Coronavírus
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8 de julho de 2021
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15:34

Saúde orienta que todas as gestantes sejam imunizadas, mas rejeita combinar vacinas

Por
Sul 21
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O aumento brusco na mortalidade materna se deve, prioritariamente, à eclosão da pandemia de covid-19. Foto: Ricardo Marajó/SMCS
O aumento brusco na mortalidade materna se deve, prioritariamente, à eclosão da pandemia de covid-19. Foto: Ricardo Marajó/SMCS

Após reincluir grávidas e puérperas (mulheres no período pós-parto, de 45 dias) entre os grupos prioritários para receber a vacina contra a covid-19, o Ministério da Saúde anunciou nesta quinta-feira (8) que elas devem receber apenas os imunizantes da Pfizer ou da Sinovac/Butantan (CoronaVac e ButanVac).

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“Os imunizantes que podem ser utilizados em mulheres grávidas são os da Pfizer e da Coronavac. AstraZeneca e Janssen não”, disse o ministro Marcelo Queiroga ao fazer o anúncio.

A exceção à recomendação ministerial é para as grávidas e puérperas que já tenham recebido uma primeira dose da vacina da AstraZeneca. Nestes casos, o ciclo vacinal deve ser completado com a aplicação da segunda dose com o imunizante do mesmo fabricante, mas apenas após o puerpério

“Para as grávidas que tomaram a AstraZeneca, a orientação é a mesma: que após o puerpério seja feita a imunização com a mesma vacina e, com isso, completada a imunização”, disse o ministro, assegurando que, nestes casos, a vigilância sanitária será reforçada de forma a “monitorar a possibilidade de eventos tardios que, embora raros, podem acontecer.”

O ministério já tinha incluído grávidas e puérperas no Programa Nacional de Vacinação (PNI) no fim de abril deste ano, mas, em maio, a pasta recomendou a suspensão temporária da vacinação de gestantes sem comorbidades depois da morte de uma mulher que havia recebido uma dose da AstraZeneca, no Rio de Janeiro. Na ocasião, o ministério anunciou que acompanharia todas as gestantes que já tinham sido vacinadas a fim de verificar as reações aos imunizantes.

De acordo com o ministro, a decisão de retomar a vacinação de grávidas e puérperas levou em conta o elevado índice de mortalidade entre este grupo de mulheres, bem superior que o do restante da população, conforme assinalou o secretário nacional de Atenção Primária à Saúde, Raphael Câmara, sustentando os riscos de eventuais reações adversas superam os benefícios já comprovados das vacinas.

“Temos que pesar o risco benefício. Principalmente com a nova variante, a epidemia da covid-19 afetou as grávidas. Tanto que a letalidade [da doença] entre elas está em torno de 10%, enquanto entre a população geral é menor que 2%. Portanto, ao avaliarmos o custo benefício [de aplicar o imunizante], não há nenhuma discussão: é muito favorável o uso das vacinas nas grávidas de forma geral”, disse o secretário.

Um estudo realizado por pesquisadoras brasileiras, ainda em fase de preprint — não submetido a um periódico científico –, aponta que a letalidade da covid-19 entre mulheres grávidas no Brasil mais do que dobrou de 2020 para 2021. O levantamento aponta que, de março do ano passado até o período de conclusão do estudo (foi postado em 8 de maio deste ano), foram registrados 8.248 casos de Síndrome Aguda Respiratória Grave (SRAG), entre mulheres que testaram positivo para covid-19, isto é, que desenvolveram complicações respiratórias graves. Deste total, 803 vieram a falecer.

O ministério desautorizou a combinação de vacinas, a chamada intercambialidade – estratégia já adotada por alguns municípios, que, em alguns casos, aplicaram a primeira dose de uma vacina para, em seguida, utilizar, na mesma pessoa, o imunizante de outro fabricante.

“Os secretários estaduais e municipais de Saúde que, por acaso, queiram modificar as orientações do PNI não devem fazê-lo por conta própria. Devem fazê-lo após aprovação do grupo intergestor do PNI, apoiado pela Câmara Técnica. Claro que eles têm sua autonomia, mas não para mudar o cerne do que foi discutido na política tripartite”, disse Queiroga.

O anúncio do Ministério da Saúde ocorre no mesmo dia em que, em depoimento à CPI da Covid, a ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI) Francieli Fontana Fantinato defendeu que a imunização de gestantes que receberam a primeira dose da vacina AstraZeneca seja completada com outros imunizantes. Ela afirmou que o PNI chegou a emitir nota técnica recomendando a “intercambialidade” dos imunizantes em grávidas. “O benefício da vacinação é muito maior”, afirmou ela.

De acordo com Francieli , a pedido do ministro da Saúde, essa recomendação foi “rediscutida”. A decisão final, na ocasião, foi pela suspensão da imunização. O temor, segundo Francieli, era deixar “descobertas” cerca de 15 mil grávidas que já haviam recebido a primeira dose da AstraZenenca.

Diversas entidades e organizações da sociedade civil que atuam na defesa dos direitos das mulheres, como a Rede Feminista de Ginecologistas e Obstetras, vêm promovendo campanhas pela combinação de imunizantes argumentando, justamente, que mulheres que já receberam a primeira dose da AstraZeneca não podem esperar até 45 dias depois do parto para receber a segunda dose.

A cidade do Rio de Janeiro foi a primeira capital brasileira a autorizar, no fim de junho, que mulheres grávidas que receberam AstraZeneca pudessem completar o esquema vacinal com Pfizer. Resultados preliminares de estudos internacionais, citados pelo comitê científico do município na ocasião, indicam que a mistura das doses traz resultados eficazes contra o coronavírus.

*Com informações da Agência Brasil e da RBA


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