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2 de novembro de 2022
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13:11

Passageiro relata 41h em bloqueio bolsonarista em SC: ‘Parece coisa de extremista do Afeganistão’

Por
Luís Gomes
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Passageiros relatam que ônibus permaneceu em paradouro de Sombrio (SC) por cerca de 45 horas | Foto: Arquivo pessoal
Passageiros relatam que ônibus permaneceu em paradouro de Sombrio (SC) por cerca de 45 horas | Foto: Arquivo pessoal

Passageiros que embarcaram em um ônibus da empresa Santo Anjo em Porto Alegre no final da noite de domingo (30) em direção a Florianópolis relatam que ficaram 41 horas parados no município de Sombrio (SC) em razão de bloqueios na BR-101 causados por bolsonaristas que trancam as estradas. O ônibus foi liberado na noite terça-feira e chegou à capital catarinense somente às 2h desta quarta. Contudo, os passageiros alegam que, ao longo do dia, outros veículos que estavam parados foram sendo liberados e que eles permaneciam no local apenas por determinação de empresa. Eles agora estão se organizando para processar a companhia.

Em contato com a reportagem do Sul21, o passageiro Juliano Oster conta que saiu da rodoviária de Porto Alegre às 23h45 de domingo (30) em direção a Florianópolis, com previsão de chegada às 5h30 de segunda-feira. “Logo depois de entrar em Santa Catarina, a gente parou num paradouro que não é o usual, porque tinha barreiras na frente”, diz.

Juliano conta que o ônibus conseguiu passar a primeira barreira montada por bolsonaristas na BR-101, mas o ônibus alcançou um novo paradouro em Sombrio, por volta das 4h, e os motoristas preferiram não seguir viagem em razão das barreiras adiante. Permaneceram ali a segunda-feira inteira, dormiram no ônibus, e só deixaram o local às 21h de terça-feira (1º).

Ele afirma que a empresa de ônibus, a Santo Anjo, informou aos passageiros que a demora ocorreu em razão das barreiras. No entanto, relata que outros ônibus que estavam na mesma situação começaram a deixar o local ao longo da manhã e da tarde de terça-feira.

O ônibus em que estava, contudo, permaneceu no local durante todo o dia e a informação que os passageiros receberam, segundo Juliano, é de que a empresa estaria aguardando uma escolta da Polícia Rodoviária Estadual de Santa Catarina para seguir viagem. Segundo ele, os motoristas informaram que estavam apenas cumprindo ordens da empresa.

“A uma e meia da tarde foi dito que chegaria uma escolta para nos levar para o destino. Acontece que foi passando o tempo, foi passando o tempo, não vinha a escolta e os outros ônibus foram indo embora. Até que restaram só três ônibus, dois da nossa companhia e um de outra. O que nos foi passado é que o proprietário não ia deixar a gente ir sem escolta. Dizia ele que por preocupação com a nossa segurança”, relata.

Juliano diz que, em razão da demora para obter as respostas, os ânimos dos passageiros começaram a se exaltar, especialmente com a falta de informações por parte da empresa. Um dos passageiros acionou a polícia e, segundo relato de Juliano, os policiais que compareceram ao local informaram que, apesar dos bloqueios, era possível seguir viagem e que ônibus conseguiam passar as barreiras na BR-101 desde a virada de segunda para terça-feira.

“O policial disse: ‘vocês estão aí porque querem’. Ele usou esse termo, claro, para dizer que a companhia quis. Aí a gente começou a unir os pontos, a companhia não queria nos liberar ou por algum medo de danificar o ônibus ou justamente porque podem ter o rabo preso. A gente sabe que muitos empresários do transporte estão envolvidos com isso”, afirma.

Ele também diz que, posteriormente, os passageiros entraram em contato com a polícia rodoviária e foram informados que não houve nenhum pedido de escolta para o ônibus.

Na terça-feira, o governo de Santa Catarina divulgou uma nota informando que as forças de segurança pública do estado iriam realizar uma ação para resgatar mais de 70 ônibus do transporte público intermunicipal de passageiros que estavam presos há mais de 30 horas em razão os bloqueios. Estes ônibus levariam mais de 1 mil passageiros. A nota, no entanto, não informava de ações referentes a ônibus interestaduais.

Juliano conta que o ônibus só foi liberado, mesmo sem escolta, quando veículos de imprensa chegaram ao paradouro, por volta das 21h de terça. “Eu já estava discutindo com a empresa para ao menos eles nos darem um hotel, mas nem isso eles se dignaram. Nós estávamos sem banho desde domingo, sono precário”.

Ele conta que ainda passaram por barreiras que permaneciam nas estradas, mas sem bloquear totalmente o tráfego, e que os passageiros foram orientados a não interagir com os bolsonaristas.

“As orientações são bizarras, parece coisa de extremista do Afeganistão, não olhar pela janela, não fazer piadinha, não usar boné disso ou daquilo”, relata.

Ele conta que os passageiros estão se organizando em um grupo de WhatsApp para processar a empresa pelo episódio.

A reportagem do Sul21 tentou entrar em contato com a empresa Santo Anjo nesta quarta-feira (2), mas não obteve sucesso. O espaço está aberto para o posicionamento da empresa.


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