Eleições 2022
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1 de novembro de 2022
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11:57

Governo do RS reconhece que perdeu controle e promete liberar estradas hoje

Por
Flávio Ilha
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Gabinete de crise multidisciplinar reúne forças de segurança para definir medidas para desobstruir estradas | Foto: Nabor Goulart / Secom
Gabinete de crise multidisciplinar reúne forças de segurança para definir medidas para desobstruir estradas | Foto: Nabor Goulart / Secom

O governador Ranolfo Vieira Junior disse nesta terça-feira (1) que pretende retomar o controle sobre a situação das estradas federais e estaduais do Rio Grande Sul, bloqueadas por bolsonaristas que contestam o resultado das eleições de domingo (30), até o final da tarde. Após reunião do comitê de crise instalado pelo governo para enfrentar os bloqueios, Ranolfo admitiu que a força pública perdeu o controle sobre a situação.

“Quando são registrados bloqueios totais ou parciais em mais de 60 pontos do Estado, não há como dizer que a situação está sob controle. Isso ocorreu na tarde de segunda-feira. A partir das ações de hoje, vamos retomar o comando da situação imediatamente e até o final desta tarde esperamos que tudo se resolva”, declarou o governador. Uma nova reunião de avaliação foi convocada para as 18h.

A reunião teve a presença de várias forças policiais e de inteligência, incluindo representantes da Brigada Militar, das Polícias Federal e Civil, da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e dos Bombeiros, entre outras. Ranolfo explicou que o grupo identificou sete pontos “prioritários” que serão desobstruídas à força, se isso for necessário. Segundo o governador, a ordem é, em primeiro lugar, negociar com os bolsonaristas para, apenas num segundo momento, “agir legitimamente com a força pública”.

Até o final desta manhã, segundo balanço do comitês de crise, havia ainda 50 pontos de bloqueio em rodovias no estado. O ministro Alexandre de Moraes, do STF, autorizou o uso das polícias militares estaduais em estradas federais para desobstruir o que chamou de “movimento ilegal”. Na BR 116, em Novo Hamburgo, a Brigada Militar (BM) dispersou quem provocava bloqueio com bombas de gás e balas de borracha. Ninguém foi preso.

“As Polícias Militares dos estados possuem plenas atribuições constitucionais e legais para atuar em face desses ilícitos, independentemente do lugar em que ocorram, seja em espaços públicos e rodovias federais, estaduais ou municipais, com a adoção das medidas necessárias e suficientes, a critério das autoridades responsáveis dos Poderes Executivos Estaduais”, escreveu Moraes no seu despacho.

O comandante da Brigada Militar, coronel Cláudio dos Santos Feoli, disse que a corporação ocupou oito pontos estratégicos de rodovias estaduais nesta terça-feira para evitar novas interrupções. Segundo ele, os seis batalhões de choque da BM, compostos por cerca de 1 mil brigadianos, estão mobilizados para debelar qualquer manifestação ilegal. Na Refinaria Alberto Pasqualini, em Canoas, cerca de 80 homens da Brigada, da PRF e dos Bombeiros garantem a entrada e saída de caminhões de abastecimento. Segundo o governo, não há risco de desabastecimento de combustíveis neste momento.

Feoli negou que tenha havido demora da BM em agir para garantir o fluxo das estradas. “Desde domingo, estamos monitorando a situação e aplicando nosso protocolo de desobstrução, que indica em primeiro lugar a negociação para somente em último caso utilizar a força policial”, informou.

As rodovias estaduais que mais preocupam são as RS 122, em três pontos, e a RS 287, também em três locais. Depois, a RS 04 e a RS 118. De acordo com o comandante, todas as estradas estão liberadas – na RS 122, na altura de Araricá, houve resistência.

O secretário de segurança do Rio Grande do Sul, Vanius Cesar Santarosa, disse que o movimento de bloqueio não tem uma liderança declarada. Segundo ele, a orientação é para que os agentes de segurança identifiquem todos os manifestantes para a aplicação de multas – R$ 10 mil por hora para pessoas físicas e R$ 100 mil por hora para pessoas jurídicas, de acordo com determinação do STF.

Santarosa informou que até o momento foram feitos dez registros policiais, que darão origem a investigações criminais. O secretário disse que os bolsonaristas que estão bloqueando rodovias com árvores, areia e queima de pneus têm se mostrado “sensíveis” aos apelos da polícia para que a circulação seja normalizada.

A inteligência da secretaria, de acordo com Santarosa, identificou que a estratégias do movimento é manter os bloqueios ativos até a quarta-feira (2), quando seria iniciadas em frente a quartéis pedindo a aplicação do artigo 142 da Constituição, que supostamente justificaria uma intervenção militar em caso de fraude eleitoral. A hipótese não tem nenhuma base legal.

Um representante das Forças Armadas participou da reunião na condição de observador porque qualquer ação federal só pode ser autorizada por uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem), que é atribuição exclusiva do presidente da República.


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