendimento individual aos alunos por email, whatsapp, além de demandas administrativas, orientações aos alunos do mestrado, doutorado e iniciação científica. 

Atualmente, estamos discutindo o retorno às aulas presenciais na UFCSPA e acompanhamos o perfil de vacinação dos nossos acadêmicos. Para retomarmos as atividades presenciais, precisamos avaliar a saúde de todos. Em abril de 2022, iniciamos o primeiro semestre de 2022 e já teremos aulas práticas presenciais. Algumas aulas teóricas serão presenciais gradativamente. 

O retorno parcial das atividades presenciais tem sido uma logística muito difícil. Respeito, coleguismo e empatia tem sido fundamentais desde o início da pandemia.   

Professora, na sua opinião o passaporte vacinal é importante nas atividades presenciais?

Ana Veiga: Sim, principalmente em uma universidade que as pessoas trabalham diretamente com saúde. A vacinação é a melhor forma de evitarmos a transmissão viral. Não podemos entrar no clima dos grupos antivacina. O programa de vacinação no Brasil é modelo para o mundo inteiro. O Plano Nacional de Imunização, PNI, é referência para vários países, inclusive os mais desenvolvidos. 

Quais são as perspectivas daqui para frente em relação à pandemia de Covid-19?

Ana Veiga: Nesses dois anos de pandemia tivemos altos e baixos. No atual cenário, algumas pessoas acham que não há mais pandemia e relaxam no cuidado com os protocolos de segurança sanitária. Uso de máscara, higienização de mãos, manter o distanciamento social e evitar aglomerações são medidas comprovadamente eficazes para reduzir os riscos de contaminação. Temos visto jovens e adultos aglomerando-se em festas em ambientes fechados e poucos ventilados, sem usarem máscara, poucos se vacinam e isso colabora com o aumento das contaminações.

Tudo isso vai passar! Mas tudo depende como cada um de nós vai contribuir para cessar essa corrente de transmissão do vírus. Portanto, a vacinação e os cuidados sanitários são fundamentais para que parem de surgir essas novas variantes. Vai chegar um momento que o vírus vai se estabilizar. O genoma do vírus vai seguir evoluindo de forma lenta. Ao invés de cada mês surgir uma nova variante, vai ser a cada um ou dois anos, como é o caso da Influenza. 

Confira a íntegra da entrevista no podcast da ADUFRGS-Sindical, que foi ao ar nesta sexta-feira (11)


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